O fã da Fórmula 1 não vai esquecer tão cedo o GP da Inglaterra, do último domingo (14), no lendário Circuito de Silverstone. Uma corrida que reuniu tudo que se espera da principal categoria do automobilismo, ainda que o resultado final tenha sido um pouco do mesmo - a sétima dobradinha da Mercedes com Lewis Hamilton e Valtteri Bottas -, mas que em nada lembrou as seis anteriores. Foi a 80ª vitória de Hamilton, cada vez mais perto da incrível marca de Michael Schumacher com 91 vitórias. Foi também a sexta vez que Hamilton venceu em casa, levando os britânicos ao delírio.
Muito se tem falado da falta de competitividade na Fórmula 1, mas é preciso levar em conta que os problemas não se resumem apenas aos carros e ao regulamento. As pistas também influenciam nas disputas. Não é coincidência que as melhores provas da temporada tenham sido disputadas nos circuitos: Gilles Villeneuve (Canadá), Red Bull Ring (Áustria), e Silverstone. E podemos esperar corridas movimentadas também em Hockenheim (Alemanha), Spa-Francorchamps (Bélgica), Monza (Itália), Suzuka (Japão), e Interlagos.
Em comum, elas são desafiadoras, permitem ultrapassagens e punem o menor erro de pilotagem. Pista boa proporciona corrida boa, e Interlagos faz parte desta lista. Por isso volto ao tema que abordei na coluna dias atrás, sobre o risco de o Brasil perder o GP, principalmente com essa história de querer levar a Fórmula 1 para o Rio de Janeiro que nem autódromo tem, e o projeto sequer saiu, ou vá sair tão cedo do papel(!).
Não dá para confiar no projeto duvidoso de erguer um autódromo a curto prazo em terreno cercado de mata Atlântica, assim como também é prudente ter sempre os pés atrás com alguns políticos do Rio que maldosa e desnecessariamente destruíram Jacarepaguá para sediar o Pan de 2007 e posteriormente as Olimpíadas. Tem mais: O carioca em geral não troca um domingo de sol, praia e Maracanã pra ver a Fórmula 1. Quando a cidade abrigou o GP do Brasil, entre 1978 a 89, maioria do público vinham de outros estados - principalmente de São Paulo e do sul do país. E os dados não são meus, mas de estatísticas da época.
Torço muito para que a politicagem que entrou em cena não resulte na debandada da Fórmula 1 do país. A declaração do presidente Jair Bolsonaro de que o GP do Brasil “está 99% confirmado no Rio para 2021”, sem nenhum acordo assinado, não foi bem vista por Chase Carey, um dos chefões da Fórmula 1 quando esteve aqui no mês passado. A lista de espera por um GP é extensa lá fora. Do lado de São Paulo, João Doria que enquanto prefeito tentou privatizar Interlagos com outras intenções que tinham como pano de fundo entregar o autódromo nas mãos de empreendedores imobiliários, agora briga para não perder a corrida.
E não deixa de ser estranha a postura do presidente da República tomar partido por uma cidade em detrimento de outra. Tal comportamento faria sentido se o Brasil estivesse disputando uma vaga com outro país.
Tudo bem que o contrato com a prefeitura de São Paulo termina no final do próximo ano e muita água vai passar por baixo da ponte para que um novo acordo seja firmado, mas seria interessante que a Liberty Media, empresa detentora dos direitos comerciais da Fórmula 1, olhasse com carinho por Interlagos, uma das pistas preferidas dos pilotos.
Após o GP da Inglaterra, Lewis Hamilton sugeriu que os pilotos pudessem ajudar escolher as pistas do campeonato porque eles, melhor do que ninguém sabe quais são as que proporcionam boas corridas. Silverstone também correu o risco de sair do calendário, mas um novo acordo de cinco anos foi assinado na semana passada. É importante que se preservem as boas pistas que ainda restam no calendário.
Os fãs agradecem. No final de semana passado, 350 mil pessoas passaram por Silverstone, 141 mil só no domingo. Tudo bem que a Inglaterra é o berço da Fórmula 1 e os britânicos são as pessoas que mais entendem do esporte, mas o Brasil é disparado o país que mais dá audiência para a Fórmula 1, mesmo sem ter nenhum brasileiro competindo atualmente.