O ano era 2001. Peter Sauber deu de ombros às críticas por contratar um tal Kimi Raikkonen aos 21 anos sem experiência no automobilismo. Tudo que este finlandês que até hoje é difícil arrancar mais que meia dúzia de palavras havia feito nas categorias de base era apenas uma temporada na F-Renault britânica – 10 corridas –, onde conquistou o título em 2000.
Cercado de desconfiança, Raikkonen passou a temporada de estreia sob observação da Federação Internacional de Automobilismo, mas no final justificou a aposta de Peter Sauber. No ano seguinte já estava na McLaren e em 2007 sagrou-se campeão pela Ferrari – desde então é o último piloto a ganhar um campeonato pela escuderia italiana.
Raikkonen está de volta à Sauber. Prestes a completar 39 anos, assinou contrato de dois anos. Quando a Fórmula 1 chegou a Monza e a Ferrari não confirmou a extensão de seu contrato foi a senha de que o finlandês estava fora dos planos da escuderia. O jovem monegasco, Charles Leclerc que faz notável temporada de estreia pela Sauber, e é piloto da academia da Ferrari, será o companheiro de Sebastian Vettel em 2019.
É uma aposta que tem tudo para dar certo. Leclerc mostrou nas categorias de base e nos 14 GPs de Formula 1 ser um piloto com futuro promissor. E ainda que o desejo de Vettel fosse a permanência de Raikkonen como companheiro de equipe, a vinda de Leclerc serve de alerta para o alemão que está sob enorme pressão por não conseguir tirar proveito do bom carro que tem diante da Mercedes de Hamilton e Bottas.
Se no ano passado causou surpresa a permanência de Raikkonen na Ferrari pelos desempenhos abaixo da crítica, nesta temporada o “Homem de Gelo” vem fazendo por merecer continuar na Fórmula 1, ainda que pela Sauber que se por um lado está longe de brigar pelas primeiras posições, é inegável o salto de qualidade que a equipe deu nesta temporada, o que tende a evoluir no ano que vem com a reestruturação que está sendo feita no departamento técnico da equipe e com a volta de um piloto com a bagagem que Kimi Raikkonen trás. Ficou de bom tamanho para as duas equipes.
O GP noturno de Singapura neste final de semana está sendo uma prova de fogo para Vettel. O alemão está 30 pontos atrás de Lewis Hamilton e depois vão faltar apenas seis corridas para o final da temporada.
No ano passado era a Ferrari que tinha equipamento inferior ao da Mercedes e o circuito urbano de Marina Bay era o ideal para Vettel retomar a liderança do campeonato, mas o alemão fez uma largada desastrada e Hamilton venceu e ampliou a vantagem no campeonato que ele conquistaria por antecipação no México.
A história hoje é diferente. Por não ter a mesma potência do motor e nem o carro tão equilibrado como o da Ferrari, é a Mercedes que corre como franca atiradora numa disputa em que a Red Bull também tem boas chances de lutar pela vitória já que a potência do motor conta menos que a eficiência do chassi.
Se Vettel não reagir em Singapura, e Hamilton ampliar a liderança na tabela de classificação, a situação do alemão vai se complicar bastante no campeonato. A imprensa italiana já começa a perder a paciência com Vettel e apesar do impasse jurídico que tentava anular o contrato que Leclerc havia assinado antes da morte do ex-presidente da Ferrari, Sergio Marchionne, para a permanência de Raikkonen, eu não descarto uma certa desconfiança dos atuais dirigentes da escuderia em Vettel por conta de seus erros. No fiel da balança é possível que isso tenha sido levado em conta na hora de decidir entre ficar com Raikkonen, ou promover Leclerc.
Tem coisa errada
Quando um piloto talentoso como Esteban Ocon, da Force India, corre o risco de ficar à pé no ano que vem por falta de vaga é porque tem alguma coisa errada na Fórmula 1.