A pedagoga Romilda Hilário da Silva Gonçalves trabalhou durante muitos anos na Educação e já deu aula para muitos paraisenses. Sempre bem humorada e sorrindo, estas são características que nos marcam quando a conhecemos e notamos em seu semblante uma luz especial. Muito querida, Romilda construiu ao longo da sua vida sólidas amizades e uma carreira reconhecida e respeitada entre seus colegas de profissão. Filha de Bento Hilário (em memória) e Maria Piedade dos Santos Barbara, é casada há 34 anos com Sebastião Cassimiro Gonçalves Filho, e mãe do Flávio Cassimiro. Trabalha como segunda tesoureira do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de São Sebastião do Paraíso (SEMPRE), onde já está há cerca de 10 anos. Com o sorriso de sempre, é bem humorada (e um pouco tímida), que ela recebe a reportagem do Jornal do Sudoeste para contar um pouco da sua trajetória.
Jornal do Sudoeste: Como foi sua infância em Paraíso?
R.H.S.G.: Foi uma infância um pouco conturbada, porque meus pais se divorciaram quando eu ainda era pequena, tinha seis anos. A nossa condição financeira não era boa, mas depois minha mãe se casou novamente e foi muito feliz nesse casamento; meu padrasto também já faleceu. Para uma criança, essa situação de separação é algo que nos marca muito, entretanto não foi algo que me prejudicou e, diante disto, tocamos nossas vidas, nos adaptamos aquela nova realidade e ao segundo casamento de minha mãe. Foi uma infância até “mais ou menos”.
Jornal do Sudoeste: Onde você estudou em Paraíso?
R.H.S.G.: Fiz os anos iniciais na Escola Municipal Noraldino Lima e o fundamental e ensino médio no Colégio Paula Frassinetti, foi lá que peguei gosto pela Pedagogia. Depois fiz faculdade e uma pós-graduação, ambas em Pedagogia. Como aluna, eu era uma boa menina, não era nota 10 e aplicadíssima, mas tinha um bom aproveitamento, era um pouco hiperativa, mas isso até hoje (risos). Sempre busquei ser melhor em tudo. Consegui entrar no ensino superior e me formar – com muito custo porque ganhei bolsa e também fiz um financiamento estudantil. Foi uma fase complicada, principalmente porque foi algo que mexeu no financeiro. Felizmente, naquela época ganhei uma bolsa de estudos da Prefeitura e isso foi muito gratificante.
Jornal do Sudoeste: Você já era servidora pública municipal?
R.H.S.G.: Sim, entrei antes de me formar, em 1985. Naquela época o Djalma conseguiu me encaixar no quadro de servidores e quando me formei entreguei meu diploma. Trabalhei na Educação até 2008, e em março daquele ano vim trabalhar no Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de São Sebastião do Paraíso (SEMPRE).
Jornal do Sudoeste: Por que você decidiu estudar Pedagogia?
R.H.S.G.: Era praticamente um sonho que eu tinha, porque naquela época não tínhamos grandes ideais e perspectivas de trabalhar em outras áreas. Acredito que foi uma vocação que descobri quando estava do Colégio das Irmãs. Acabei fazendo da educação minha profissão. Dei aulas para muita gente, muitos já estão formados e casados, foi uma trajetória muito boa e muito gratificante ao longo desses 22 anos que fiquei em sala de aula. Aprendi muito com os meninos, eram crianças muito boas (hoje sabemos como está difícil a educação dessa nova geração).
Jornal do Sudoeste: Em quais escolas você ministrou aulas?
R.H.S.G.: Foram muitas escolas em Paraíso e região. Dei aula na escola dos Marques, na Rocinha, na Faxina, em Olhos D’agua, no Barreiro, na Escola Municipal Ibrantina Amaral, em uma escola chamada Três Porquinhos e no Jardim Itamarati, depois disso voltei para o Ibrantina. Depois de toda essa trajetória vim para o Sindicato, onde já faz 10 anos que estou. Aqui aprendi muito com a minha amiga Rejane Tenório, e já faz três gestões que estamos juntas nessa luta. É um aprendizado diário, principalmente sobre as leis que protegem os direitos dos servidores públicos municipais. Aqui trabalhamos em prol do servidor, garantindo os direitos e deveres de cada um e tem sido muito boa essa fase.
