Niki Lauda estava quase morto no hospital após sair milagrosamente com vida do que restou da Ferrari em chamas do acidente de Nurburgring, em agosto de 1976.
A disputa pelo título daquele ano estava restrita a Lauda e James Hunt, da McLaren. Ainda no hospital, o austríaco recebeu extrema-unção de um padre e sabe-se lá como, 41 dias depois de sofrer graves queimaduras no rosto e inalar fumaça tóxica, Lauda estava de volta não só ao mundo dos vivos como ao cockpit da Ferrari para o GP da Itália, em Monza.
Era uma época em que as coberturas de Fórmula 1 não tinham a abrangência que se tem hoje, e talvez por isso, a mais insana das atitudes já tomada por um piloto, acabou virando heroísmo de Lauda. Tinha que ser corajoso ao extremo alguém que ainda com o rosto desfigurado e a cabeça envolvida por faixas de curativos, entrar num carro de corrida numa época em que a segurança apenas engatinhava pelas retas e curvas das pistas por onde a categoria passava.
Lauda queria voltar logo porque ficar na cama pensando no que havia acontecido o prejudicaria ainda mais, não no campeonato, mas o lado psicológico. E acelerou ainda mais o desejo de retornar às pistas quando soube que a Ferrari havia contratado como seu substituto, o argentino Carlos Reutemann, a quem Lauda não nutria simpatia.
Foram horas intensas de fisioterapias e massagens para estar em condições de pilotar novamente. Neste ínterim, Lauda disse ter descoberto o quanto amava as corridas.
Na Ferrari, todos ficaram assustados quando ele apareceu na fábrica, em Maranello, 38 dias após o acidente e disse que estava pronto para correr. Poucos acreditavam que seu retorno fosse possível ainda naquele ano. A equipe ficou de saia justa e foi preciso inscrever um terceiro carro para Reutemann que estava inscrito para a corrida ao lado do outro piloto da Ferrari, Clay Regazzoni.
Enquanto Lauda se recuperava, Hunt somou 21 pontos e diminuiu para apenas 2 a vantagem do austríaco que ainda era o líder do campeonato.
Na sexta-feira choveu em Monza, e Lauda provou de sua fragilidade até então desconhecida: “Quando entrei no carro veio um medo tão grande que toda a motivação foi para o espaço”, revelou somente anos depois já que não podia demonstrar qualquer desconforto. Se demonstrasse, estaria entregando o ouro para o bandido(!). A sua ‘cora-gem’ era um tiro certeiro na guerra psicológica contra Hunt.
Lauda foi buscar forças no quarto do hotel e no sábado fez o 5º tempo, melhor que os outros dois companheiros de equipe. Um tremendo golpe em Hunt que ainda foi punido por conta de irregularidades no combustível da McLaren e teve que largar das últimas posições.
No domingo Lauda fez corrida sólida e terminou em 4º. Quando tirou o capacete, a balaclava (máscara anti-chamas) estava encharcada de sangue e as feridas abertas no rosto e na cabeça.
Os três pontos do GP da Itália ampliaram para 5 a vantagem sobre Hunt que não terminou a corrida. E no final do ano Lauda perderia o título por um ponto (69 a 68) por tomar outra atitude corajosa, desta vez ao recusar correr nas condições precárias do chuvoso GP do Japão.
A rivalidade entre Niki Lauda e James Hunt foi parar nas telas dos cinemas com o filme “Rush”, um dos melhores do segmento já produzido, e também nas páginas do livro “Corrida para a glória”, de Tom Rubython.
Por tudo isso e muito mais, Andreas Nikolaus Lauda, ou simplesmente, Niki Lauda, se tornou figura tão emblemática e que deixou um grande vazio na Fórmula 1.