A psicóloga Fernanda Bechara Marquezini Mafra, mudou-se recentemente para São Sebastião do Paraíso após se casar com o engenheiro e professor universitário Rafael Gonçalves Mafra. Filha dos médicos Daisy Coury Bechara e Paulo Cesar Marquezini, Fernanda é natural de Poços de Caldas, cidade onde viveu até os 17 anos, antes se mudar para São João Del-Rey, onde se formou. Agora, em Paraíso, a psicóloga pretende continuar se dedicando a profissão e ao auxilio na melhoria da qualidade de vida de todos aqueles que necessitam.
Jornal do Sudoeste: Como foi sua infância e formação escolar?
F.B.M.M.: Sou natural de Poços de Caldas, onde passei toda a minha infância, lá estudei no Colégio Jesus Maria José. Aos 17 anos prestei vestibular para Psicologia em São João Del-Rey, para onde me mudei.
Jornal do Sudoeste: Como Paraíso surgiu na sua vida e o que você está achando da cidade?
F.B.M.M.: Mudei-me para Paraíso em janeiro deste ano, após me casar. Conheço a cidade há aproximadamente oito anos, vindo passar férias ou feriados aqui. Comecei a conhecer a área profissional agora, sentindo-me bastante acolhida. Tenho buscado conhecer os serviços de saúde, assistência social, educação e outros prestados pelo município e como posso auxiliar com minha formação e experiência.
Jornal do Sudoeste: Qual sua experiência profissional?
F.B.M.M.: Após me formar, em 2010, mudei-me para Itajubá, onde passei a trabalhar como psicóloga da Prefeitura nos equipamentos da Assistência Social, Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e após Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS). Durante os oito anos que atuei naquela cidade, sempre estive envolvida nas políticas públicas, participando de conferências, conselhos, fóruns, capacitações e congressos, o que me proporcionou conhecimento a respeito de políticas públicas, especialmente as da Assistência Social. Atuei também como psicóloga clínica, atendendo em consultório com a abordagem da psicologia Terapia Cognitiva-Comportamental. Interesso-me também pela questão da Dependência Química, e atuei com atendimento clínico a dependentes e familiares e em programas de prevenção ao uso de álcool e outras drogas. Realizei cursos de especialização e capacitações nestas áreas. Atualmente atendo na Clínica de Especialidades Núcleo Psique, localizada na Avenida Dr. Delfim Moreira, 1448, Centro, São Sebastião do Paraíso. Iniciei também uma especialização em Avaliação Psicológica na PUC (Pontifícia Universidade Católica) em Poços de Caldas, área que interesso em aprofundar meus conhecimentos.
Jornal do Sudoeste: Você estranhou quando veio de Itajubá à Paraíso?
F.B.M.M.: Vir para Paraíso me trouxe oportunidade de me firmar como psicóloga clínica, área que estou investindo nos estudos e atuação. A mudança veio atrelada à necessidade de conhecer pessoas que trabalham e se interessam pela área da saúde, o que vem me proporcionando novas descobertas dentro da psicologia e potenciais profissionais até então desconhecidos. Deixar uma vida já estabelecida traz saudades, seja da cidade, trabalho, amigos, rotina, porém busco enxergar este momento como uma fase de transformações e crescimento.
Jornal do Sudoeste: Por que decidiu estudar psicologia?
F.B.M.M.: Sempre estive inserida na área da saúde devido ao meu meio familiar, considerando o trabalho como a atenção e atendimento ao outro. Percebo-me como uma pessoa interessada em escutar e compreender as pessoas, suas histórias de vida, tentando entender seus sentimentos, pensamentos e comportamentos. O conhecimento de si próprio, com o auxílio das teorias e técnicas psicológicas, pode levar o ser humano a transformações em suas vidas. Acredito que estes foram alguns fatores que me levaram a escolher a psicologia como profissão.
Jornal do Sudoeste: Como é o dia a dia do profissional da psicologia?
