Passada a tempestade ameaçadora de João Doria, enquanto prefeito de São Paulo, de privatizar o Autódromo de Interlagos - e cabe aqui um parêntese: (a pretensão tinha como pano de fundo uma grande especulação imobiliária que fatalmente levaria Interlagos a ter o mesmo fim triste de Jacarepaguá), agora vem o presidente Jair Bolsonaro dizer que vai levar a Fórmula 1 para o Rio de Janeiro.
Eu só queria saber qual o interesse que há por trás de o presidente querer levar a Fórmula 1 para uma cidade que nem autódromo tem, sendo que a categoria está estabelecida em Interlagos há tantos anos?
A fala convicta de Bolsonaro mostra total desconhecimento de como as coisas funcionam na Fórmula 1. A intenção de construir um autódromo no Rio de Janeiro como vem sendo divulgado está fora da realidade econômica do país neste momento. Primeiro porque dificilmente aparecerá algum empresário da iniciativa privada interessado em gastar tubos de dinheiro sem nenhuma garantia de retorno. Segundo porque não se constrói uma pista com os padrões e exigências da Federação Internacional de Automobilismo com apenas R$ 850 milhões, e muito menos em 6 ou 7 meses como já foi falado.
Nesta semana Bolsonaro e o governador do Rio, Wilson Witzel, se reuniram com o chefão da Fórmula 1, Chase Carey, que veio tratar o futuro da corrida, e respondeu de imediato que "não há nenhum acordo fechado e que as negociações com São Paulo continuam", ao ouvir do presidente que o GP do Brasil estava 99% garantido no Rio de Janeiro a partir de 2021.
O contrato entre a Fórmula 1 e a prefeitura de São Paulo termina no próximo ano e as negociações para renovação estão em andamento. Eu só temo que uma manobra mal pensada de levar o GP do Brasil para um local que sequer possuí licença ambiental para ser construído numa área de mata atlântica (o terreno em Deodoro pertence ao exército e até pouco tempo era um campo minado) possa fazer com que o Brasil perca o GP.
Caro leitor, escreva o que tenho dito, ou guarde esta coluna: "Se a Fórmula 1 sair de Interlagos, em pouco tempo ela vai embora do Brasil e não volta mais"! Seria bom que os homens da Liberty Media, empresa que há dois anos comprou de Bernie Ecclestone os direitos comerciais da Fórmula 1, não caiam nessa conversa e procurem saber as razões de a categoria ter saído do Rio, em 1989, e os motivos que mais tarde levaram o autódromo de Jacarepaguá a ser destruído por políticos cariocas, orquestrados pelo ex-presidente do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), Carlos Arthur Nuzman, para erguer o complexo que abrigou o Pan de 2007 e posteriormente as Olimpíadas de 2016 e que hoje não passa de um elefante branco.
A Fórmula 1 sempre viveu o caos em termos de (des)organização quando esteve no Rio, e sem fazer apologia à política, partidos ou pessoas, mas, verdade seja dita, se a categoria está até hoje no Brasil, foi graças à então prefeita de São Paulo da época, Luiza Erundina, que arregaçou as mangas para que Interlagos pudesse ser reformado a tempo de receber a corrida em 1990. O Brasil correu sério risco de perder a Fórmula 1 naquele ano.
Pelo menos agora a ficha parece ter caído, e o outrora algoz de Interlagos, João Doria, atual governador de São Paulo, assim como a câmara de vereadores paulistana, e o prefeito, Bruno Covas que sempre se mostrou favorável à manutenção do autódromo, estão empenhados em manter o GP do Brasil na capital paulista. Eles sabem da importância que evento trás em exposição e arrecadação para a cidade.