Jornal do Sudoeste: Teve algum momento que a marcou em sala aula?
R.H.S.G.: Acredito que tenha sido os cursos que fiz ao longo da carreira e que foram muito proveitosos para meu trabalho em sala de aula. Hoje acredito que se fosse para eu voltar para a sala de aula, já me sentiria mais perdida porque aconteceram muitas inovações na educação durante esse período que estive fora. Em relação a alunos, nunca houve uma situação que me marcasse negativamente.
Jornal do Sudoeste: Você esteve muitos anos em sala de aula. Naquela época era mais difícil do que hoje em dia?
R.H.S.G.: Para mim, que está fora da sala de aula há bastante tempo, acredito que não. Hoje a educação mudou muito e a tecnologia é algo que acompanhou esse desenvolvimento e também mudou muito. Atualmente as escolas têm computadores, são atividades diferentes então, para mim, voltar para a escola seria como começar do zero. Os planos de aula também mudaram e naquele tempo era mais simples e sucinto.
Jornal do Sudoeste: Como você enxerga essas mudanças que têm acontecido no campo da educação?
R.H.S.G.: Traçando um paralelo de como era e como é hoje, nota-se a “evolução” que aconteceu no campo na educação, tanto no que se diz respeito a avaliação do aluno quanto ao ensino. A impressão que eu tenho é que naquele tempo o rendimento do aluno era melhor e ele saia da escola realmente preparado para enfrentar o mundo; houve muita evolução, sim, mas no meu ponto de vista, o ensino era mais sólido que hoje. Tendo em vista o cenário atual, vejo com retrocesso, tristeza e preocupação as mudanças que tem sido propostas para Educação e, como eu disse, a criança de antes tinha uma boa base e um aprendizado mais eficiente para a leitura e para se tornar um alfabetizado melhor.
Jornal do Sudoeste: Qual a importância do professor e como você encara as políticas atuais para a educação?
R.H.S.G.: O professor não é valorizado, principalmente tendo em vista o quão difícil é sua formação, as condições em que ele trabalha e o tempo que ele precisa atuar para se aposentar-se. Tais políticas apenas incentivam o desrespeito. Ser professor não é fácil, é uma profissão que exige muito da pessoa, que não trabalha apenas na escola, mas leva também o trabalho para casa, precisa suportar cobrança da Secretaria de Educação e da sociedade. Apesar do professor ser fundamental para a formação crítica e ética do cidadão, não existe um retorno condizente com a profissão. Existem outras áreas importantes, sim, mas o professor é a base de tudo.
Jornal do Sudoeste: Você viu com bons olhos a mudança de governo?
R.H.S.G.: Infelizmente não, porque lamentavelmente as ações atuais do governo estão sendo contrárias a toda base da sociedade e que não tem firmeza em nada, desprezando a minoria e governando para uma maioria de maior poder econômico. É um governo que observamos nitidamente que está perdido e propondo mudanças quem têm feito algumas áreas retroceder, o que tem prejudicado, principalmente, a população mais carente. Na educação, observamos todos esses cortes de verbas, fechamentos de faculdades que já não conseguem mais se sustentar, entre outros fatos lamentáveis.
Jornal do Sudoeste: Qual o balanço que você faz dessa trajetória?
R.H.S.G.: Sou uma pessoa muito tranquila (apesar do meu hiperativismo). Não gosto muito de ficar em casa e sou aquela que gosta de fazer muito amigos e tenho muitos amigos. Sempre fui muito dedicada, no trabalho ou em casa e sempre fui muito família, que é de onde saem as coisas boas. Adoro passear, ir para o rancho, é uma vida muito ativa e bem vivida; um dia a dia gostoso, com Deus e sempre caminhando. Considero-me um ser humano muito bacana e não sou de guardar mágoa e rancor de ninguém, estes são sentimentos que não fazem parte da minha vida.