MULTAS MG 050

Balança na MG 050 pode estar desregulada e virou indústria de multa

Ônibus é pesado diariamente,  e mesmo faltando três alunos deu diferença de quase 100 quilos a mais
Por: João Oliveira | Categoria: Transporte | 11-04-2019 17:58 | 14044
Estudantes fazem manifesto contra abusos em balança na 050
Estudantes fazem manifesto contra abusos em balança na 050 Foto: João Oliveira/Jornal do Sudoeste

O atraso de quase meia hora na chegada de estudantes à Universidade do Estado de Minas Gerais em Passos, no final da tarde de quarta-feira (10/4), por decorrência de “excesso de peso” na balança de São Sebastião do Paraíso, na MG-050, foi o estopim para o presidente da Acep decidir mobilizar ação contra a empresa AB Nascentes das Gerais, concessionária responsável pela balança no município. A reportagem do Jornal do Sudoeste esteve no local na manhã desta quinta-feira (11/4), onde registrou a queixa de vários condutores que enfrentaram a mesma situação.

De acordo com o empresário Roberto Lara, responsável pelo frete de alunos que estudam em Passos, há mais de sete anos ele realiza a pesagem dos ônibus e nunca enfrentou problemas. No entanto, na quarta-feira, a empresa foi multada sob alegação que estaria excedendo o peso do veículo, o que, segundo ele, não faz sentido, já que é o mesmo ônibus que passa ali diariamente, e ainda faltavam três alunos que não viajaram.

“Fomos autuados na balança em R$135 e ficamos muito indignados, porque passamos aqui todos os dias, realizamos a pesagem, e ontem, que faltavam três alunos para preencher os 50 lugares, o ônibus foi autuado. Nós dependemos de passar aqui todos os dias, então pedimos ao poder público que interceda por nós. Os estudantes perderam meia hora de aula devido ao atraso desta autuação. Agora, temos a preocupação do que será daqui para frente, tendo em vista esses problema recorrente”, destaca.

“Pedimos aos nossos governantes que revejam a questão desta balança em Paraíso. Todos estão reclamando, esta balança está dando uma margem de 10 a 20% a mais no peso dos veículos em relação às outras balanças. Todo mundo que carrega caminhão, a carga sai pesada, não existe alteração. Peço em nome da minha empresa e de várias que dependem disto aqui para trabalhar, que nos ajudem. Eu tenho um frete de R$ 500, se todo o dia eu levar multa, não irá compensar trabalhar”, acrescenta.

Roberto não foi o único que enfrentou problemas. O caminhoneiro Dione Guimarães relata que passou por outras balanças e não havia sido registrado nenhum excesso de peso, no entanto ao passar pela balança na MG-050, foi autuado. Seu destino era de Pratápolis a Jardinópolis, mas após chegar ao seu destino e verificar que não havia excesso de peso, ele retornou para reclamar da situação.

“Estamos indignados. Passei pela manhã, por volta das 4h, e me preocupei quando fui advertido. Há mais de seis meses passo aqui com esse peso, e até discuti com a responsável pela pesagem, que lavrou a multa. Segui a viagem e quando cheguei ao meu destino, pesei o caminhão. Não havia excesso e achei muito errado. Nós estamos na estrada, correndo risco de vida, perdendo companheiros todos os dias e quando chegamos a uma balança, é do jeito deles. Somos multados e fica como querem. Não há ninguém que interceda por nós”, lamenta o caminhoneiro.

O condutor disse que apresentou os documentos à coordenadora responsável, mostrando a diferença de peso entre as balanças, mas que foi informado que não havia nada que pudessem fazer. “Eu vou ter que pagar essa multa, vai sair do meu bolso. Ninguém está nem aí para o caminhoneiro e fica difícil trabalhar desta forma. Os problemas sempre acontecem nesta balança em Paraíso. É muito errado, acredito que deveriam regular esta balança corretamente”, completa.

No local, a reportagem verificou documentação do Inmetro atestando aferição da balança, com validade de 12 meses. No entanto, condutores contestam e acreditam que esteja acontecendo algum problema e que balança não está devidamente calibrada.

Segundo o presidente da Associação dos Transportadores de Passageiros de Pratápolis e Médio Rio Grande (ATPP) e da Associação Cultural e Educacional Paraisense (Acep), Anderson Martins Vieira, o Carioca, há tempos esses caminhoneiros e motoristas de ônibus de passageiros vêm sofrendo com a situação.

“Desde o início do ano estamos viajando e não tivemos problemas como o registrado ontem. É um absurdo, estamos aqui acompanhando e grande parte dos caminhões está dando mais de 600 quilos de diferença e só esta balança está dando problema. Vamos tomar as medidas cabíveis, porque aqui não existe nenhum fiscal do Estado para lavrar essas multas, que estão sendo feitas por uma empresa particular terceirizada, que faz autuação e, segundo nos informaram, depois repassam a este fiscal do Estado”, denuncia.

Carioca, que esteve na balança da MG-050 durante toda a manhã, conta que de cada 10 caminhões passados, 9 foram parados por excesso de peso. “É muito estranho. Todo mundo resolveu andar com excesso de peso? Não estamos culpando nenhum funcionário desta balança, estão cumprindo com o papel deles, mas queremos que seja nos dada uma resposta. Vamos entrar judicialmente. Isto aqui está virando uma indústria de multa”, alegou.

O advogado conta ainda que alguns caminhões que excederam o peso na balança foram liberados pelos fiscalizadores da balança e que, pela manhã, pelo menos quatro ônibus não fizeram a pesagem. “Estamos percebendo que não existe uma regra para todos. Esse peso precisa ser revisto, tentamos comunicar com algum chefe e ninguém nos passou contato, somente quando a imprensa chegou é que nos foi fornecido um número, mas que também não atende. Queremos providências urgentes”, completa.