O procurador geral do Município de São Sebastião do Paraíso, Nilo Kazan de Oliveira, vem conquistando espaço e grandes amizades, principalmente pelo seu profissionalismo e maneira afável de tratar o cidadão. Ele não acredita muito em burocracias e tem como filosofia de vida sempre ser e tratar os outros com humildade, e reconhece e valoriza o seu papel: de prestar o melhor serviço possível para a comunidade paraisense. Natural de Franca, Nilo é o filho caçula do casal May Kazan e Odair Oliveira, e irmão do médico Felipe Augusto Kazan de Oliveira, especialista em ortopedia e ortopedia oncológica. Aos 36 anos, ele conta um pouco da sua jornada sobre os desafios de um cargo de vital importância em um município.
Jornal do Sudoeste: Qual a origem do seu nome?
N.K.O: É um nome de origem russa, que vem de Kazansk e Kazanowski, que migrou para o Líbano. Meus avós maternos são libaneses e minha mãe e o restante da família já é toda nascida no Brasil. Por parte de pai, minha família é portuguesa e italiana.
Jornal do Sudoeste: Como foi sua infância?
N.K.O: Na infância temos muitas fases, quando eu era pequeno fui muito arteiro, mas na época do ensino fundamental I e II fui uma criança mais tímida e no colegial tive aquela fase mais rebelde, é uma fase em que às vezes a gente se rebela contra o sistema e algumas questões, que acredito ser normal e é importante para a formação da personalidade do sujeito.
Jornal do Sudoeste: Como foi sua formação em Franca?
N.K.O: Minha vida e formação é toda em Franca, estudei Direito na Faculdade de Direito de Franca, onde me formei em 2006 e, após, ao longo desse período já fiz quatro especializações e um MBA, entre eles Processo Civil, Processo Penal, Direito Constitucional e MBA em Gestão Pública e, no final do ano passado, passei no mestrado na UNESP de Botucatu. É um mestrado interdisciplinar em uma das áreas que é justamente na área que mais atuo na Prefeitura: judicialização da Saúde. Está sendo uma oportunidade muito boa, principalmente para tentarmos melhorar a gestão sanitária no município que é uma área um pouco carente e onde enfrentamos problemas e não deveríamos ter. Estou no começo e a ideia, a princípio, é já fazer o mestrando pensando em migrar para um doutorado.
Jornal do Sudoeste: Não é uma formação pensando apenas na realização pessoal...
N.K.O: Não, porque a intenção é tentar descobrir algumas causas para melhorar a gestão da saúde no município; no passado já tentei algumas medidas e algumas conseguimos alcançar, mas hoje o município atravessa uma crise com falta de recursos, e estamos tentando tirar uma parte do Judiciário buscando uma solução administrativa para as demandas. Quando cheguei, fiz algumas reuniões com Ministério Público, Judiciário, Defensoria Pública, para chegar em um consenso. O ideal seria criar juntas envolvendo médicos, farmacêuticos, psicólogos, assistentes sociais, para buscar atender, principalmente, àqueles que não têm condições para adquirir alguns medicamentos e podermos fornecer, seria uma gestão sanitária.
Jornal do Sudoeste: O que o motivou a estudar Direito?
N.K.O: Era uma ideia que tive ainda no colegial, de estudar Direito, mas nunca pensei em ser advogado, apesar de respeitar muito a advocacia. Eu queria prestar concurso público, entrei na faculdade com este intuito. Minha formação toda foi focada para passar em concurso e sempre estou estudando. Nesses mais de 10 anos de formado já prestei muita coisa, mas sempre trabalhei apesar de estudar muito para os concursos. Tinha escritório em Franca e sempre busquei exercer várias matérias do Direito, embora tivesse algumas que eu não gostasse tanto; meu foco era Direito Penal, Processo Civil, Constitucional, Administrativo e Difusos - que é a parte que envolve idosos, crianças, entre outros que são áreas mais de atuação do Ministério Público e Defensoria Pública.
