A paraisense Rosangela Marcondes, que atualmente reside em São Paulo, é uma mulher animada e que encontrou na internet uma ferramenta essencial para inspirar pessoas. Graças a isto, ela criou um blog onde passou a compartilhar sua visão otimista e bem humorada da vida. O blog Domingo Açucarado, que também tem uma página no Facebook e conta com mais de 150 mil seguidores, foi uma oportunidade que ela, aos 63 anos, encontrou de espalhar o bem e contribuir um pouco para que outras pessoas pudessem se sentir inspiradas a viver, principalmente aqueles que já passaram dos 60 e ainda tem muito a contribuir com o mundo.
Apaixonada por São Sebastião do Paraíso, ainda na juventude deu indícios do caminho que poderia seguir e é com carinho que recorda de Monsenhor Mancini, que deu a ela a oportunidade de ter um programa da Rádio Difusora. À época, Rosangela estudava na Escola de Comércio à noite, e no Colégio Paula Frassinetti, das Irmãs, durante a manhã. "O sonho do pai de uma menina do interior era que ela passasse em concurso para trabalhar em um banco ou virasse professora, porque naquele momento era uma grande realização e estes eram bons empregos. Monsenhor Mancini me deu a oportunidade de falar na rádio, é um momento que eu gosto muito da minha vida", recorda.
Conforme destaca, ela gosta de pensar que as oportunidades que lhe foram dadas construíram toda esta trajetória de sucesso e de muito amor. "Eu vim da roça e, apesar de ser uma pessoa introvertida, eu gostava do palco, de falar ao microfone, de teatro. Recordo-me da dupla Correto e Corrente e que gratidão que eu tenho por essa dupla. Eles tinham um programa de auditório no domingo e me convidaram para participar, e eu ainda era uma menina. O que me moveu a vida inteira, acredito, foi esse despojamento e a coragem para experimentar e vivenciar as oportunidades que me foi dada e criei duas filhas para também serem assim".
Ainda na juventude, Rosangela decidiu largar tudo para trás, se casou e foi para morar em São Paulo, onde construiu sua vida. Após essas idas e vindas, atravessou todas as fases da vida sempre muito inquieta e, como ela mesma define "fazedora". "Sempre tive paixão por esse mundo maker e me encantam esses novos modelos de economia colaborativa, criativa, sustentável, e isso têm a ver com minha essência. A vida inteira sempre fui muito empreendedora, tive confecção, loja, e sempre fui assim, de alma irrequieta", conta.
Rosangela enxergou na internet uma nova possibilidade de compartilhar suas paixões e seu olhar generoso sobre a vida. "Perto de fazer 60 anos eu criei o blog Domingo Açucarado. Isso aconteceu em 2013, eu já estava ociosa, sem filhos para cuidar. Era algo que parecia fútil, mas eu queria falar do dia a dia, que era o meu olhar para tudo. Minha missão com o Domingo Açucarado era espalhar o belo. E tudo o que me emocionava eu pensava: "Se me emocionou, pode emocionar mais alguém. Tudo o que era belo eu compartilhava com outras pessoas", conta.
Conforme Rosangela, tudo o que trazia uma memória afetiva, servia de matéria prima para suas publicações. "Era a visão de uma mulher de mais de 60 anos para o belo. De repente eu já estava falando com o jovem, o adulto e o velho. Isso não tem público, o belo emociona a todos e fui entendendo que o processo era este mesmo, sem muita complicação, mas com muita disciplina, porque não se mantém audiência e não se cria algo se não houver paixão e se não houver disciplina e respeito com seu público".
Em 2015, Rosangela foi para USP participar de oficinas oferecidas para pessoas acima dos 60 anos, onde ela se apaixonou pelo universo do "velho". "Lá estudei geontologia, a ciência que estuda o velho, longevidade e o velho. Comecei a ficar louca por esse movimento e a participar de tudo o que acontecia, porque me apaixonei por esse universo do velho. O velho é um capital humano primordial e maravilhoso, qualquer que seja esse ser humano, que carrega muito experiência e tem muito a oferecer", acrescenta.
Em 2018, já envolvida por este movimento de longevidade, Rosangela deu mais um passo e criou um grupo no facebook intitulado "It Avó". "It porque é um novo velho e uma nova avó, uma avó que gerou um filho que não quer mais ter filhos, está difícil ser avó, uma avó que é empreendedora, exploradora, feliz, ativa, viajante. Essa nova avó para mim é a "It avó", moderna e conectada. Mas não precisa ter neto para fazer parte desse grupo, o que precisa é ser praticante de "avozidade", que é o sentimento que o velho vai adquirindo e cultivando de cuidar do seu entorno e da sua comunidade, participando dos movimentos, das ONGs, enfim, esse desejo de amor e cuidado com o próximo para mim é a avozidade", explica.