F.B.M.M.: O psicólogo necessita ter uma escuta atenta, colocando-se no lugar do outro para conseguir entendê-lo. Cada situação é percebida de uma determinada maneira de acordo com cada pessoa, sendo influenciada por sua história de vida, criação, experiências. Assim, o psicólogo deve estar sempre em uma posição de não julgamento, para que possa realmente auxiliar o cliente em suas necessidades. Este é um exercício constante, quando deixamos de lado nossas crenças, expectativas do que o outro deveria fazer, do que é o certo e errado e compreender a experiência de cada um. É uma profissão muito gratificante, ao percebermos que podemos auxiliar, por meio da escuta, na mudança de vida de outra pessoa. A transformação irá partir do movimento do cliente: semeamos algo, auxiliamos no caminho a ser traçado, mas ele é o protagonista de sua história.
Jornal do Sudoeste: Quais são os maiores desafios que você enfrenta como psicóloga?
F.B.M.M.: Os desafios enfrentados em nosso dia a dia dizem respeito ao reconhecimento e valorização de nossa profissão. A psicologia foi regulamentada no Brasil em 1962, ainda não tendo chegado aos seus 60 anos. Ela passou de um caráter exclusivamente clínico e elitista para integrar as políticas públicas, proporcionando o acesso aos serviços a uma maior parte da população. Assim, nossa profissão vem se transformando a cada dia, sendo que nós, profissionais, ainda estamos conquistando nosso espaço e nos fazendo ser reconhecidos pela sociedade. Buscamos melhores condições de trabalho, salário, abertura para a atuação nas diversas áreas em que somos capacitados, como empresas, hospitais, escolas, universidades, instituições sócio assistenciais.
Jornal do Sudoeste: Qual a importância do psicólogo para o cidadão?
F.B.M.M.: Enfrentamos desafios diários em nossas vidas e muitas vezes não conseguimos elaborá-los de uma maneira saudável. Atrelados às nossas experiências de vida, predisposições, personalidade, podemos entrar em sofrimento e até mesmo vir a desenvolver transtornos, como ansiedade, depressão, pânico, fobias, ideações suicidas. O psicólogo pode auxiliar tais indivíduos bem como aqueles que desejam se conhecer melhor, a ter uma melhoria em sua qualidade de vida. O setting psicoterapêutico é um espaço sigiloso, sem julgamentos, onde a pessoa pode ser quem realmente é, sem sofrer repreensões e críticas. No momento que a pessoa está em psicoterapia, terá um espaço para se colocar e se conhecer, percebendo seus pensamentos, sentimentos e comportamentos e como estes podem estar prejudicando seu dia a dia. Com o auxílio da psicologia, o cliente pode começar a enxergar uma nova maneira de pensar, de se ver, de olhar o mundo e os outros e a ter recursos para enfrentar suas dificuldades.
Jornal do Sudoeste: Ainda há resistência e preconceito na busca pelos profissionais da saúde mental?
F.B.M.M.: Percebe-se que algumas pessoas ainda consideram o psicólogo como profissional para “loucos”, tendo receio de procurar um tratamento. Há a incompreensão de que cuidar da saúde mental é cuidar de vários aspectos da vida, uma vez que, uma pessoa em sofrimento, poderá ter sua saúde física bem como relações conjugais, familiares e sociais prejudicadas. O psicólogo faz parte da equipe multidisciplinar do cuidado à saúde, proporcionando uma melhor evolução no tratamento de diversas patologias. Além da saúde mental, o psicólogo pode contribuir em outras áreas: dentro da organização, pode auxiliar na melhoria de relações e na qualidade de vida dos trabalhadores; nos hospitais, atender ao sofrimento de pacientes, familiares e profissionais desgastados pelos processos de doenças; nas escolas e universidades, estimular a reconfiguração dos processos de aprendizagem muitas vezes esgotantes; nas políticas públicas, empoderar a população como sujeitos de direitos. Assim, a psicologia vai muito além das portas fechadas de um consultório, ao auxiliarmos no cuidado à saúde de todos os envolvidos nestes ambientes.