Jornal do Sudoeste: E como surgiu o Direito Público nesse caminho?
N.K.O: Para ser sincero, a procuradoria não era uma área que até então eu me dedicava tanto a estudar. Sempre estudei para prestar concurso para MP e, antes, intencionava a magistratura, mas com o tempo fui me apaixonando mais pela promotoria, tendo ficado próximo de ser aprovado. Comecei a ter mais afinidade com este ramo do Direito, mas é uma parte bastante complexa e difícil, já que na esfera privada há menos responsabilidades do que quando você mexe com algo que não é seu, e tem que tratar com muito mais carinho do que se fosse sua. Geralmente pessoas que trabalham no serviço público não têm muita noção do processo administrativo; é isto que é complexo e onde vemos muitos problemas. Muitas das vezes um funcionário, na inocência, acaba praticando um ato sem ter consciência da ilegalidade e da dimensão disso. As consequências são muito drásticas, e às vezes tudo o que você conseguiu com seu trabalho na administração, você perde e tem que pagar mais um pouco. É uma noção que muita gente não tem e isto em todos os poderes. Claro que estamos sempre aprendendo e o Direito é muito amplo e posso garantir, com muita certeza, que o trabalho da procuradoria é um dos serviços mais amplos em relação a serviços públicos.
Jornal do Sudoeste: Quando você chegou a Paraíso para assumir o cargo já conhecia o município?
N.K.O: Tinha vindo aqui algumas vezes e sou apaixonado pela cidade. Paraíso é excelente e tem uma estrutura muito boa para seu tamanho. Quando cheguei fui muito bem acolhido e só enfrentei dificuldade para encontrar um apartamento, não tinha muitas opções na época. Foi tranquilo; bem no comecinho eu viajava todos os dias, mas logo depois decidi ficar. Aqui é de fato um Paraíso e se você gosta de esporte, o que é meu caso, e quer fazer trilha, por exemplo, há várias trilhas, estradas e lugares para andar. É um polo muito estratégico, próximo à Franca e Ribeirão Preto.
Jornal do Sudoeste: Você assumiu o cargo no Governo Reminho. Como foi esse período?
N.K.O: Foi algo excelente para minha carreira. À época não tinha muito contato com o prefeito e, independente de qualquer questão, ele foi eleito e eu precisava respeitar isto. A postura que ele adotou naquela época gerou mais demandas para a Procuradoria e algumas é possível que nunca mais voltemos a ter. Foi um período de demandas judiciais intensas e em maior volume que hoje. Não posso falar da gestão do ex-prefeito em si, mesmo porque não tinha muito contato com ele, mas em relação a processos, a maioria era na área da saúde, que entra no contexto da judicialização. Foi um grande desafio, já que pegamos ações também muito complexas e que envolvia, por exemplo, repasses de verba da União, Estado, Município, contratualizações, Santa Casa. Acabávamos tendo demandas bem complexas, mas tudo foi um aprendizado, porque são questões como as que vivemos atualmente – com falta de repasse do estado – que talvez nunca mais teremos a oportunidade de viver novamente. São questões específicas que não aprendemos na faculdade.
Jornal do Sudoeste: Por que decidiu ir embora naquela época?
N.K.O: Eu estava estudando bastante para outros concursos e acabei me classificando em alguns, porém, como a demanda de serviço aqui era grande, acabei deixando o estudo um pouco de lado e de certa forma isto me prejudicou. Eu tinha passado no concurso para procurador do município de Paraíso em 2011, mas só fui chamado na gestão do Reminho. Naquele momento não via muitas alternativas, mas como meu irmão estava se mudando para São Paulo e eu vi ali uma oportunidade, decidi ir morar com ele e pedi exoneração do meu cargo. Cheguei a sentir saudades e logo após o governo Reminho havia uma proposta para eu poder voltar. Com o novo governo, e algumas decisões, acabei sendo chamado. Até então não conhecia o prefeito pessoalmente, vim a conhecê-lo quando cheguei a Paraíso novamente.
