ELA por ELA

Cassilda Soares Zanetti Barbosa: mulher como agente transformadora da sociedade

“O dom de poder gerar uma vida faz com que nós mulheres tenhamos um olhar mais humano sobre a vida”
Por: João Oliveira | Categoria: Entretenimento | 17-03-2019 08:49 | 2604
Cassilda é assessora jurídica na Acissp há 9 anos
Cassilda é assessora jurídica na Acissp há 9 anos Foto: Reprodução

A advogada e assessora jurídica da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de São Sebastião do Paraíso (Acissp), Cassilda Soares Zanetti Barbosa, é uma profissional competente, que acredita na força da mulher para o desenvolvimento da sociedade em todas as esferas. Filha de Eurípedes Zanetti e da professora de História, Maria Zélia Soares Zenetti (em memória). Cassilda é casada com o empresário Paulo Soares Barbosa e mãe da estudante de Direito, Júlia, e da pequena Alice, de seis anos. Aos 43 anos, Cassilda relembra um pouco da sua trajetória e conta um pouco dessa caminhada à reportagem do Jornal do Sudoeste.

Jornal do Sudoeste: Como foi a sua formação acadêmica?
C.S.Z.B.: Eu vim de Itamogi para Paraíso muito criança, aos seis anos; aqui concluí o fundamento I no grupo Noraldino Lima e depois estudei no Colégio Paula Frassinetti, até o 2º colegial. Na mesma época o Objetivo veio para Paraíso, onde fiz parte da primeira turma de 3º colegial, concluí o Ensino Médio. Depois fui para São Paulo, onde iniciei duas faculdades, uma de Propaganda e Marketing e depois de Turismo, que estudei por dois anos e talvez fosse uma profissão que eu seguisse, mas aos 22 anos me casei e voltei para Paraíso. Até então não tinha concluído o ensino superior e eu era muito cobrada pelos meus pais.

Jornal do Sudoeste: É quando o Direito entra na sua vida
C.S.Z.B.: Sim. Eu sempre fiquei com isto na cabeça de que precisava me formar, mas até então não tinha um curso que me despertasse interesse e até tentei outras coisas, mas não gostei. Quando abriu o curso de Direito pensei na possibilidade e era um tema interessante para mim e comecei. Integrei a primeira turma de Direito da Libertas Faculdade Integradas e foi fantástico, pelo momento de vida que eu estava, mas madura e talvez no passado não teria pensado nisto, mas aquele era o momento e me descobri ali. Gosto muito do que faço.

Jornal do Sudoeste: Como foi ter essa formação superior em Paraíso, tendo em vista que muitos vão para fora estudar mesmo tendo ótimas faculdades em Paraíso?
C.S.Z.B.: Para mim, que era mãe e empresária, estudar fora era inviável, assim como era a realidade de muitos jovens que não tinham a condição de sair por diversos motivos. A faculdade daqui, embora a primeira turma tenha tido alguns problemas por ser uma turma de adaptação, é ótima. A Libertas é uma excelente faculdade, muito séria e que leva seus cursos a sério. Inclusive, depois de formada, fui convidada a ministrar aulas pela coordenadora do curso, Michele Cia para lecionar nas turmas de dependência onde atuei por seis anos, então a faculdade veio para agregar muito para a comunidade, não apenas na questão de ter mais uma oportunidade de ensino superior, mas também de atendimento a comunidade. Na Libertas tem atendimento para a comunidade e pode trazer outros benefícios, mas também a população não busca ou usufrui tanto. É o que vai acontecer também com a Ufla, que esperamos que traga um desenvolvimento ainda maior para Paraíso.

Jornal do Sudoeste: Esse desenvolvimento pode vir por meio da educação...
C.S.Z.B.: Sim. E é uma preocupação, inclusive, do presidente da Acissp, Ailton Sillos. Nosso maior problema em Paraíso é que falta arranjo produtivo e ainda somos praticamente cafeiculturistas... então por que não a educação de excelência para propiciar esse crescimento? Precisamos de algo assim e pensamos nisto todos os dias aqui na Acissp, sobre qual arranjo produtivo podemos viabilizar para o município que o desenvolva e acredito que a educação é o caminho, independentemente de política.

