Uma das noções mais importantes para a compreensão das pessoas, para o bom relacionamento com elas, e mesmo para facilitar nossa caminhada na Terra, é a de que estamos em estágios evolutivos diferentes.
Vamos aclarar essa ideia com um exemplo. Suponhamos que um avião, com duzentas pessoas a bordo, seja forçado a aterrissar em uma ilha isolada do mundo. Bem recebidas pelos nativos, elas logo percebem que não contam mais com determinada posição social, riqueza, nem mesmo com os diplomas que tinham, porque estão entre selvagens, sem comunicação com o mundo civilizado. Como se, de repente, tivessem que despojar-se de tudo: suas roupas, seus documentos, até mesmo de seus nomes, perfilando-se lado a lado como simples companheiros de jornada.
E, no entanto, logo as diferenças começam a aparecer! O médico se interessará pelas doenças que ocorrem naquela região, procurará conhecer os medicamentos que eles usam, porque esse é seu modo de ser, mesmo que o diploma tenha ficado pendurado em uma parede distante. Da mesma forma, o político, o religioso, o desportista. Suas qualidades morais também logo vêm à tona, porque são parte integrante de sua personalidade, de seu modo de ser.
Transpondo essa ideia para o mundo em que vivemos (que com toda razão pode ser considerado uma ilha, porque nada mais é do que uma bola girando no espaço, entre bilhões de outras!), é fácil observar que as pessoas nascem diferentes. Tem gente que é boa desde criança: bebê bem comportado, filho compreensivo, bom pai, ótimo cidadão. O bem, os bons hábitos, a ética, a moral elevada parece que já vieram impregnados nele, não servindo a educação senão para polir tudo isso. O reverso da medalha também acontece: pessoas custosas desde o berço, que já nascem, por assim dizer, beliscando a enfermeira!
Mesmo entre casais, as diferenças de estágio não são raras, parecendo que um fala inglês e o outro russo! Enquanto um é voltado para o estudo, para a reflexão, para o desejo de aprimoramento moral e intelectual, o outro gosta mais do que é físico, grosseiro, material. Nesses casos, se não houver muito boa vontade dos dois lados, cada um cedendo um pouquinho, a convivência logo se tornará impossível.
As aptidões com que nascemos, para a música, a pintura, a literatura, a própria genialidade, parecem demonstrar que já vivemos em outras eras, onde as cultivamos. Do contrário, seria a suprema injustiça do Criador distribuir dons sem nenhum critério (pelo menos aparente), indiferente ao fato de que dessas sementes brotarão o artista, o grande escritor, o inventor brilhante, e também o pouco inteligente, o medíocre, o idiota...
No nosso dia-a-dia encontramos pessoas, independentemente de seu grau de instrução acadêmica, com as quais o diálogo flui, as ideias combinam, até os gostos são parecidos... O que indica isso, senão que estamos no mesmo estágio, no mesmo degrau da escada infinita? E como não nos sentirmos pequenos diante de São Francisco de Assis, moço ainda, usando uma simples túnica de tecido grosso e cuidando com o maior carinho dos hansenianos?
Na grande multidão de habitantes desse planeta existem pessoas de todos os tipos, de todas as tendências, variando da bondade mais pura até a crueldade extrema, da inteligência mais límpida até a mais completa burrice. Formamos, por assim dizer, uma grande escola onde as classes não são separadas, justamente para que os fortes auxiliem os fracos, os inteligentes ajudem a esclarecer os menos dotados e a bondade de alguns sirva de exemplo para os de índole má.