POLE POSITION

De dobradinha em dobradinha

Por: Sérgio Magalhães | Categoria: Esporte | 21-04-2019 09:49 | 4009
Enquanto a Ferrari não se acha, a Mercedes faz três dobradinhas em três corridas
Enquanto a Ferrari não se acha, a Mercedes faz três dobradinhas em três corridas Foto: Motorsport Images

Nos tempos de Fórmula 1 moderna, a última vez que uma equipe fez três dobradinhas nas três primeiras etapas do campeonato foi em 92 com a Williams. A diferença é que naquela época os carros da Williams eram infinitamente superiores aos da concorrência, o que não é o caso da Mercedes que desde a introdução da era híbrida, em 2014, já teve carros muito superiores ao modelo W10 que Lewis Hamilton e Valtteri Bottas pilotam neste ano.

A Mercedes impressiona pela eficiência de seu grupo de projetistas e engenheiros em conseguir extrair performance quando a vantagem não está a seu favor. Lewis Hamilton disse após vencer o GP de número 1000 da história da Fórmula 1, em Xangai, que a vitória teve sabor especial porque foi obtida depois de reverter uma situação desfavorável de um final de semana que começou ruim para ele (Hamilton).

Lewis que agora é líder do campeonato e dono de 75 vitórias na Fórmula 1, é outro exemplo de capacidade acima da média em reverter situações desfavoráveis. Ele mesmo disse no sábado ficar surpreso que a volta muito boa que fez na primeira tentativa do Q3 (terceira parte do treino de classificação) foi meio segundo mais lenta que a de Bottas. E em cima disso, estudou onde o companheiro de equipe era mais rápido e conseguiu reduzir para apenas 0s023 a diferença no final do treino. Na largada, superou o pole, Bottas, e não deu chances pra ninguém.

A Mercedes não poderia sonhar com melhor começo de campeonato depois do que viu a Ferrari fazer nos testes de pré-temporada. É possível ver (e o GP do Bahrein é uma prova) que a Mercedes não tem um carro tão superior ao da Ferrari que justificasse as três dobradinhas seguidas - Austrália, Bahrein e China -, mas enquanto a Ferrari rema contra a maré, Hamilton e Bottas nadam de braçada.

Na China foi um tiro no pé a falta de critérios na hora de decidir o que fazer (ou não fazer) com seus pilotos. Pela segunda vez em três corridas veio a ordem para Charles Leclerc dar passagem para Sebastian Vettel, e o resultado disso só faz desgastar ainda mais a imagem da equipe além de criar saia justa entre seus próprios pilotos. O promissor Leclerc tem saído no prejuízo. No Bahrein perdeu uma corrida ganha por problema mecânico nas últimas voltas, e na China terminou em 5º por conta de erro grosseiro dos estrategistas da Ferrari.

Se tivesse deixado o jovem monegasco seguir em frente quando ocupava a 3ª posição, em Xangai, as chances de fazer 3º e 4º eram muito maiores do que apostar num Vettel que estava no mesmo ritmo do companheiro de equipe. O desfecho de mais uma barbeiragem estratégica foi a perda do 4º lugar na corrida para Max Verstappen, com a Red Bull, que não vai demorar em ser a principal adversária da Mercedes se a Ferrari continuar dando bobeira.

Impressionante como a Ferrari não consegue se livrar de uma filosofia de trabalho que nem sempre é garantia de sucesso e mais causa ódio do que amor por uma marca emblemática da Fórmula 1. Por mais que eu compreenda os interesses da equipe - e eles estão sempre acima da vontade dos pilotos -, me faz pensar até que ponto a escuderia italiana é capaz de administrar com inteligência dois pilotos de ponta? Se era para Vettel ter todos os privilégios de primeiro piloto, teria sido menos desgastante se tivesse promovido o atual piloto da Alfa Romeo, e da academia da Ferrari, Antonio Giovinazzi, como companheiro do alemão, e deixado Leclerc por mais um ano na Alfa Romeo.

A Ferrari está ‘perdidinha’ num começo de campeonato que ninguém em Maranello imaginava fosse tão conturbado. Enquanto isso, a Mercedes agradece e já abre 57 pontos de vantagem no Mundial de Construtores, e Hamilton lidera o de pilotos com 68 pontos, contra 62 de Bottas, 39 de Verstappen, 37 de Vettel e 36 de Leclerc.