No século I de nossa era, os chineses inventaram um instrumento curioso, denominado por eles "colher-que-aponta-o-sul". Mais tarde, a colher foi substituída por um pequeno peixe e o conjunto passou a ser chamado "peixe-que-aponta-o-sul".
Esses objetos nada mais eram que pequenas hastes metálicas magnetizadas e colocadas em água parada, sendo uma extremidade atraída pelo polo magnético da Terra, situado no norte. A outra extremidade, naturalmente, apontava para o sul.
Posteriormente, os mesmos chineses passaram a usar uma agulha amarrada a um fio de seda e colocada dentro de uma caixinha, a qual era usada para orientação em suas viagens terrestres. Somente a partir do século XII ela passou a ser utilizada também em viagens marítimas, tornando-se um instrumento indispensável, pela sua precisão e facilidade de uso.
O princípio da bússola já havia sido descoberto no século VII a.C. pelo filósofo grego Tales, da cidade de Mileto: a propriedade que certas pedras têm de atrair metais. Como essas rochas estão mais concentradas no hemisfério norte de nosso globo, ele funciona como um gigantesco ímã, fazendo com que a agulha aponte em sua direção.
Além de sua importância como instrumento científico, a palavra bússola tem um valor simbólico muito grande, significando rumos, parâmetros, paradigmas.
O homem moderno, mormente o ocidental, influenciado pelo american way of life, ou seja, maneira americana de viver, vem se despojando paulatinamente de seus valores, dos componentes éticos de sua personalidade, adquiridos e apurados no decorrer dos séculos, substituindo-os pelo primitivo instinto do prazer.
Assim, se a honestidade é um impecilho para alcançar a riqueza, risca-se essa palavra do dicionário, o que abre uma imensidão de possibilidades, de CDs piratas a medicamentos falsos, dos quase amadores contos-do-vigário às fraudes na contabilidade das mega-empresas, apontando lucros inexistentes para valorizar suas ações.
Se a lealdade é uma pedra no caminho do prazer sexual, que adviria com novas conquistas, deixa-se de lado esse vocábulo ultrapassado e troca-se a velha companheira por uma moça nova e bonita. Assim, o divórcio tornou-se tão fácil e banal que pode ser feito até por computador!
O próprio sexo já é matéria discutível. Tudo é encarado com naturalidade: o homo, o hétero, ou o bissexual. Não que queiramos atirar pedras nas pessoas que, por distúrbios hormonais, ou da própria personalidade, comportam-se como se fossem de sexo oposto àquele que realmente têm. Mas, há muita diferença entre aceitar, compreender, um problema, e estimulá-lo como coisa bonita, moderna.
Assim, valor por valor, tudo tem sido questionado, derrubado, como se tivéssemos perdido nossa bússola e não mais soubéssemos onde estão os pontos cardeais. E, como era de se esperar, isso não conduziu a nada, antes a um imenso vazio, que tem sido preenchido pelo álcool, pelas drogas, pelos divãs dos psiquiatras.
Como se o homem moderno tivesse criado uma hidra de sete cabeças que acabou por engoli-lo!