A jornalista Helena Lage Tallmann é uma profissional que vem buscando arriscar em sua vida a procura de novas experiência e perspectivas. Natural de Juiz de Fora, ela foi aprovada no concurso da Câmara Municipal de São Sebastião do Paraíso e tomou posse recentemente do cargo de assessora de Comunicação da Casa Legislativa paraisense. Filha de Roberto Neves Tallmann e Regina Célia Lage Tallmann, aos 27 anos Helena chega a Paraíso onde pretende desenvolver o seu trabalho e prestar um bom atendimento com informações que possam ser levadas àqueles que precisam: o cidadão paraisense.
Jornal do Sudoeste: como foi a infância em Juiz de Fora?
H.L.T.: Juiz de Fora, fui perceber, é uma cidade bem grande para os padrões de Minas Gerais, apesar de que fui criada em um bairro bem residencial e pude brincar na rua sem problemas. Mas fui uma criança que passava boa parte do tempo em casa, lia bastante, estudava e mudei poucas vezes de escola, então pude crescer com a mesma turma de pessoas. No ensino médio começou a fase de cursinho e vivi um período muito intenso de pré-vestibular. Na escola, para os padrões, era dedicada, apesar de não ser aquela pessoa aficionada nos estudos. Em casa gostava muito de ler, eram revistas como Turma da Mônica e minha mãe sempre assinou revistas para mim: era Recreio, Capricho, Superinteressante e essas revistas foram evoluindo com a minha idade e acredito que isto contribuiu muito para que viesse a fazer jornalismo, já que tive muito estímulo para ler.
Jornal do Sudoeste: O jornalismo então nasce desta influência da literatura?
H.L.T.: Sim, e desde criança sempre gostei muito de escrever e inventava muitas histórias quando ficava em casa, mesmo porque tinha bastante tempo livre no período fora da escola e escrevia muita coisa aleatória. Quando prestei vestibular, das opções pensei que Jornalismo era o que mais tinha a ver comigo, também prestei Relações Internacionais, já que eu gostava de estudar idiomas, e passei nos dois, porém esse segundo seria no segundo semestre então decidi começar jornalismo e ver como seria e se eu não gostasse mudaria, mas acabou que me identifiquei bastante com o curso e larguei a outra opção; mas não tive nenhuma dúvida depois disto.
Jornal do Sudoeste: assim que se formou, como foi o início de carreira?
H.L.T.: Quando me formei fiz uma pós-graduação em Marketing, estava difícil arrumar emprego. Foi legal, cheguei a estagiar e, em paralelo, estava tentando conseguir alguma coisa, mas jornalismo é muito limitado e as redações sempre muito pequenas, então é difícil conseguir entrar. Durante um ano fiquei tentando arrumar um emprego e estava fazendo minha pós, nesse meio tempo consegui um trabalho no jornal da minha cidade, concluí a pós, mas foquei mesmo no jornalismo que é o que eu queria realmente.
Jornal do Sudoeste: essa primeira experiência, você estranhou um pouco, era diferente do que esperava?
H.L.T.: Não estranhei muito porque nos últimos períodos da Universidade Federal de Juiz de Fora tínhamos atividades práticas muito intensas que a gente chamava “mergulhão” e, durante dois períodos simulávamos uma redação de jornal na faculdade; tínhamos que fazer jornal diário de rádio, e isso tinha que ir ao ar porque havia a rádio da faculdade e passei por todos esses veículos: rádio, impresso, TV e internet, tinha uma noção boa. Quando entrei no jornal da minha cidade, isso veio para tapar vários buracos e minha chefe na época falou que eu tinha que estar disposta porque cobriria férias de um produtor, de um repórter e editor, por isso passei por todas essas áreas naquela redação. Foi bem intenso e tive que me adaptar e aprender a trabalhar com poucos recursos, o que também foi bom porque talvez se eu tivesse começado a trabalhar em um veículo com toda a estrutura necessária, eu não teria aprendido a ter jogo de cintura para lidar com algumas situações.
Jornal do Sudoeste: o que a marcou nessa primeira fase, teve alguma matéria, reportagem?
