ELY VIEITEZ LISBOA

A controversa família moderna

Por: Ely VIeitez Lisboa | Categoria: Educação | 10-11-2018 00:04 | 1095
Foto: Reprodução

A síndrome é evidente, com sintomas muito claros: a família moderna desintegra-se, por variadas causas. É perda de tempo acusar os possíveis vilões da história: a televisão, a Internet, o materialismo, a total inversão de valores, a decadência cultural, a obsessiva teima do homem moderno de ignorar a sabedoria milenar grega: "In medio virtus", a procura do equilíbrio, do bom senso. Vive-se, hoje, mais do que nunca a caça às emoções fortes, o culto à adrenalina, às sensações novas, nem que sejam estimuladas pelo álcool, que começa a ser ingerido, cada vez mais cedo, as drogas, o sexo casual, transformado em simples ato fisiológico, fazendo do homem um refém dos instintos. E as consequências são assustadoras e crescentes: a violência, as doenças sexualmente transmissíveis, a gravidez precoce, a total inconseqüência dos atos.

É impossível detectar a causa maior das desgraças modernas, na tentativa de compreender esse malfadado século 21. É matéria complexa para grandes obras, ensaios, congressos. Podemos, no entanto, citar um dos problemas que pode ser o início da queda, da desagregação, e pior, com seque-las em um futuro próximo. Poder-se-ia batizar esse perigo, que medra nas famílias, como um perigoso ovo de serpente: é a infantocracia, se me permitem o neologismo. Desapareceu a hierarquia familiar, passou-se dos pais autoritários, em exagero, para uma ausência total de responsabilidade e mando. Pai e mãe, hoje, são funções obsoletas, meros provedores que perderam a autoridade, em nome de valores discutíveis, como a liberdade dos filhos, seus direitos de escolha, ausência total da necessidade de obedecer. Os jovens, principalmente, acreditam mais na "sabedoria" do Grupo, dos amigos, da turma, não se lembrando que os companheiros também estão tão perdidos e inseguros, como eles mesmos.

Na tenra infância é quando começa a infanto-cracia: quem manda são as crianças, tudo é feito como elas querem, não existem proibições, regras, limites, apenas o argumento irrefutável dos pequenos tiranos: EU QUERO. E os pais, agora vassalos, obedecem, tentam, às vezes retrucar fragilmente, mas vence sempre a Nova Ordem estabelecida: na casa de todos amigos é assim.

Se acham exagero, vejam a nova geração da última década, as crianças de hoje. O que assusta é o resultado, em um futuro muito próximo, porque eles serão os adultos de amanhã.  Que estranho ser surgirá quando se romper o ovo da serpente?

(*)Ely Vieitez Lisboa é escritora.
E-mail: elyvieitez@uol.com.br