O administrador de empresas e músico, Thiago Machado Paschoini, há pelo menos 25 anos vem trabalhando com música e deixando sua marca registrada na história de Paraíso. Apaixonado pelo o que faz, ele encara o ofício de músico como um hobby levado a sério já que, assim como a maioria de seus colegas, não vê perspectivas para se viver apenas para isto em Paraíso. Embora reconheça essa dificuldade, ele não desiste e é fiel as suas raízes, que têm origem em músicos como Frank Sinatra, Nat King Cole entre outros baluartes da música internacional. Filho do casal Sebastião Edson Paschoini e Evelina Machado do Carmo Paschoini, tem outros três irmãos, a Renata, Soraia e o Edson, mais conhecido por Tutu e que também é músico. Casado com Denise, ele é pai da Sophia, a quem vem apresentando este mundo musical.
Jornal do Sudoeste: Todos os irmãos são envolvidos com música?
T.M.P.: Não, somente eu e o Tutu (Edson). Entretanto viemos de família, por parte de mãe e pai, que sempre gostou muito de música. Minha mãe conta que meu falecido avô, João Machado e seus irmãos tocavam piano, gostavam muito de música e foram educados assim; do lado do meu pai também, ele foi radialista, então a música sempre esteve muito presente no meu lar.
Jornal do Sudoeste: Fui uma infância rodeada de música, então?
T.M.P.: Sempre. É engraçado, porque a música vai ficando de pano de fundo em cada fase da vida e lá na frente, quando ouvimos, somos transportados para aquela época novamente. Hoje, por exemplo, trabalho com músicas que estiveram presentes na minha infância. Canto músicas de quando eu era novinho, na casa dos meus pais, recém construída. A música boa é atemporal e vai perdurando em nossa vida.
Jornal do Sudoeste: Quais eram os gêneros que você ouvia?
T.M.P.: Eu ouvia Nat King Cole, The Platters, Frank Sinatra, além de alguns cantores italianos. Hoje, estudando essas músicas, descubro que aquelas músicas já eram de épocas passadas. Hoje, por exemplo, vou trabalhar uma música do Frank Sinatra e descubro que ele fez uma regravação de uma música de 1935, 40 ou 50 que vão perdurando.
Jornal do Sudoeste: Como foi o convívio familiar?
T.M.P.: Foi muito tranquilo. Sempre vivi aqui em Paraíso, gosto demais, é uma cidade que me favoreceu muito. Tive uma boa infância, estudei em escolas boas – todas públicas, era uma vida muito tranquila porque eu ia estudar a pé, voltava a pé para casa e não tinha muita preocupação com pegar o filho na escola e com violência. Eu e meus irmãos sempre nos demos bem. Graças a Deus foi uma época muito boa e não tenho nenhum trauma desse período.
Jornal do Sudoeste: Qual foi sua formação escolar?
T.M.P.: Fiz Administração aqui em Paraíso, na época da Faceac. Trabalhei desde sempre, já pequeno meu pai nos levava para ajudá-lo, na época ele tinha apenas uma oficina mecânica. Já mais velho, passei para a parte de escritório e por todos os setores. Fiz o curso de ADM e hoje é uma formação que uso para gerir a empresa. Estudei ADM porque na época foi o que foi se encaixando, não via naquela época a possibilidade de ir embora estudar, mesmo porque eu já estava bem engatilhado dentro da empresa; além disso, eu sentia que precisava dar continuidade aos negócios da família. A faculdade, por já ser daqui, facilitava bastante e tudo foi acontecendo.
Jornal do Sudoeste: A música sempre esteve paralela à atividade profissional?
T.M.P.: Sim. A música veio na adolescência. Sempre gostei muito de cantar e me lembro que desde muito cedo sempre cantei e nunca consegui ouvir uma música no rádio e não cantarolar junto. Desde pequeno decorava as letras de música e a noite, quando ia dormir, brincava de programa de rádio com meu irmão muito pequeno do lado querendo dormir. Eu ia e voltava para a escola a pé, como era longe meu passatempo era ir e voltar cantando e com isso não via o trajeto passar. É engraçado, porque eu fazia a voz e a parte que tinha os tempos de solo eu ficava mentalizando-os como se estivesse a música tocando. Na adolescência, já com alguns amigos, começou o sonho de montar banda e juntar um dinheiro para comprar o primeiro violão e treinar. Desde cedo sempre tive comigo de pegar algo e me dedicar a ele; no começo eu chegava a casa e ficava quatro horas envolvido com violão treinando, foi onde dei conta de fazer uns quatro ou cinco acordes mais básicos e nunca saí disto (risos). Instrumento não era para mim e não me tornei instrumentista, mas o canto sim. A partir daí, me juntei a uns amigos, formei banda, ficou por um tempo e não deu certo, formei outra, tentei por um tempo sozinho na cara e na coragem, porque era inocente e estava bem “cru” ainda e tocava praticamente nada, além me montar um repertório que era totalmente do meu gosto. Cheguei a fazer alguns showzinhos em Passos e região, tudo muito simples no começo e de lá para cá nunca parei, isto já tem 25 anos.