H.L.T.: Nessa época eu cobri muito polícia e estava sempre na delegacia; gostava bastante do jornalismo policial e é até difícil falar de algo específico. Fiz muita coisa sobre violência doméstica e me lembro de um especial que contávamos como funcionava o processo de uma denúncia de violência doméstica, relatando todo o trâmite, como é o atendimento, o que acontecia, como era a investigação, foi uma matéria muito legal. Outra que marcou, mas não fui eu quem escreveu, mas fiquei nos bastidores, foi uma do Dia das Mães e fomos muito ousados porque resolvemos falar sobre as mães que perderam seus filhos, e não fazia muito tempo que uma mãe havia perdido o filho, assassinado dentro de uma boate na cidade e contamos essa história. Lembro também que havia um grupo de apoio de mães que perderam seus filhos para a violência e acabou que esta matéria foi capa. Ninguém apostou muito nesta pauta quando a produtora sugeriu, e eu bati o pé que deveria ser feita e ganhou a capa e achei que valeu muito a pena, redeu mais que imaginávamos. Também houve um caso que me marcou muito, atendi em um plantão de final de semana; foi um caso que o treinador estava assediando sexualmente os alunos, eram crianças. Fui ao local, conversei com as mães e crianças e foi uma situação muito complicada, porque não sabia nem como perguntar a história ao certo para pegar os detalhes. Foi muito difícil e como eram pessoas de bairros mais periféricos, muito simples, as próprias mães pareciam não ter dimensão do acontecimento e contavam a história casualmente. Acho que fiquei mais chocada que eles e acredito que a ficha deles tenha caído depois.
Jornal do Sudoeste: e casos envolvendo política?
H.L.T.: Teve um caso de um vereador que foi pego com animais silvestres abatidos em um barco, aquilo gerou muita repercussão e pressão popular e o vereador acabou renunciando. Eu cobri o primeiro pronunciamento que ele fez sobre o caso depois que a polêmica toda estava fervilhando na cidade. Ele demorou a se manifestar e me recordo que no primeiro pronunciamento de defesa que ele fez, ele se emocionou e foi uma situação bastante inusitada.
Jornal do Sudoeste: como foi a experiência que teve na rádio?
H.L.T.: Foi algo completamente diferente. Não era uma rádio voltada para notícia, mas para o entretenimento. Tínhamos alguns boletins durante o dia, mas algo bem pequeno. Entrei junto com uma equipe nova e na época estavam reformulando completamente o jornalismo. Foi interessante porque tivemos a oportunidade de trabalhar junto para tentar fazer coisas ao vivo, fazer coberturas e foi uma fase muito legal. Pouco tempo depois prestei concurso e me mudei para Belo Horizonte.
Jornal do Sudoeste: o que a levou a ir para o Poder Público?
H.L.T.: Fiquei sabendo do concurso pelo meu pai, mas eu já prestava alguns concursos desde que havia saído da faculdade porque fiquei um ano desempregada e via isto como uma alternativa de conseguir um emprego. Meu pai me falou do concurso para o IBGE e não dei muita atenção porque era um trabalho temporário, mas fiz a prova por fazer e acabou que deu certo. Na época fiquei muito em dúvida porque estava deixando um emprego fixo para mudar de cidade por uma oportunidade temporária, mas foi bom para eu conhecer BH, já quem em Juiz de Fora o mercado é restrito e não teria para muito para onde correr, então enxerguei nisto uma oportunidade de fazer meu nome no jornalismo em outro local. Valeu muito a pena e não me arrependo de jeito nenhum do que fiz.
Jornal do Sudoeste: como foi trabalhar no IBGE?
H.L.T.: Minha função era fazer a divulgação do censo agropecuário, desde o início contando o que aconteceria para a população receber o recenseador até o final com os resultados preliminares divulgados, que foi em julho de 2018. Foi muito bacana porque a chefe da unidade estadual de Minas comprou a ideia de documentarmos o censo, que era algo que faltava nos censos anteriores, não tinha muita foto e informações. Fiz um documentário em vídeo e foi muito legal porque pude viajar todo o estado para cobrir esse processo e conhecer regiões que ainda nunca tinha ido.