Jornal do Sudoeste: Quando se formou, como foi o início da carreira?
C.S.Z.B.: Formei-me há 10 anos e, após aprovada pela OAB, comecei aqui na Acissp em abril de 2010. Recordo-me que estava no Fórum e cruzei com um dos meus professores, o doutor Marco César, que informou que na Acissp precisava de um advogado e vim e acredito que deu certo, porque já são nove anos aqui, e brinco que minha pós-graduação é minha convivência diária com o presidente da associação, que é uma pessoa bastante exigente, dinâmica e inovadora. Apesar de eu ser coordenadora na área jurídica, aqui na Acissp nós não trabalhamos cada um no seu setor (embora cada um tenha sua função), é uma integração. Todos nós somos polivalentes, o que é muito bom porque nos envolvemos em todos os setores.

Jornal do Sudoeste: É um trabalho de busca por melhorias constantes...
C.S.Z.B.:  Sim, inclusive uma das metas da Diretoria da Acissp para este ano é a criação da Câmara da Mulher Empreendedora e, desde o ano passado estamos trabalhando para isto. Estamos no processo de análise. Sabemos que hoje a mulher está despontando em todos os seguimentos e, inclusive, estamos fazendo um levantamento de mulheres empreendedoras e é fantástico o número de empresas em Paraíso comandadas por mulheres. Isto foi muito satisfatório porque não temos apenas butiques e salões que, geralmente, são mulheres que cuidam desses assuntos, temos mulheres que estão tomando conta de empresas genuinamente masculinas como, por exemplo, oficinas mecânicas.  Se formos analisar, as mulheres estão ocupando o seu lugar no mundo, e os homens estão com resistência para ocupar o “lugar” feminino, para ter essa troca. Nós vemos que isso ainda é pouco e ainda existe um preconceito: por que a mulher não pode sair para trabalhar e o homem ficar em casa cuidando do lar e dos filhos? Isto pode acontecer, principalmente em um momento de crise financeira. Ainda é um tabu, mas tudo caminha para este rumo. A mulher está cada vez mais ocupando esses espaços, mesmo em uma cidade do interior como Paraíso, que é alto o número de empreendedoras. Essa Câmara Empreendedora pretende reunir essas mulheres e desenvolver projetos para o desenvolvimento da comunidade. A mulher pode tudo e não acredito que uma mulher tem que ser mãe para se realizar, há outras maneiras. Acho lindo a maternidade, mas uma mulher não é menos mulher se não exercer isto. Mas acredito que esse dom de poder gerar uma vida faz que nós tenhamos um olhar mais humano sobre a vida e é por isto que nós mulheres estamos despontando.

Jornal do Sudoeste: Você chegou a sofrer algum tipo de resistência na área jurídica por ser mulher?
C.S.Z.B.: Particularmente não. Mas observando em um contexto geral, nós sabemos que isto acontece. A advocacia ainda é um ambiente majoritariamente masculino, porém, na comarca do nosso município já fui informada que triplicou o número de advogadas e quando comecei éramos minoria, não sei se já igualou. Mas o ambiente ainda é tipicamente masculino, principalmente no Direito Criminal onde vemos certa resistência. Hoje, também temos promotoras na área criminal e grandes exemplos de mulheres à frente da Justiça e advogadas que são verdadeiras guerreiras, as mulheres não entraram na advocacia como hobby, elas arregaçam as mangas e trabalham muito.

Jornal do Sudoeste: O começo de carreira foi difícil?
C.S.Z.B.:   Foi. Eu era empresária e tinha um restaurante no centro, próximo ao antigo Fórum e, então, comecei a conviver com a área jurídica antes mesmo de entrar para a faculdade, porque esse pessoal todo do Fórum almoçava lá e foi na mesma época que veio para Paraíso a Justiça Federal, então eu conhecia todo mundo desta área e isto acabou me influenciado a fazer Direito e a conhecer pessoa que foram importantes na construção da minha carreira. Um juiz que conheci no restaurante me convidou para fazer estágio quando eu ainda estava no terceiro período e fui, achando que ficaria no gabinete observando, mas não, ele me colocou para assistir a uma sessão de reconciliação da Vara da Família e depois eu assumi o cargo do servidor, o Marcelo de Pádua, que era o conciliador e veio a se tornar um grande amigo. Na época eu nem tinha tido Direito da Família e o juiz me disse algo que nunca mais esqueci: que para ser conciliador da Vara Família era preciso vivência, não precisava do Direito, e que precisava de alguém para conduzir a audiência e que entendia que eu tinha a bagagem necessária. Foi meu primeiro grande desafio. Ali aprendi muito e descobri o que é ter problema e o que é um problema. Percebi que na minha vida o que eu achava ser um problema, não era, eram obstáculos. Após fazer esse trabalho, comecei a trabalhar na 1.ª Promotoria com o doutor Luís Augusto Belotti, um profissional que eu admiro e respeito demais; conheci uma pessoa muito humana e o que aprendi no gabinete dele carrego até hoje comigo.