Jornal do Sudoeste: Hoje você canta em banda?
T.M.P.: Hoje, não. A última que tive já não era mais com intuito comercial, mas já tive banda em vários períodos intercalados com esse objetivo, onde buscávamos um repertório que agradasse a outros gostos, aliando nosso gosto musical ao que era conhecido e que o povo gostava. Depois te passar por todos esses períodos, esta última banda foi justamente para matar a vontade de tocar tudo o que a gente queria. Foi um período onde mais experimentamos e tocamos coisas diferentes, voltadas para o nosso gosto musical. É claro que como toda a banda que só toca em casa, depois de um tempo esfria e cada um vai pegando seu caminho.
Jornal do Sudoeste: E tem trabalhado sozinho então?
T.M.P.: Sim. Fazia violão e voz, mas violão não é meu ponto forte, mas me viro. Por um tempo eu me apresentei com o Péricles, que supria muito essa parte instrumental; apresentando-me com ele, aos poucos fui incluindo uma música e outra, um playback fazendo Frank Sinatra porque eu gostava muito e eram músicas da minha época de crianças; fomos incluindo essas músicas no repertório e entre um intervalo ou outro eu cantava Frank e o pessoal gostou. Depois ficamos um tempo sem nos apresentar, até eu ter a ideia de tentar sozinho e fui me apresentar nos Único, onde metade da apresentação era violão e voz e a outra metade colocava um playback somente com o som e cantava. Ainda não era o estilo que faço hoje, mas já tinha algo aí e o pessoal gostava, era um diferencial. Agora, sob nova direção o Único, agora Urbano com o Marcelo, fui lá me apresentar e me dispor para tocar e perdi sugestões de repertório e ele falou sobre o que eu fazia ali na época do Único e decidi trabalhar o que faço hoje, que é o Tributo a Frank Sinatra. São 15 músicas dos seus maiores sucessos e acresci de outras bandas que marcaram época. É o que eu estou mais gostando de fazer, depois do Tributo canto músicas que me acompanham da vida inteira, são as “songs of my life”. Sempre levei a música de forma muito intimista, músicas que eu sempre gostei. A minha profissão é administrador, mas a música é onde eu coloco a minha alma e me mostro realmente. Quando canto em inglês, embora não seja muito fluente, eu estudo a música para poder entender o que ela está transmitindo e quando for cantar, não apenas reproduzir a letra, mas o que ela quer dizer, tanto que meu repertório é muito intimista, já que sempre canto algo que tem a ver comigo mesmo, se não tem eu não canto.
Jornal do Sudoeste: Como você enxerga o cenário musical hoje comparado a toda essa formação que você traz da infância?
T.M.P.: A música se tornou um produto e hoje a preocupação é fazer produção em escala, made in China, algo que não tem mais aquilo de se arriscar, ver se o produto final vai ser bom, de dar espaço para o artista; hoje se aposta no que está dando certo. É o tun tun tcha tcha? Então vamos fazer isto que vai vender. Quando comecei a tocar, tínhamos a ilusão que tocaríamos e chegaria alguém de uma rádio ou algo nesse sentido e apostar em nós, isso não existe, tudo é produzido, a produtora vem, produz o artista, a música, põe no mercado e vende. O artista não tem mais liberdade de criação. Essas produtoras podem até encontrar um talento, mas vai pegar esse artista, moldar ele e para sair aquela produção em larga escala; por isso tudo é made in China e não dura. As músicas que eu trabalho têm mais 60 anos e ainda estão aí, já essas que “estouram” nas paradas de sucesso e não duram seis meses.
Jornal do Sudoeste: Nesses 25 anos, teve algum momento que pensou em desistir?
T.M.P.: A música para mim nunca foi algo que me desse retorno material, mas sempre a gratificação de fazer algo de que eu gostava. Sempre me dediquei muito a isto a ponto de tirar dinheiro do bolso para comprar instrumento, equipamentos, e ver que não está dando retorno; daí você desencana e fica ali uns seis meses sem mexer com música, mas quem gosta passa um tempo e a vontade volta quando você se depara com alguma boa apresentação. A música é uma terapia e uma forma de expressar.
