Não se tira os méritos de um piloto como Sebastian Vettel. Ninguém é campeão por acaso na Fórmula 1, muito menos tetra. Mas o Vettel da Ferrari não contrasta com aquele que fez história na Red Bull quando enfileirou quatro campeonatos seguidos de 2010 a 2013. Mas no meio de todo o barulho que se fazia em cima do então garoto prodígio, surge um Fernando Alonso, áspero como sempre, a dizer que o alemão só vencia porque dispunha de um carro muito superior aos dos adversários, e “vamos ver quando ele não tiver um carro tão bom”, profetizou.
Os anos passaram e coincidência ou não, Vettel não conquistou nenhum outro título. Na primeira vez que encontrou um adversário mais forte dentro da mesma equipe, perdeu a disputa para Daniel Ricciardo, em 2014, quando a Fórmula 1 passou pela grande mudança dos motores aspirados V8 pelos atuais V6 turbo híbridos. E sem querer dar a cara à tapa, Vettel deixou a equipe austríaca e se mandou para a Ferrari no lugar do próprio Alonso, em 2015.
Mas lá se vão quatro anos de Ferrari e a profecia de Alonso vai se concretizando. Parece que falta a Vettel o sangue frio daquele que sempre foi sua inspiração como piloto: Michael Schumacher.
Isso pode ser medido através da superioridade de Hamilton que tem revelado o lado fraco de Vettel que mais uma vez não suportou a pressão de carregar o peso de defender uma equipe como a Ferrari que não vence um campeonato desde 2007, com Raikkonen.
A coleção de erros do alemão nesta temporada passa pela desastrada relargada no Azerbaijão quando perdeu o ponto de freada e jogou fora uma vitória que parecia sua; o toque em Bottas na primeira volta do GP da França; a perda de três posições no grid do GP da Áustria por ter atrapalhado Carlos Sainz; a escapada de pista, sozinho, na Alemanha quando era líder e teve que abandonar a prova; o toque em Hamilton na primeira volta do GP da Itália, caindo para o fundo do pelotão; o toque com Verstappen, no Japão, que o fez também cair para as últimas posições, assim como em outro toque, desta vez com Daniel Ricciardo, nos Estados Unidos, antes de novamente perder três posições no grid por não ter reduzido a velocidade sob bandeira vermelha no treino de sexta-feira, sugere que além da pressão, pode haver outro fator como pano de fundo interferindo em seu desempenho.
O próprio Vettel já havia dito que procurou ajuda (sem mencionar o motivo), mas não encontrou ninguém que pudesse torná-lo mais forte.
Há certos momentos que podem ser vistos como divisor de águas. Tomo como exemplo Felipe Massa. Embora eu respeite todas as opiniões, jamais compartilhei a ideia de que a mola que atingiu sua cabeça, em Hungaroring, fosse a causa da queda de desempenho que enfrentou na Ferrari depois do acidente. Em minha modesta opinião, não foi nem a ordem de equipe para deixar Alonso vencer o GP da Alemanha de 2010 a interferência em seu desempenho, e sim a ultrapassagem que levou do espanhol na entrada dos boxes no GP da China. Ali foi o divisor de águas que mexeu como o psicológico de Massa.
No caso de Vettel, a batida no GP da Alemanha, entregando a vitória para Hamilton que havia largado de 14º, parece ter sido o baque que o desestabilizou nesta temporada, e por consequência tornou a tarefa de Hamilton menos difícil numa temporada em que o piloto da Mercedes foi irretocável na conquista do pentacampeonato.
Mas uma coisa ficará marcada nesta temporada: o abraço de Vettel em Hamilton reconhecendo a superioridade do adversário.
Perguntado por David Coulthard onde havia perdido o campeonato, Vettel interrompeu a entrevista dos três primeiros colocados do GP do México e disse: “Não posso te responder agora, preciso cumprimentar Lewis pela conquista”. Gesto bacana de quem sabe como ninguém o quanto é difícil ganhar e perder na Fórmula 1.