COLETA DE SANGUE

Doadores e hospitais querem coleta de sangue em Paraíso

Por: Redação | Categoria: Saúde | 01-08-2004 00:00 | 684
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Delson Manbrini Ruiz de Oliveira é doador de sangue. A cada cinco meses vai até a cidade paulista de Ribeirão Preto para efetuar a coleta. “A gente sai muito cedo, ainda bem que ônibus é de graça, mas mesmo assim, é um pouco incômodo, cansativo. Às vezes perco um dia de trabalho Seria bem melhor se tivesse uma central de doação aqui”. A reclamação é unânime de todos os doadores paraisen-ses que, por falta do serviço no município, deslocam-se para as cidades vizinhas.
Mario Oliva Rocha, médico neurologista e diretor clínico da Santa Casa de Misericórdia há um ano e meio, afirma estar ciente da situação. “Nosso hospital atende a população de Arceburgo, Monte Santo de Minas, Itamoji, Jacuí, São Tomás de Aquino, Paraíso e Pratápolis.” –afirma – “O atendimento é muito grande, principalmente na parte de UTI e cirurgia. O sangue é um elemento vital muito importante tanto para as operações como para casos de hemorragias digestivas, que são muito freqüentes”, fala. 
Segundo afirma, a atual dificuldade é devida a Fundação Centyro de Hematologia e Hemoterapia de Minas Gerais, Hemominas, ter uma central em Passos, onde o processo de doação de sangue concentrou-se. “ Uma exigência desse órgão é fazer uma centralização nos municípios maiores. Com isso, os doadores das pequenas cidades vizinhas ao redor, têm que se locomover até lá”, diz.
Atualmente, o transporte dos doadores até Passos ou Ribeirão Preto é custeado pela Prefeitura. Muitos dos transportados, quando passam pela seleção e bateria de exames necessários para a doação, acabam sendo descartados. “De 10 pessoas doadoras, a Hemominas faz uma seleção. É observada a idade, o peso, existência de doenças infecciosas. Enfim, é feito um exame bem detalhado. Às vezes, desses 10 que foram, apenas 3 colhem sangue”, fala. 
A realização de provas para eliminar doenças infecto-contagiosas como AIDS, hepatites e sífilis são centralizadas em Passos e Ribeirão porque são caras. “Nós já sugerimos até fazer a coleta e encaminhar a bolsa de sangue. Só que, antes de fazer essa coleta, é preciso fazer esse exame detalhado. Se pudéssemos fazer essa bateria de testes aqui, ao invés de mandar as dez pessoas para lá, iriam apenas os três que podem doar. Mas a Hemominas não aceita isso. Essa é grande dificuldade”, comenta. 
Segundo afirma, há tempos que a Santa Casa luta pelo direito de fazer o exame clínico e a coleta em Paraíso. “Assim, só levaríamos para lá as bolsas, ou até mesmo só os doadores aprovados na seleção”, aponta. O médico neurologista acrescenta ainda ser uma possibilidade remota ter uma micro-central aqui em Paraíso, devido aos custos que acarretariam ao Hemo-minas. “Por isso, buscamos outras alternativas para resolver o problema,” justifica. 
Em Paraíso, só há o serviço de transfusão de sangue, onde as bolsas trazidas de Passos são armazenadas em local adequado e utilizadas de acordo com a necessidade. Para a instalação do serviço de triagem ou até mesmo da coleta, são necessário grandes investimentos. “Para ter o banco de sangue e fazer os exames é preciso um equipamento que custa uma grande fortuna e um pessoal especializado,” diz. 
“Faz tempo que a gente está querendo fazer isso, tirar o sangue aqui e levar para lá. Mas, precisamos do apoio da população e das autoridades. Em Ribeirão Preto, existe o Hemo-centro, um prédio muito grande com infraestrutura imensa. – “Mas, em Sertãozinho, que fica a 20 km, existe um sistema domiciliar de coleta. A Prefeitura identifica os doadores e uma equipe vai de Kombi fazer o coleta em casa. A pessoa nem sequer se desloca a um Pronto Socorro.”
Segundo afirma, se em Minas, houvesse a mesma iniciativa, o número de doadores aumentaria consideravelmente. “Só que isso tem que partir de cima, da Secretaria de Estado de Saúde – SES. Nosso hospital já passou a ser regional e tem condições de oferecer esse serviço. A Diretoria de Saúde já se pron-tificou a pagar um profissional, treiná-lo em Belo Horizonte para fazer esse trabalho de seleção aqui em Paraíso. O incentivo mu-nicipal já ajuda. Mas é lá em cima que foi bloqueado,” salienta. 
O diretor clínico reitera a importância da comunidade se manifestar contrária a situação atual, a fim de mobilizar a SES e acrescenta estar empenhado em buscar soluções. “Esta-mos estudando esse fato de Sertãozinho para ver se pode ser aplicado em Paraíso. Porque a transfusão de fato já existe e funciona. Então porque não fazer a seleção aqui?”, finaliza Rocha.

