ElY VIEITEZ LISBOA

Fábulas e Parábolas

Por: Ely VIeitez Lisboa | Categoria: Cultura | 06-04-2019 12:45 | 14223
Foto: Reprodução

Fábulas e parábolas são narrativas curtas, de tempos imemoriais. Elas dão lições, tentam ensinar da maneira mais simples; no final, há sempre um ensina-mento, às vezes chamado moral da história. Fedro é dado como o introdutor do gênero. É de sua autoria o famosíssimo texto O Lobo e o Cordeiro. Todavia, o no-me mais expressivo das Fábulas é Esopo, grego que nasceu em 620 a.C. e morreu em 564 a.C. No século XVII, La Fontaine, francês nascido em 1621, reescreveu as fábulas de Esopo, em linguagem clássica, modernizando as narrativas; há também algumas escritas por ele; cite-se como exemplo a deliciosa La Jeune Veuve.

Jesus Cristo ensinava por Parábolas, algumas famosíssimas, vide a do Semeador, plena de sabedoria. Dizem que utilizava o gênero, para ser facilmente compreendido pelo povo. Nosso Mestre entendia de Pedagogia... 

Às vezes se misturam os conceitos de Parábola, Fábula e Apólogo. Tentemos dar uma diferença simples: A Parábola dá uma lição de ética, através de prosa metafórica, para transmitir sabedoria. O termo vem do grego "parabole". A Fábula, em geral, apresenta animais como personagens; eles agem como os seres humanos, com seus vícios e fraquezas. A moral vem em uma frase, no final da narrativa. O Apólogo é um gênero alegórico. São lições de vida, através de situações semelhantes às reais, envolvendo pessoas, objetos ou animais, seres animados ou inanimados. Um dos Apólogos mais famosos é A Agulha e a Linha, de Machado de Assis.

Uma das Fábulas mais conhecidas, A Cigarra e a Formiga, foi reescrita até hoje, por muitos escritores. No entanto, ela é deliciosa na visão da nossa Emília, a contestadora, a personagem mais famosa de Monteiro Lobato. Quem não conhece a historieta, realçando, enfatizando o valor do trabalho e da poupança? A Formiga era precavida, trabalhadeira, prática. A Cigarra, boêmia, boa vida, cantava e dançava. No inverno, doente, fraquinha, a Cigarra pede ajuda à Formiga. Esta, nada cristã, bate a porta na carinha da Cigarra e ainda lhe dá uma lição de moral: Não cantou o tempo todo? Agora dance... Emília detestou a Formiga, amou a Cigarra e reescreveu o final da Fábula: Quando a Cigarra bate à porta da Formiga, esta abre e vê a Cigarra linda, bem vestida, com um casaco de vison. Nossa artista diz à Formiga: Quer alguma coisa de Paris? Fui contratada para cantar e dançar no Olimpia, com excelente cachê! A Formiga, furiosa, lhe diz: Conhece um tal de La Fontaine? Se o encontrar  lá, mande-o para o inferno!

Assim são as Fábulas, eternas. Sua interpretação é riquíssima. Há uma delas, moderna, que já foi citada por muitos e até contada em filmes. É a da Rã e do Escorpião: Houve um dilúvio e o Escorpião chega perto da Rã, todo cavalheiro e lhe propõe que a Rã o atravesse para o outro lado. Os dois seriam salvos. Ao que a Rã retruca: Cuidado, se você me picar, morreremos os dois. "Você está louca, amiga Rã! Jamais farei isto!". E lá vão os dois, atravessando o mar de águas turvas e perigosas. De repente, o Escorpião pica a Rã... Ela, moribunda, lhe diz: "Por Deus, por que fez isto?! Ambos vamos morrer!". O Escorpião responde: "Não consegui deixar de fazê-lo. É minha natureza...".

Gosto muito dessa fábula moderna. Pela vida a fora, eu, Rã por natureza, credulidade ou ignorância, dei muita carona a Escorpiões de várias espécies. E haja picadas... Não me mataram, no sentido denota-tivo do verbo. Talvez apenas arranharam a minha crença nos seres humanos.

(*)Ely Vieitez Lisboa  é escritora.
E-mail: elyvieitez@uol.com.br