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Adriana Malaguti de Souza: farmacêutica, por um trabalho humanizado

Por: João Oliveira | Categoria: Entretenimento | 13-04-2019 11:28 | 2697
A farmacêutica Adriana Malaguti de Souza, formada pela Universidade  Federal de Ouro Preto (Ufop), comemorou 40 anos de formação
A farmacêutica Adriana Malaguti de Souza, formada pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), comemorou 40 anos de formação Foto: Francisco Teodoro

A farmacêutica Adriana Malaguti de Souza, formada pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), completou recentemente 40 anos de formação e foi homenageada pela Universidade em encontro que reuniu ex-alunos e professores, e foi regado a muita emoção e lembranças. Adriana sempre buscou prestar atendimento humanizado, principalmente, àqueles que tiveram uma vida de muito trabalho: os idosos. Filha caçula da educadora Carmelia Dramis Malaguti e Álvaro Malaguti, Adriana é casada com o bancário João Batista Teodoro de Souza, mãe da Fernanda Malaguti, Fabrícia e Marcelo. Avó do pequeno Gabriel e da Alice, filhos da Fernanda. Agora ela aguarda um terceiro membro na família, uma criança esperada pela filha do meio, Fabrícia. Aos 63 anos, Adriana conta um pouco da sua trajetória e recorda momentos importantes da sua vida e carreira.

Jornal do Sudoeste: Você foi criada em Itaú de Minas, como foi essa primeira fase?
A.M.S.: Sim, mas nasci em Paraíso, porém, meus pais moraram muitos anos em Itaú, então minha infância até os 10 anos foi naquela cidade. Minha mãe foi professora e diretora da Escala Municipal Cristiano Machado e hoje tem uma escola que leva seu nome em sua homenagem, a Escola Municipal Carmelia Dramis Malaguti. Depois me mudei para Paraíso, onde estudei no Colégio Paula Frassineti e no Estadual, porque naquela época havia o ensino científico e o normal, e como a minha mãe tinha uma ampla visão de educação, me orientou a buscar uma formação mais completa, já que naquela época, formávamos e já podíamos dar aula.

Jornal do Sudoeste: Como foi a infância em Itaú?
A.M.S.: Foi muito boa, e como meu pai trabalhava na Fábrica de Cimento, ele ajudava muito aos funcionários e me recordo que havia um clube muito bom, com piscina; recordo que tinha o cinema, e morávamos em frente a ele e frequentávamos com regularidade e brincávamos muito na rua, na praça, foi uma infância muito feliz onde todo mundo conhecia todo mundo. Porém, tive que mudar para Paraíso, onde fui morar na casa da minha irmã Maria Abadia, porque em Itaú não tinha ginásio. Quando ela voltou para Itaú, fui morar com a minha tia Terezinha Dramis, que morava em frente a Praça da Fonte. Meus avós e tios moravam todos ali, então fomos criados naquele endereço.

Jornal do Sudoeste: Você era muito estudiosa?
A.M.S.: Sempre. Como estudei no grupo que minha mãe foi professora e diretora, foi uma educação muita rígida e eu tinha que ser um exemplo, e nunca dei trabalho para a minha mãe, mesmo porque fui acostumada desde a infância a estudar e seguia o exemplo dela. Depois vim para Paraíso, e quando me formei no colegial, fui para Ribeirão Preto fazer cursinho pré-vestibular, onde conheci meu marido, João Teodoro, com quem me casei e tive três filhos.

Jornal do Sudoeste: Por que decidiu estudar farmácia e bioquímica?
A.M.S.: Na época meu pai queria que eu estudasse direito, mas me identifiquei mais com a área da saúde e foi por isto que escolhi a Farmácia. Na minha época, formava-se o farmacêutico clínico, que prestava um atendimento ao paciente que procurava a farmácia, então eu aferia a pressão, orientava como tomar os medicamentos. É algo que não existe mais e é uma luta para que volte como era, inclusive para o farmacêutico ter um pequena clínica dentro da farmácia para conversar com as pessoas. Hoje em dia o farmacêutico está mais para entregar o medicamento que para orientar.

Jornal do Sudoeste: O farmacêutico também precisa conhecer todo esse funcionamento do corpo humano para medicar, não é apenas entregar o remédio...
A.M.S.: Precisa de todo esse conhecimento, desta interação medicamentosa com o organismo, como o paciente deve tomar o medicamento, porque às vezes você toma um remédio e não faz efeito, isso acontece porque você pode ter tomado ele de estomago cheio e não era para ser assim ou vice versa; são orientações que só o farmacêutico pode lhe dar.

Jornal do Sudoeste: Como surgiu Ouro Preto nesta história?
A.M.S.: Pelo meu irmão, que também estudou em Ouro Preto e a família ia muito para lá visitá-lo. Além disto, tive amigas que também se mudaram para Ouro Preto para estudar e, diante destas influencias, isto acabou me incentivando e fui para lá.

