Deve ter doido na alma japonesa quando Fernando Alonso esbravejou pelo rádio que seu motor era de GP2 (alusão à categoria de acesso à Fórmula 1) em plena casa da Honda, em Suzuka, no GP do Japão de 2015.
Foram incontáveis as quebras de motor, uma saraivada de críticas, principalmente de Alonso. O cenário era desolador, a humilhação que uma das gigantes da indústria automobilística sofreu com um motor frágil, sem potência e que bebia muito, não condizia à marca Honda que com a mesma McLaren viveu momentos de glória no final dos anos 80 e começo dos 90. Em outras palavras, era um convite a sair pela porta dos fundos. Mas o pessoal da Honda aguentou calado. Dentro da cultura japonesa, focaram no trabalho em vez de se lamentar ou encontrar desculpas que justificasse o fracasso.
A Honda chegou ao fundo do poço quando a McLaren decidiu romper o contrato de parceria no final de 2017 por pressão de Alonso que vivia dizendo que com outro motor a McLaren venceria corridas.
A verdade começou aparecer no ano passado quando o time inglês passou a competir com os motores Renault e os problemas persistiram ao ponto de o próprio Alonso, desgostoso com a falta de competitividade, pegar o boné e deixar a Fórmula 1.
A Honda passou então a fornecer motores para a modesta Toro Rosso no ano passado, e um improvável 4º lugar de Pierre Gasly no Bahrein reacendeu a chama; um sopro de ar fresco que os japoneses precisavam para reerguer a cabeça e ter a certeza de que o fracasso vivido na McLaren não era só por conta de seu motor.
2019 está sendo o ano da redenção. A Red Bull que vinha em pé de guerra com a Renault, rompeu com os franceses e apostou na Honda. Um tiro no escuro já que Christian Horner e Helmut Marko, os chefões da equipe austríaca, não tinham outra escolha. A temporada passada, empurrando os carros da equipe satélite, o fizeram enxergar potencial nos motores Honda. Da parte dos nipônicos também houve recuo ao aceitar ajuda técnica externa para melhorar o seu produto, e a vitória veio mais cedo do que se imaginava.
No último domingo (30), na casa da Red Bull - o Circuito Red Bull Ring é de sua propriedade -, Max Verstappen conduziu a equipe empurrada pela Honda ao topo do pódio. Uma vitória dramática, por sinal, depois de cair de 2º para 7º na largada, e vir ganhando posições até chegar no líder, Charles Leclerc, e fazer uma ultrapassagem tão arrojada quanto polêmica pelas absurdas regras que inibem os pilotos de serem agressivos nas disputas por posições. Mas pelo menos desta vez prevaleceu o bom senso e não houve punição. Mesmo assim passaram-se três longas horas até que o resultado oficial do GP da Áustria fosse confirmado.
Enfim, uma vitória merecida para lavar a alma da Honda. Entre idas e vindas, a Honda tem uma história rica na Fórmula 1 que começou como equipe própria entre 1964 e 1968 quando se retirou depois da morte de seu piloto, Jo Schlesser. De 1983 a 1992 esteve como fornecedora de motores e foi a partir de 1986 que viveu o período de maior sucesso vencendo corridas e campeonatos com a Williams e a McLaren. Foram 6 títulos de Construtores e 5 de pilotos, entre eles os 3 de Ayrton Senna, 1 de Nelson Piquet e 1 de Alain Prost.
De 2000 a 2005 novamente voltou a fornecer motores, e em 2006 como equipe própria quando venceu pela última vez no GP da Hungria. Em 2008 a Honda bateu retirada novamente - desta vez por conta da crise que balançou a economia mundial -, e vendeu o espólio para Ross Brawn por US$1,00 (você leu certo, um dólar), e a Brawn GP foi campeã de pilotos (Jenson Button) e de Construtores de 2009.
Com a vitória de domingo (73ª na Fórmula 1), tomara o sol nascente esteja a brilhar uma nova fase para a Honda depois de um pesadelo que parecia não ter fim.