Jornal do Sudoeste: Como foi quando você chegou aqui a Acissp?
C.S.Z.B.: Iniciei na época como coordenadora da Câmara de Conciliação e Mediação e Arbitragem (Camasp). A Camasp é a justiça privada, ou seja, que busca resolver litígios de natureza patrimonial disponível, ou seja, resolver questões sem que seja necessário buscar a Justiça Comum. A Camasp foi inaugurada em 2004, por intermédio do Ailton Sillos que gosta sempre de inovar e trazer novidades para os associados. Nesse período que estou aqui percebo que a procura está aumentado e as pessoas estão acreditando mais nesses métodos extrajudiciais de solução de conflitos.

Jornal do Sudoeste: Qual foi o maior desafio enfrentado por você na Acissp?
C.S.Z.B.: Aqui são desafios todos os dias e é o que me fascina. É muito desafiador trabalhar como o doutor Ailton Sillos e sempre gostei muito de ter mentores experientes; acredito mais da experiência e na vivência, mais que na formação. Quando o Ailton te chama porque estava pensando em algo, pode esperar que está vindo algo inovador. São desafios todos os dias e estamos aqui para receber as mais diferentes demandas e são mais de dois mil associados. Uma dessas demandas, por exemplo, é o feriado do 20 de novembro. Quando lutamos contra o feriado, parte do outro lado a impressão que somos contra os negros, e não é nada disto. Nós precisamos socorrer o empresário, que é muito vulnerável no Brasil e muito tributado. As pessoas precisam começar a se colocar no lugar do outro ao invés de julgar. A nossa ideia não era apenas um dia dedicado a esta data, mas uma semana; é preciso ter projetos nas escolas e na comunidade para mostrar a grande vergonha que foi a escravidão no nosso país. Esses são os grandes desafios que enfrentamos.

Jornal do Sudoeste: Falando em desafios, você também é mãe. Como tem sido esta experiência?
C.S.Z.B.: Eu tenho uma filha de 18 anos, a Júlia, que estuda Direito em Natal (RN), e a Alice, de seis anos. A Alice veio no momento em que eu já construía uma carreira jurídica, não foi nada planejado e brinco até que foi ela quem me escolheu. Foi um momento em que tive que colocar o pé no freio porque ser mãe novamente, aos 38 anos, você não pode desperdiçar isto, pegar o seu bebê e entregar para outra pessoa criar. Agora, aos seis, que ela tem mais autonomia, eu comecei a retomar o ritmo de antes. Para mim, o principal é dedicar o tempo aos filhos e estar muito presente e é o que eu sempre busco fazer. A minha relação com a minha filha mais velha também é muito bacana, ela faz Direito e estamos em constante troca; a distância é difícil, mas esse contato, mesmo que a distância é muito interessante, e estou adorando poder ajudá-la e estou revendo muita coisa que já tinha esquecido.

Jornal do Sudoeste: Qual o balanço que você dessa trajetória de 43 anos?
C.S.Z.B.: Muito aprendizado. Há uma citação de que “a vida da mulher começa aos 40” e realmente o meu melhor momento começou aos 40. Acho que é uma maturidade maior, mais responsabilidade. Aqui na Acissp estou cada dia mais integrada e tenho uma relação direta com o doutor Ailton, com quem aprendo muito. Agora, por exemplo, iremos participar do Comitê Gestor Jurídico Estadual; existe um Comitê Jurídico Nacional, do qual a Federaminas faz parte e por provocação do Ailton Sillos, criou-se um comitê estadual para participação dos municípios e associações e haver mais integração para que a Federação possa levar nossas demandas para a Confederação. Isto é maravilhoso. Gosto muito de trabalhar na Acissp, a equipe é muito boa e trabalhar com o doutor Ailton é uma faculdade. O que aprendo com todos aqui e pude vivencia a partir da Acissp não tem preço.