O presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de São Sebastião do Paraíso (Sempre), Rildo Domingos, ocupou a tribuna da Câmara Municipal na noite de segunda-feira (4/2), onde falou sobre os motivos que levaram os servidores a deflagrar greve da categoria. Segundo ele, o principal é o atraso no pagamento do salário do servidor, que ainda tem a folha de dezembro parcialmente paga e não recebeu o referente a janeiro, que vence esta semana. Ele propôs ainda a criação que um gabinete unindo os três poderes e representantes da sociedade civil na busca de solução pela crise enfrentada pelo município.
Rildo disse que a categoria não quer prejudicar os serviços ofertados para a população, mas que desde outubro os servidores vêm sendo prejudicados, pagando juros sobre contas vencidas e sofrendo constrangimentos. "Não queremos causar transtornos à população, mas a greve é única ferramenta que nós temos", disse. Segundo ele 30% dos servidores devem manter o atendimento da UPA, assim como a farmácia municipal e almoxarifado da saúde. Rildo disse ainda que já havia pedido medidas enérgicas para combater a situação, sugerindo a criação de um "gabinete de enfrentamento da crise".
Esse gabinete, segundo ele, reuniria membros do Poder Legislativo, Poder Executivo e Judiciário , Sindicato e membros da sociedade, para que pudesse discutir e tentar buscar uma solução para o problema. "Não suportamos mais essa situação; o servidor público não tem mais crédito na cidade, não podemos mais fazer um empréstimo consignado; não podemos mais fazer empréstimo pessoal e precisamos recorrer a parentes para conseguir pagar nossas contas; isso já não dá mais e estamos além do nosso limite. Pedimos a criação desse gabinete de enfrentamento da crise para vermos onde está o problema", disse.
O presidente do Sempre agradeceu ainda a ajuda da Câmara Municipal na devolução de duodécimos e, segundo ele, caso não fosse isto a situação estaria ainda pior para o servidor. "A situação está piorando, pedimos uma intervenção. Não podemos estar à mercê de repasses do governo do Estado. Isso é inaceitável para uma cidade igual a nossa. Pedimos que nos ajudem esta questão", disse.
O vereador José Luiz das Graças fez duras críticas a gestão municipal e disse que o Poder Legislativo tem suas ferramentas para combater uma "administração ineficiente". O vereador Vinício Scarano também comentou a situação da greve e destacou que esteve presente em quase todos os atos realizados pelo Sempre; comentou também a situação que a gestão anterior do Governo de Minas deixou o estado, mas que isso já não pode mais ser usado de justificativa para atrasos no pagamento do servidor.
"Esses atrasos são inaceitáveis. Eu tenho feito visitas às creches e já me deparei com servidores fazendo vaquinha para comprar materiais básicos para manter a escola. É um absurdo, sem contar a estrutura que poderia estar melhor. Peço que o prefeito olhe para a situação com carinho e tenho certeza que ele não quer deixar o servidor sem pagamento", disse Scarano.
Após manifestações de apoio aos servidores por parte dos demais vereadores, Cidinha Cerize e Marcelo de Morais falaram sobre a questão de Paraíso em relação a outros municípios. Cidinha ressaltou que na região nenhum servidor enfrenta problema com seu pagamento e que, quando a atual gestão assumiu, ela estava ciente da dívida que seria herdada e que deveria ter sido feito um planejamento e um choque de gestão.
Marcelo fez o uso da palavra e o clima ficou pesado após ele fazer duras críticas a gestão municipal e ao Sempre. Morais também confrontou Rildo, dizendo que "o sindicato está muito bonzinho" e que vereadores nunca foram chamados para participar de reuniões que aconteciam entre Sindicato e Prefeitura.
Rildo discordou de Morais em relação ao "sindicato não convidar vereadores para as reuniões. "No final do ano passado nos reunimos com cinco vereadores e o senhor não estava presente porque estava dando aula. Ficou acertado com o Executivo que as reuniões de pauta os vereadores seriam convidados. Posicionei-me nesta Casa de que quando houvesse essas reuniões e o Executivo não convidasse, o Sempre estaria convidando. Quero esclarecer que, depois daquela data, não houve outra reunião", defendeu.
O presidente do Sempre ainda demonstrou sua insatisfação ao ouvir que o "sindicato é bonzinho". "Convocamos uma greve geral da categoria com aproximadamente 200 pessoas. Elas levantaram a mão e se prontificaram a trabalhar e, naquela oportunidade, quatro pessoas apenas se prontificaram a integrar o comamando de greve. Uma greve é o último recurso e fizemos isso a partir do que a assembleia deliberou. O Sindicato cumpriu a sua obrigação, deu voz e oportunidade aos servidores públicos, não nos omitimos a nossa responsabilidade. Hoje visitamos vários setores, mas poucos tiveram a coragem de enfrentar o Executivo. Eu disse no dia da assembleia que greve é responsabilidade, não é só apenas levantar a mão para deflagrar. Levanta a mão é fácil, jogar a responsabilidade na mão de diretores do sindicato também é muito fácil. O problema é participar, atuar", disse.
Ainda, de acordo com Rildo há quatro meses tem sido feitas reuniões setoriais e foram criadas comissões na busca por conscientizar os servidores. "Ficamos do dia 10 a 25 de janeiro tendo reuniões todos os dias. Em uma dessas reuniões havia dois, outro dia quatro, outro dia 30, outro dia nenhum servidor. Nós não esmorecemos e em todas as reuniões dizíamos que tínhamos que nos unir e nos pautar pelos nossos direitos. Nós não nos acovardamos, nós não estamos sendo bonzinhos, estamos nos pautando pela legalidade".
Rildo disse que a greve foi deflagrada por cerca de 200 servidores, mas nem 50 chegaram a trabalhar pelo movimento na segunda. Ainda, de acordo com o presidente do Sempre, vários setores quiseram aderir ao movimento, todavia segundo ele o Supremo Tribunal Federal tem se mobilizado para inviabilizar a greve no serviço público. "Alguns servidores receberam parte do seu salário e esses legalmente não podem entrar em greve pelo atraso salarial porque receberam parte. A questão é mais delicada do que pensamos e temos que nos unir. É preciso ação, fiscalização. Onde estar o gargalo que não consegue se pagar o servidor", questionou.
O presidente do Sempre voltou a agradeceu o apoio da Câmara, mas disse que é preciso solução. "Vocês têm uma solução? Então apresentem para a gente porque nós queremos receber, nossas contas estão atrasadas, há servidores que não têm o que comer. O que precisamos a fazer para isso acabar", questionou. Rildo disse ainda que é preciso algo prático e que sabe que a situação pode vir a melhor nesse começo de ano, mas questiona até quando situação será levada desta maneira.
Após longo debate, o presidente do Sempre voltou a falar da necessidade de um gabinete de enfrentamento a crise. "Uma vez reunido Legislativo, Executivo, Judiciário, Sindicato e representantes da população, as ferramentas para solucionar a questão podem ser apresentadas e nós, unidos, podemos resolver isto. Temos que sair do palanque e partir para a ação e prática e traçar medidas que possam solucionar e amenizar a questão, do contrário ficaremos apenas nas palavras", completou.