Jornal do Sudoeste: Dos altos da carreira, quais momentos foram mais marcantes?
T.M.P.: Houve momentos, como quando tocamos em locais lotados como a Expar, onde abrimos o show do Capital Inicial. Foi aquela coisa da gente que só sonha em ser e fazer e teve um dia de música de fantasia, num local lotado com grande estrutura que só vemos de longe e não temos acesso. Um show que marcou demais foi um que fizemos em Ribeirão Preto, tínhamos aquela ilusão de que se conseguíssemos isto portas iriam se abrir, para nós, naquela época, não havia espaço em Paraíso e RP era o sonho de consumo. Daquela vez fomos tocar em um bar super legal graças ao professor de bateria do nosso baterista, que nos convidou para abrir um show dele. Além de ter sito a primeira vez que eu tocava em um lugar como aquele, era a primeira vez que eu estava em um lugar daquele: um bar super legal, numa cidade grande e um lugar com som de qualidade. Foi super legal essa experiência, única.
Jornal do Sudoeste: Como você avalia o cenário musical paraisense?
T.M.P.: Hoje é legal, porque acompanhando ao longo desses anos percebo que houve um período de hiato. Antigamente tinham bandas excelentes, lembro-me dos meus pais falarem dos Brasões, e acompanhei até o final da banda Eclipse, que depois não se via mais bandas e se havia ficavam dentro de casa; depois de um tempo, começamos a formar banda e quando percebemos também surgiram outras, mas todo mundo ainda engatinhando. Hoje já desenvolvemos bastante e há bandas muito boas, vejo colegas que surgiram nesta época e estão trabalhando com música e são excelentes músicos. Tenho muito prazer em ver isto, apesar de já ser pai de uma menina de cinco anos e não poder acompanhar tanto a noite. É muito bom quando sento em algum lugar e vejo apresentação de músicos que surgiram nesse período, embora ainda não tenha muito lugar em termos de espaço para se trabalhar.
Jornal do Sudoeste: Tem que lidar com essas dificuldades também, não é mesmo?
T.M.P.: Sim, é difícil, não há muito espaço. Enfrentamos uma época difícil com a questão da lei do silêncio, e os músicos passaram muitas dificuldades em tocar ao vivo e com isto deu uma parada; houve o período do sertanejo que erradicou praticamente todas as bandas e não se via outra coisa em Paraíso. Depois teve uma época um pouco melhor para as bandas, mas o sertanejo também voltou. Enfim, a pessoa que quiser viver de música é bem difícil, ela vai ter que correr atrás, ir para outras cidades e ter vários projetos ao mesmo tempo. Hoje viver de música é muito complicado.
Jornal do Sudoeste: O que poderia ser feito para alavancar a música no município? Faltam incentivos ou iniciativas do Poder Público?
T.M.P.: Do Poder Público eu acredito que tem algumas coisas que poderiam ser feitas e de forma bem barata, como, por exemplo, a questão de organização. Temos áreas como a Praça da Estação, San Genaro onde fizeram até um palco que praticamente não foi usado para nada e que poderiam ser usados; a Cultura poderia fazer um cadastro de bandas e músicos e ceder, pelo menos uma vez por mês, esses espaços. Tenho certeza que o músico se disporia a ir – não achando que ele deve se apresentar de graça, mas muitos músicos usariam esses espaços para mostrar o seu trabalho e fazer um evento de confraternização entre bandas e músicos, o máximo que precisaria por parte da Prefeitura seria do espaço e energia. Então, disponibilizar isto de forma organizada para termos esse espaço. Seria algo bom para os músicos e para a cidade, que teria aquele domingo uma vez por mês tendo uma tarde de música. Quem trabalha com música (e com arte em geral) não quer isso só para ele, quer mostrar para outras pessoas. Eu mesmo já tentei fazer isso, faz muito tempo, mas foi uma burocratização que acabei desistindo. Eu acho que podia usar muita coisa que já existe e seria legal ter algo fixo.
Jornal do Sudoeste: Qual é o balanço que você faz dessa caminhada?
T.M.P.: Graças a Deus eu sou uma pessoa muito abençoada. Acho que a vida cuidou muito bem de mim. Eu nasci em uma família muito boa e estruturada. Teve os probleminhas que toda a família têm, mas graças a Deus muito boa. Estive a vida inteira rodeado de bons amigos. Tenho pais que souberam me educar muito bem, que me colocaram para trabalhar desde cedo, me orientando e me formando como eu sou hoje. Tenho só a agradecer, sou muito abençoado.