Jornal do Sudoeste: É uma cidade muito diferente da realidade que você estava acostumada?
A.M.S.: Sim. No começo você assusta, porque é uma cidade única, no sentido da estrutura; é uma cidade histórica. Todavia, conforme você vai fazendo amizades e se habituando, você se acostuma. A Faculdade é muito boa e hoje há vários cursos, inclusive medicina que não tinha na minha época. A universidade se ampliou muito. Recordo que na minha época éramos muito unidos, porque Ouro Preto é uma cidade longe de tudo e não havia como ficar visitando nossa casa com frequência, então convivemos bastante tempo juntos. A universidade recebia estudantes de toda a América Latina e de todo o Brasil. Ouro Preto tinha uma questão cultural muito forte, tinha o teatro que recebia muitos artistas famosos; havia o festival de inverno, enfim, era uma cidade de clima mais frio e aconchegante.

Jornal do Sudoeste: Você sente saudades de lá?
A.M.S.: Sinto saudades da cidade e dos amigos, da minha turma; inclusive temos grupo no whatapp onde conversamos, mas recentemente nos encontramos e matamos um pouco dessa saudade. O reencontro é muito interessante porque o que senti quando vi meus amigos é que o tempo não passou e nem fazia tanto tempo que estávamos longe. Nós convivemos muito tempo juntos durante a formação porque era difícil voltar para casa e todo mundo morava muito distante. Apesar de termos tomados rumos diferentes, através das redes sociais nós conhecemos as famílias um dos outros e o contato ainda permanece. Foram 40 anos, mas não parece que passou todo esse tempo.

Jornal do Sudoeste: Depois que se formou, o que você fez?
A.M.S.: A época meu marido era gerente do Barco Real e foi transferido para Ribeirão Preto, onde morei por seis anos. Nesse tempo trabalhei e fiz outros cursos, como em Homeopatia e Terapeuta Floral. Aproveitei que estava morando fora e, mesmo tendo crianças pequenas, continuei estudando. Lá, frequentei o Instituto Lamasson IDIS Saúde Integrativa, gostava muito de atuar nesta área de homeopatia e durante 10 anos trabalhei na Farmácia Ana Terra com homeopatia e florais; trabalhei em drogaria e me sinto uma farmacêutica completa, porque trabalhei com um pouco de tudo. Também ia à casa de idosos onde aferia pressão, aplicava injeções se precisassem, então também me preocupava com este atendimento humanizado.

Jornal do Sudoeste: É o que isto que falta hoje em dia...
A.M.S.: Sim, hoje está se precisando de médicos de alma, que prestem mais atenção nas pessoas. A vida está tão corrida, os profissionais têm atendido as pessoas sem prestar muito atenção. O que percebo, também, é que as pessoas chegam à farmácia carentes, sem saber o porquê elas estão tomando aquele medicamento, isso porque às vezes, com o médico, esse paciente não tem a mesma liberdade com o farmacêutico para tirar essas dúvidas.

Jornal do Sudoeste: Existe um tabu muito grande envolvendo a homeopatia...
A.M.S.: Sim, nem todo mundo acredita deste tratamento e em Paraíso temos apenas dois médicos especialistas neste assunto. A homeopatia é muito recomendada para doenças crônicas e também como prevenção, por exemplo, no caso de uma pessoa com bronquite. Muita gente não acredita na homeopatia, mas ela é a base plantas, como a maioria dos medicamentos alopáticos (apesar da química). A homeopatia precisa ser um tratamento continuo e quem faz, dispensa o uso de medicamentos e antibióticos. No entanto, se a pessoa possui comorbidades, como hi-pertesão e diabetes, neste caso o tratamento deve ser feito com a alopatia.

Jornal do Sudoeste: Você foi homenageada em Ouro Preto. Como foi viver esta emoção?
A.M.S.: Foi uma festa linda que começou com homenagens aos estudantes com 65 anos de formação. Havia farmacêutico até de bengala e um deles a neta subiu no palco e recebeu a homenagem. Foi uma homenagem linda e gratificante. A minha escola de Farmácia, que fez 180 anos, é a mais antiga da América Latina. Foi tudo muito bonito.

Jornal do Sudoeste: É retornar a Ouro Preto. Como foi esse reencontro?
A.M.S.: Fazia muito tempo que não ia a Ouro Preto. Foi emocionante e, toda vez que retorno, vou aos mesmos lugares, lá tem as Igrejas, museus, feiras. Hoje a minha escola virou um museu, e existe uma batalha para conseguir verbas e manter a escola, porque está em falta. O prédio é tombado pelo patrimônio histórico.

Jornal do Sudoeste: Qual é o balanço que você faz de toda esta trajetória?
A.M.S.: Sinto-me realizada porque a minha parte como farmacêutica, em ajudar as pessoas, principalmente aos idosos, e não estar ali simplesmente para entregar remédio. Sinto-me muito feliz por ter seguido meu trabalho com muita honestidade e humildade, também. Sinto-me também muito feliz por ver meus filhos encaminhados e batalhei muito para isto também. Tenho muito a agradecer a Deus.