Volta 45 do GP da Austrália. Pelo rádio Sebastian Vettel questiona: “por que somos tão lentos”? Àquela altura da corrida o alemão já havia sido ultrapassado por Max Verstappen e não conseguia entender a falta de ritmo de seu carro. A resposta do engenheiro mostra bem o quanto a Ferrari estava perdida em Melbourne: “Não sabemos ainda”.
A Ferrari de Melbourne em absolutamente nada lembrou a dos testes de Barcelona quando foi apontada pelo chefe da Mercedes, Toto Wolff, que estaria cerca de meio segundo mais veloz que todo mundo. E saiu sem entender o que levou Sebastian Vettel receber a bandeirada na 4ª posição a absurdos 57s109 do vencedor, Valtteri Bottas. Charles Leclerc, 5º colocado, ficou a 58s230 do finlandês. A Ferrari ficou praticamente um minuto atrás da Mercedes depois de 58 voltas pelos 5.303 metros do Circuito Albert Park.
Não foi normal e não é esse o real potencial do modelo SF90. Apesar de parecer discurso de perdedor, há de se levar em conta as características do traçado e o asfalto ondulado de Circuito Albert Park possivelmente terem dificultado Vettel e Leclerc encontrar o melhor acerto de seus carros.
A boa impressão deixada pela Ferrari nos oito dias de testes de pré-temporada não pode ser subestimada pela lentidão do modelo SF90 no GP da Austrália. Aconteceu algo inesperado, mas o que pode estar por trás do desastroso desempenho da escuderia? Chamou atenção o fato de todos os carros equipados com motor Ferrari, os da própria equipe, os da Alfa Romeo e da Haas serem os mais lentos em velocidade final.
Pierre Gasly com a nova parceria Red Bull-Honda foi quem atingiu a maior velocidade de reta na corrida: 321,9km. Seu companheiro de equipe, Max Verstappen, foi o 2º mais veloz: 319,9km/h. Lá no final da lista, os quatro mais lentos foram: 17º Vettel (303,7km/h), 18º Antonio Giovinazzi (Alfa Romeo-Ferrari) 299,9km/h, 19º Charles Leclerc (297,4km/h) e 20º Kevin Magnussem (Haas-Ferrari) com 291,8km/h. Até o horroro-so FW42 da Williams foi mais rápido em reta que os carros equipados com motor Ferrari.
Isso nos leva e duas suposições: 1) As minúsculas aberturas das tomadas de ar dos carros destas equipes teriam causado superaquecimento do motor; 2) Algum problema no próprio motor teria sido identificado de última hora e pegou todos de surpresa por causa do clima australiano, bem mais quente que o do inverno europeu. Fato é que ficou no ar a dúvida de que a Ferrari teria mudado a configuração do motor para um modo conservador, com menos potência para evitar quebras logo na primeira corrida do ano.
Vitória da Mercedes, e pódio da Red Bull, não estavam fora da realidade para o GP da Austrália. Mas nenhum piloto da Ferrari entre os três primeiros, em condições normais de corrida, foi totalmente fora de contexto.
Bottas em “modo de ataque”
Pra quem estava com a batata quente nas mãos depois do fraco desempenho do ano passado, Valtteri Bottas ligou o “modo de ataque” e fez a corrida de sua vida na Austrália. Superou Lewis Hamilton na largada, conquistou uma vitória irretocável, e estreou o ponto extra que a Fórmula 1 agora dá ao autor da volta mais rápida de cada. Se Bottas vai ter peito pra desafiar Hamilton só o tempo dirá, mas lembrei do que ele disse na pré-temporada ao ser perguntado pelo jornalista Livio Oricchio, se tinha procurado ajuda profissional para superar as dificuldades de 2018? “O espelho”, disse. E o contido finlandês ainda mandou um “piiiiiii” aos seus críticos pelo rádio enquanto comemorava a vitória.