Em janeiro de 2019, acreditando que faltava algo, como o contato humano, ela decidiu promover encontros para conhecer essas pessoas idosas com quem tanto compartilhava suas experiências. "Lancei na internet a ideia de um café, dando opções de escolhas, porque a pessoa velha gosta de escolher e o ser humano precisa ser respeitado. Sempre são encontros em lugares de fácil acesso e público para que a família daquela pessoa não fique preocupada. No próximo dia 27 acontece o 6º encontro, onde ficamos por duas horas conversando, trocando ideias e tiramos fotos, sem razão e nem um porque, só para sair e conhecer lugares, pessoas, criar vínculos e motivar esse velho a se movimentar", ressalta.
A razão disso tudo, segundo explica Rosangela, é para que o mercado saiba quem existe esse velho, que quer ser visto, que quer ser ouvido, consultado e até contratado para um novo emprego. "De repente podem ver na gente um potencial de novo trabalho, porque nós temos esse potencial. A minha grande missão é buscar fazer essas pessoas a saíram, fazerem parte, a se aventurarem para um café que seja, para um curso, para uma ONG, para que o mercado entenda que esse pessoal é um oceano. O velho tem dinheiro, tem tempo e tem potencial para ajudar, para consumir e fazer o mercado girar. É quase uma responsabilidade, porque se somos velhos podemos ser inspiradores, podemos ajudar o planeta com ações muito pequenas, podemos criar bandeiras de sustentabilidade, afinal, que mundo queremos deixar para nossos filhos, nossos netos e crianças que virão?", questiona.
Para ela, o velho tem essa responsabilidade e se a internet existe ela pode ser usada como canal para isto. "Se eu me atrevo a usar uma página na internet, por que não usar para entregar o belo, otimismo, simplicidade, menos consumo? Eu posso ser esse canal e que ajuda o mundo a ser um pouco melhor, de fazer o jovem olhar para o velho e ver como é bom ser velho. Se somos agora esse mundaréu de velhos, que sejamos velhos colaborativos, é o que move meu desejo de continuar na internet com o Domingo Açucarado, o It Avó, Venha Tomar Café Comigo, qualquer pequena atitude que ajude o velho a sair da depressão, porque é fato que há muitos que estão abandonados e se sentindo solitários e há um dado muito importante: o velho conta muito com o amigo, mas do que com o filho, porque este já está lutando por sua vida, e se esse velho puder liberar o filho e fazer um amigo, todo mundo ganha".
Segundo conta Rosangela, todas essas experiências aconteceram naturalmente. "Sempre foi tudo muito orgânico; aprendi com meu pai, um homem da roça, que meu nome era meu maior patrimônio. Existiu sempre uma gratuidade na minha vida que eu sempre fui levando; queria ser uma boa aluna, uma boa esposa, uma boa mãe, uma boa funcionária, primava muito por isto porque foi assim que fui criada, que tudo deve ser feito em comunidade, com muito respeito, confiança, que temos que ter muita gratidão pelo esforço que nossos pais fazem por nós, e ralei muito para que minhas filhas fossem brilhantes. Nunca paguei para ter nada, aconteceu tudo naturalmente. Se pode haver uma avalanche de coisas ruins, porque não contribuir para que haja uma avalanche de coisas boas na vida de outras pessoas, mas que você promova esse sentimento de memória afetiva".
Para aqueles que estão passando dos 60 anos, Rosangela é enfática: que essa pessoa se veja como velho. "Ela já foi criança, já foi adolescente, adulto. A lei e o estatuto do idoso nos colocam como velhos, mas nada disso importa. Se você é velho, assuma esse desejo de ser um velho respeitoso, maravilhoso e inspirador e que você esteja pronto todos os dias para ousar em uma aventura, numa conversa, numa saída, numa roupa nova e que você se renove todos os dias, porque é muito tempo para não gastar bem. Se a medicina evoluiu tanto e teremos tanto tempo pela frente, porque não usar isso bem. Então, que estejamos sempre prontos para aprender. Esqueça aquela vida que o mercado te exigiu, é um novo tempo para ser explorado e vivido com alegria e felicidade, e sendo um bom exemplo. Que você seja contagiante e esse velho lindo que Deus está deixando aqui e que cada um se entenda como um ser importante. Onde quer que você viva seja uma pessoa inspiradora", finaliza.