Como pólo regional, Paraíso reivindica um núcleo da Hemominas
Recentemente, o Jornal do Sudoeste em editorial sob título “Uma inadimissível dependência”, abordou o crescente aumento no atendimento de hospitais e pronto-socorros de Paraíso a pacientes de toda a região. Salientou as dificuldades encontradas por familiares de pacientes em encontrar doadores, os deslocamento de quem se habilita a doar sangue até o Hemo-minas, em Passos que atende somente de segunda à sexta-feira, além de outros percalços, de vez que a maioria são empregados, e isto lhes tem trazido problemas junto às empresas. 
O “JS” lembrou ainda que estão em andamento a construção do Hospital do Coração, na Santa Casa, e o setor onco-lógico no Sagrado Coração, o que irá aumentar ainda mais a demanda. Em resposta ao editorial, o médico e deputado Rêmolo Aloise, vice-presidente da Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais entende como válido o ponto de vista do Jornal do Sudoeste e que “não se pode mesmo ficar à mercê do Hemo-minas de Passos. É preciso a união de esforços para a implantação de uma unidade em Paraíso.
Ligado ao setor de saúde no qual teve boa parte dos votos que o conduziu à Câmara Municipal, o vereador Valdeci Amorim de Lima teve como bandeira política conseguir implantar o Hemominas em Paraíso. Por conta disso esteve algumas vezes em Belo Horizonte, numa delas acompanhado pela prefeita Marilda Melles.
Em abril passado num ofício à Câmara Municipal de Paraíso e, em especial o vereador Valdeci Amorim, a presidente daquele órgão, Anna Bárbara de Freitas Carneiro Proietti justificou que “o núcleo regional de Passos, situado a cerca de 55 quilômetros de Paraíso, tem suprido a contento a demanda de sangue e componentes para os hospitais do município e região”. Sendo assim, conforme esclarece, “não se justifica tecnicamente a instalação de nova unidade, de acordo com as normas do Ministério da Saúde”.
Proietti ressaltou existir um projeto para “futura coleta externa em todos os municípios, já tendo inclusive solicitado recursos ao Ministério da Saúde para viabilização”. Em telefonema ao Jornal do Sudoeste o deputado Rêmolo Aloise assegurou que de sua parte garante a implantação de uma unidade da Hemo-minas em Paraíso, desde que haja a estrutura física para isso.
O diretor geral da Prefeitura, Antonio Carlos Arantes, salientou que a prefeita Marilda Melles tem demonstrado interesse nesse sentido, tanto é que acompanhou o vereador Valdeci Amorim a Belo Horizonte.
Informado sobre o posicionamento do deputado Reminho Aloise, Arantes entende “não ser tão complicado instalar a parte física propriamente dita”. Salienta a existência de “limitações financeiras” por parte da Prefeitura, no entanto dado a importância que representa para o município e região uma unidade da Hemominas, “certamente a Prefeitura é uma parceira, e do que depender em termo de parte física não vejo dificuldade em se viabilizar”, conclui Arantes.