POLEPOSITON

‘Primeiro encontro’ e já voou pena

Por: Sérgio Magalhães | Categoria: Esporte | 20-01-2019 08:11 | 4194
Batida proposital de Nelsinho mudou os rumos do campeonato de 2008
Batida proposital de Nelsinho mudou os rumos do campeonato de 2008 Foto: Getty Images

Bastaram duas corridas - ou melhor: o ‘primeiro encontro’ na pista entre  Nelsinho Piquet e Felipe Massa, na segunda etapa da Fórmula E, em Marrakech,  no Marrocos, e já voou pena. Massa se dirigia lento para os boxes durante o treino livre com problemas técnicos em seu carro e involuntariamente atrapalhou a volta de Nelsinho que quase acertou a traseira do carro do compatriota. Pelo rádio, Nelsinho chamou Massa de “amador ridículo”. A resposta de Felipe veio no mesmo tom: “ele não é o melhor exemplo”.

Para entender a rixa entre os dois é preciso voltar um pouco no tempo.

GP de Singapura de 2008. Pela primeira vez a Fórmula 1 estava na cidade-estado, num circuito de rua e com a novidade de ser a primeira corrida noturna da categoria. Nelsinho vivia um momento delicado na Renault, sob enorme pressão e ameaçado pelo então chefe da equipe, Flavio Briatore, de perder o emprego. Britadore é um dos sujeitos mais perversos que já passou pela Fórmula 1 e orquestrou um plano maquiavélico vislumbrando vencer a corrida aproveitando da oportunidade de ser uma pista travada e desconhecida por todos. Para isso obrigou Piquet a bater de propósito para ajudar Fernando Alonso vencer a prova.

Massa estava na pole position, com Lewis Hamilton em segundo. Os dois eram os protagonistas da luta pelo título daquele ano. Mais atrás no grid, no meio do pelotão, estava as duas Renault, com Alonso em 15º e Piquet em 16º. Em condições normais de corrida era improvável uma vitória da Renault naquele ano.

Na 13ª volta Alonso foi o primeiro a parar nos boxes para a troca de pneus e reabastecimento. Duas voltas depois, Nelsinho executou o plano e bateu forte no muro,  provocando a entrada do safety car na pista. Neste momento, a maioria dos pilotos foram para os boxes, e na correria para manter a liderança, Massa arrancou com a mangueira de reabastecimento presa ao carro. Foi um erro da Ferrari que liberou o piloto de volta à pista antes de completar o reabastecimento.

O plano macabro de Briatore foi cumprido à risca. Alonso chegou à liderança da prova e venceu. E no caos que se deu, Hamilton terminou  em 3º e Massa não pontuou.

O jogo sujo de Briatore, apoiado pelo diretor-técnico, Pat Symonds, e executado por Nelsinho, mudou os rumos daquele campeonato. Na última corrida do ano, em Interlagos, Massa perdeu o título para Hamilton por um ponto. Como era o líder do GP de Singapura até a batida proposital de Nelsinho, se tivesse pontuado seria o campeão.

Um ano depois, quando o caso veio à tona, Massa ficou inconformado e tomou mágoa de Nelsinho, a quem não perdoa por ter perdido o campeonato por uma armação da qual acabou sendo o grande prejudicado.

O desfecho da história foi a expulsão de Briatore da Fórmula 1 (até hoje ele não pode exercer nenhum cargo na categoria), a suspensão de cinco anos de Pat Symonds, o fim do sonho da Fórmula 1 para Nelsinho, e uma inimizade com Massa que está longe de ter um fim e novos capítulos da rivalidade estão por vir agora que os dois voltaram a se encontrar numa mesma categoria.