Jornal do Sudoeste: você sempre foi aventureira?
H.L.T.: Sempre, e acho que isso despertou em mim quando fiz intercâmbio pela primeira vez, aos 17 anos, em 2008. À época fui para a Inglaterra e fiquei cerca de um mês com a minha turma da Cultura Inglesa, onde estudei grande parte da minha adolescência. Eu vi que o mundo era muito maior do que eu imaginava e até então só tinha viajado para a praia e esses passeios que todo mundo faz. Pouco tempo depois fiz outro intercâmbio, já para a faculdade, de voluntariado, em 2009; fui para a Colômbia e fiquei lá cerca de dois meses onde trabalhei em uma fundação para crianças carentes, onde as crianças ficavam a semana inteira e voltavam para suas casas no final de semana. Eu e outra voluntária desenvolvíamos atividades no contraturno escolar, com atividade esportivas e culturais para abrir a mente deles para outras possibilidades, já que eram crianças da periferia e não tinham outra maneira de ter essa vivência.
Jornal do Sudoeste: Essa experiência foi diferente de tudo o que você já tinha vivido?
H.L.T.: Minha mãe trabalha em posto de saúde do SUS em Juiz de Fora, e eu sempre passava as férias com ela quando não tinha com quem ficar; conheci pessoas que tinham condições de vida diferentes da minha realidade social, mas era muito pouco. Na Colômbia, chegava sexta eu pegava a mesma van que deixava essas crianças em casa e passei por tudo o que é lugar, entre eles regiões sem saneamento e é muito chocante porque quando você vê a criança fora daquele ambiente, não parece que ela vivia daquela jeito porque estava feliz, bem cuidada e estudando; criança não tem noção do lugar em que vive. E para eles ir para a casa era um momento de muita felicidade, já que iriam para casa ver os pais no final de semana. Quando voltei, vi que nosso país não era muito diferente, porque isso é algo que te abre os olhos.
Jornal do Sudoeste: como você ficou sabendo do concurso em Paraíso e o que você achou da cidade quando chegou aqui?
H.L.T.: Participo muito de grupos de jornalistas que prestam concurso e provavelmente foi em um deles. A primeira coisa que eu fiz foi pesquisar sobre a cidade, ver o que movimenta o município, localização, vejo fotos se me identifico e vi uma foto da Lagoinha e pensei “que gracinha essa cidade”, e por causa desta lagoa eu vim fazer a prova. Vim, prestei a prova, não achei fácil, mas passei. Estive em Paraíso algumas vezes depois que fui aprovada, mas ainda não tive a oportunidade de passear e conhecer a cidade mais a fundo.
Jornal do Sudoeste: Até agora, o que você tem achado desta experiência e do novo trabalho?
H.L.T.: Eu saí de um trabalho bem tranquilo que não tem os mesmo sobressaltos que a política proporciona. Cheguei, caí de paraquedas e já com muitas atividades, como divulgação da audiência, gabinete itinerante, tem a sessão toda segunda-feira e é um ritmo completamente diferente e estou gostando muito, estou achando bem dinâmico. É muita gente para conhecer e conversar. A política, apesar de ser mal vista, é algo que influencia a vida da cidade e tem o poder de fazer coisas boas para o município e é muito bom se envolver nisto e poder divulgar projetos que vão fazer a diferença para a população. Não sei se é uma característica daqui do Sul de Minas, mas todos são muito receptivos e é diferente de BH, onde as pessoas não se conhecem.
Jornal do Sudoeste: qual o balanço que você faz desses 27 anos?
H.L.T.: Sempre fiz o que quis fazer sem me preocupar muito com os resultados e isso sempre me levou para coisas boas e surpresas que eu não esperava, o que me trouxe aqui também. O balanço é muito positivo, acho que um lema de vida é não tentar controlar tudo e levar tudo a sério porque você pode se surpreender com os acontecimentos da vida. O balanço é positivo, mas sempre pensando que dá para fazer sempre mais no futuro.