Jornal do Sudoeste: Hoje fala-se muito na depressão e no suicídio, assuntos que até então eram tabus na sociedade. Qual a importância de se falar e discutir esses temas?
F.B.M.M.: No momento em que se fala sobre estes temas, abre-se a possibilidade de uma discussão por toda sociedade. Passamos a compreender o sofrimento do indivíduo permeado por questões familiares, culturais, sociais, políticas. Quebra-se o tabu de que estas situações só acontecem com um certo grupo de pessoas, muitas vezes tidas como “fracas”, e discute-se estas questões a nível social. O indivíduo e a família que estão em sofrimento percebem que não estão sozinhos, que há possibilidades de melhoria da situação, existindo uma assistência qualificada e eficaz para tratar estas questões. Produz-se o entendimento destas situações, estimulando a procura por auxílio. Quando estes temas não ficam restritos ao consultório médico, que muitas vezes não é acessível a grande parcela da população, começa-se a pensar em serviços de atendimento, políticas públicas, aprimoramento de pesquisas e capacitação profissional, necessárias para atender estas problemáticas.
Jornal do Sudoeste: Você acredita que falta acesso a este profissional por meio de políticas públicas?
F.B.M.M.: Atualmente o psicólogo está inserido nas estratégias de saúde da família, no NASF, nos CAPS, nos hospitais, nos CRAS, CREAS, instituições de acolhimento institucional, nas escolas e universidades. Porém, percebe-se que há poucos profissionais atuando nestes equipamentos, com vínculos trabalhistas fragilizados, muitas vezes não conseguindo suprir toda a demanda de atendimento. Outra questão é o que é demandado ao psicólogo. Muitas vezes, espera-se que o mesmo faça atendimento clínico individual, solicitação esta atrelada ao nosso histórico profissional. Entretanto, o nosso papel nas políticas públicas é o de transformação da realidade social, buscando empoderar os indivíduos como sujeito de direitos já estipulados pelas legislações, trazendo melhorias nas relações familiares, conjugais, sociais, muitas vezes adoecidas. O psicólogo busca proporcionar o protagonismo do indivíduo, considerando-o capaz de transformações.
Jornal do Sudoeste: O que podemos dizer àqueles que estão passando por problemas emocionais e precisam de ajuda?
F.B.M.M.: É importante que a pessoa que esteja passando por problemas emocionais considere o que está sentindo, uma vez que, assim, poderá se compreender melhor. Os sentimentos nunca vêm sozinhos, estão atrelados aos nossos pensamentos. A forma como enxergamos as situações irão influenciar nossos comportamentos, que podem trazer benefícios ou prejuízos às nossas vidas. Este processo de autoconhecimento pode nos levar à percepção de uma nova maneira de encarar as situações vivenciadas, auxiliando-nos a lidar melhor com as mais diversas experiências que podem nos trazer sofrimento, como as perdas, frustrações, doenças, problemas conjugais e familiares. Caso a pessoa perceba que tais situações estão lhe afetando gravemente, prejudicando sua saúde física, mental, suas relações conjugais, familiares, sociais, é importante que procure um profissional da saúde para que seja escutado e auxiliado da melhor formar possível.
Jornal do Sudoeste: Quais são seus planos (curto, médio e longo prazo) para este novo momento da sua vida?
F.B.M.M.: Meus planos são continuar investindo em minha carreira profissional como psicóloga, auxiliando na melhoria da qualidade de vida de todos que necessitam e desejam passar por um processo psicoterapêutico.
Jornal do Sudoeste: Qual é o balanço que você faz da sua trajetória até agora?
F.B.M.M.: Sinto-me feliz com meu momento de vida e oportunidades que já tive e continuo tendo. Acredito que estou trilhando um caminho profissional com responsabilidade, respeito ao outro e busca de aprimoramento.