Jornal do Sudoeste: O Direito passa por mudanças constantes. Como você encara isto?
N.K.O: Um dos problemas do Brasil é que há muitas leis, e que passam por diversas mudanças e os governantes acreditam que vão solucionar todos os problemas criando mais leis, todavia sabemos que a solução para nossos problemas vai muito além disto: é investimento em educação, saneamento, saúde, mas principalmente em educação. Há estudos que apontam que se há investimento na educação, você garante uma qualidade em outros setores muito melhor; o foco seria educar para que possamos colher os frutos disto no futuro.
Jornal do Sudoeste: Qual foi o maior desafio nesta nova fase na prefeitura?
N.K.O: Tem sido essa crise vivenciada pela prefeitura e a busca para achar uma solução para melhorar a gestão. Então tive que adotar uma política de gestão na procuradoria para que isso pudesse acontecer e acho que melhorou bastante. Acredito que o maior desafio, também, é essa gestão para reduzir as ações. Às vezes falta um pouco de estrutura, mas estamos tentando fazer da melhor maneira possível com o que temos. Minha prioridade é sempre processos que envolvem saúde, porque estamos lidando com vida – e vida não espera - e tento não deixar nada com um prazo superior a 24 horas parado, principalmente se for saúde.
Jornal do Sudoeste: Faria outra coisa da vida que não fosse Direito?
N.K.O: Hoje eu gosto muito do Direito. É uma área muito ampla e vemos que praticamente em toda esquina tem uma faculdade, observamos com isto que a qualidade da advocacia caiu muito. É uma situação complicada; às vezes você bate o olho em uma petição e nota que a qualidade não é tão boa, que alguns profissionais só querem captação ilícita de clientela e a advocacia, pelas normas que regem a OAB, há muita restrição em relação à publicidade... há uma boa parte deste advogados que fazem muita coisa errada e não vemos tanta fiscalização.
Jornal do Sudoeste: Podemos perceber que você gosta muito de esporte, principalmente trilha, costuma praticar com frequência?
N.K.O: Gosto bastante, mas atualmente não estou tendo muito tempo para praticar. Quando eu era procurador, tinha um tempo mais livre. Nunca competi profissionalmente, é um hobbie que tenho. Também já cheguei a fazer triátlon, mas este é um esporte que também precisa de tempo e o tempo que eu tenho, apesar de ainda fazer academia, eu busco estudar, e na minha posição não posso ficar sem estudar de jeito nenhum, preciso me manter atualizado todos os dias, para não ser surpreendido. Eu sei que não sei tudo, e o que posso fazer para ajudar faço da melhor forma possível porque lidamos com dinheiro público e precisamos prestar contas a população e fazer valer por merecer o que ganhamos.
Jornal do Sudoeste: Qual é o balanço que você desses 36 anos?
N.K.O: Nessa caminhada eu aprendi muito, principalmente quando entrei para a administração pública porque adquiri experiência e muito crescimento profissional, porém, a todo momento temos que inovar, atualizar e buscar conhecimento para aplicar aqui e beneficiar a todos. Sempre penso no que eu poderia fazer para ajudar a gerir da melhor maneira possível a administração no meu âmbito de trabalho. O balanço é sempre positivo e sempre buscando melhorar. Não é bom ficar parado, temos sempre que buscar novas alternativas, soluções e medidas para melhorar a situação de toda a população. A minha maior felicidade vai ser quando houver equilíbrio de interesses entre a administração publica e a população, que passará a não ter nenhuma dificuldade ou do que reclamar, é muito difícil, mas se chegarmos próximos já será muito válido. Sobre o meu balanço de vida, é positividade sempre.