A Comissão de Educação do Senado aprovou por unanimidade projeto de lei que define normas de proteção da língua portuguesa. Substitutivo ao proposto pela Câmara dos Deputados, determina que palavras ou expressões escritas em língua estrangeira e destinadas ao conhecimento do público no Brasil, deverão ser acrescidas dos termos correspondentes em língua portuguesa.
A proposta que será examinada em plenário é de autoria do senador Amir Lando, PMDB de Roraima. Se aprovada, a norma valerá para as relações comerciais, os meios de comunicação de massa, as mensagens publicitárias e informações afixadas no comércio em geral.
O texto do senador considera ainda obrigatório o uso da língua portuguesa nos documentos da Administração Pública direta, indireta e fundacional dirigidos ao conhecimento público, sendo que as palavras estrangeiras atualmente usadas em tais documentos deverão ser substituídas no prazo de um ano por equivalentes no idioma nacional.
Em São Sebastião do Paraíso, o Jornal do Sudoeste ouviu a opinião de profissionais ligados ao uso e emprego do português. Segundo o advogado e professor, Fábio Mirhib, a atitude do parlamentar é louvável. "Sabemos que tramita no Congresso Nacional um projeto do senador Amir Lando, no sentido de fazer com que sejam traduzidas ou aportuguezadas as palavras consideradas como estrangeirismo. Louvamos seriamente o desejo do nobre senador, que é nacionalista e patriótico, mas achamos que a tendência de um povo hegemônico, que está influenciando a civilização moderna é quase que irreversível, ficando muito difícil às nações emergentes escaparem dessa dominação cultural," opina.
Indignação
"Todavia, como professor de português e de latim, modéstia a parte, lutarei sempre pela conservação da nobre mensagem de Camões, aproveitando estas páginas do "JS" para contestar seriamente, uma notícia publicada nesse conceituado jornal, dando contas de que um renomado professor de uma universidade mineira está propugnando pela eliminação da gramática nos bancos escolares. Achamos isso um absurdo, e um belo dia, não muito distante, haverei de refutar seriamente essa barbaridade e essa temeridade cultural," observa Mirhib, professor de Língua Portuguesa, há mais de 40 anos.
Já a professora e doutora em língua portuguesa, Norma Aparecida Perroni Naves, acredita que o projeto de lei em nada impedirá o constante uso de palavras estrangeiras pelo povo no dia a dia. "Eu não sou a favor de proibições, eles até conseguiriam coibir o uso em documentos oficiais, mas não iriam coibir o uso na oralidade, na linguagem e a língua é viva e mutável. Nós não falamos hoje o português arcaico, porque o idioma vive de empréstimos, vive de inovações, ela despreza alguns termos, cria novos.
Acredito que a maneira mais eficaz é a valorização da própria cultura. Os brasileiros usam muitos termos estrangeiros, porque acreditam que é chique, que é elegante, principalmente nos grandes centros urbanos, como a Barra da Tijuca, no Rio, que mais parece uma cópia de Miami. Isso acaba causando um grande complexo de inferioridade, fazendo com que o povo passe a valorizar mais o que vem de fora do que as próprias origens. Outro erro comum que pode ser percebido nesse caso é a distância enorme que existe entre o povo e a elite que elabora as leis. Porque não tem nada a ver comigo, com a minha realidade, um estilo de vida como esse, não é o meu comportamento nem a minha cultura.
Eu acredito que ele realmente tenha razão no ponto em que esteja havendo um uso desmesurado de palavras estrangeiras, mas não acredito que seja com lei que tudo vai se resolver. Acredito que isso vai se resolver a partir do momento em que nós possamos refletir melhor sobre esse fato e tirar disso uma lição: a de que nós precisamos valorizar mais a nossa cultura, valorizar mais o nosso idioma que é a maravilhosa língua portuguesa, e encarar a nossa linguagem como uma amálgama de todas as culturas que nos ante-riorizaram. A língua é um elemento vivo e não há como coibi-la. Nós precisamos é valorizar os nossos costumes, nossos professores e o nosso País," concluiu a professora que leciona há mais de 25 anos, lembrando que é mestrada em Língua Portuguesa na Pontifícia Universidade Católica- PUC de Campinas e doutorada pela Universidade de São Paulo-USP.