(*) Ely VIeitez Lisboa
É comum, às vezes, ouvir alguém afirmar que não gosta de poesia. Inicialmente, é preciso esclarecer sobre um erro comum: quando se fala de textos poéticos, com poemas e versos, não é correto dizer que é poesia, mas poemas. Poesia é o gênero literário, assim como a prosa.
Se às vezes alguém pensa que não gosta de poemas é porque eles são escritos em linguagem conotativa, portanto mais difícil de se entender. Ela requer interpretação, porque tem metáforas e outras figuras de linguagem. Veja-se como exemplo, no famoso poema de Carlos Drummond de Andrade, Rola Mundo, em a Rosa do Povo (1943-1945): "Como vencer o oceano / se é livre a navegação / mas proibido fazer barcos". Em três versos, todo um tratado sobre a liberdade humana e o livre arbítrio. Ao mesmo tempo, um certo pessimismo sobre a propalada liberdade humana, que, na realidade, é um sofisma, uma farsa.
Assim, a leitura de todo poema requer interpretação, inteligência e conhecimento da linguagem figurada. Por esta razão, muitas pessoas afirmam não gostar de poesia. Na realidade, não a compreendem, ou têm preguiça mental de tentar entendê-las. Os poetas têm antenas especiais e rara sensibilidade, além do conhecimento da linguagem.
Certa vez fiz uma experiência, lendo para uma classe adulta de universitários que cursavam exatas e afirmavam detestar a leitura de poemas. Após a primeira leitura, reclamaram nada entender do poema Receita de Mulher, de Vinícius de Morais. Após minha interpretação, um dos alunos, com mais de quarenta anos, encantou-se com o texto, elogiando Vinicius de Morais, com entusiasmo.
Os poetas enriquecem a vida, com seus poemas. Drummond, às vezes simples, às vezes mais complexo, Bandeira, mais popular, com obra famosíssima, Manuel de Barros, recriando a linguagem, Cecília Meireles, pura sensibilidade, Maria Carpi, uma das linguagens mais ricas metaforicamente, na Poesia Brasileira, Carlos Nejar (este ano indicado para o Nobel de Literatura), com uma obra poética riquíssima, todos eles e muitos outros, são um tesouro literário da Poesia Brasileira.
Nas escolas dever-se-ia dar mais ênfase à leitura de poemas. Talvez funcionasse como um dos antídotos contra a violência que atualmente grassa como erva maldita entre os jovens. Usar poemas simples e profundos como o da grande poetisa Adélia Prado, que às vezes, em sua obra notável, nos presenteia com textos belíssimo, de aparente simplicidade: "A borboleta pousada / ou é Deus / ou é nada".
Enfim, minha defesa da Poesia é muito pobre, mas pode ser um dos vários caminhos contra nosso conturbado mundo tão violento.
(*) Ely Vieitez Lisboa é escritora.
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