MULHERES

Leia Mulheres de Paraíso irá discutir obra "João Miguel", de Rachel de Queiroz

Por: João Oliveira | Categoria: Cultura | 31-07-2019 10:54 | 17529
Rachel publicou obras como O Quinze e Memorial de Maria Moura
Rachel publicou obras como O Quinze e Memorial de Maria Moura Foto: Reprodução

O clube de leitura "Leia Mulheres", proposto pela psicóloga Sarah Lava Naves e a professora Alline Duarte Rufo, irá discutir neste sábado (3/8) a obra João Miguel, da autora cearense Rachel de Queiroz, uma das mulheres mais consagradas da literatura nacional e a primeira a entrar para a Academia Brasileira de Letras. Rachel também é conhecida por obras como "O Quinze" e "Memorial de Maria Moura".

João Miguel foi publicado em 1932 e é o segundo livro da autora. A obra é um romance social onde Rachel de Queiroz recria a vida de uma prisão numa pequena cidade do interior do nordeste, com forte crítica às injustiças sociais. A obra pode ser resumida como um romance da solidão humana e, ao mesmo tempo, uma denúncia e um protesto. O que é liberdade e para quê ela serve? São questões que fazem o leitor refletir e pensar sobre seu lugar no mundo.

Conforme destaca a psicóloga, Sarah Lara, é o primeiro encontro oficial do clube e a obra escolhida foi de difícil acesso, tanto às edições impressas, que tem poucos exemplares na Biblioteca Municipal, quando a arquivos digitais. "É um livro que não tem sido publicado e é pouco divulgado. Vamos discutir as razões do porquê isso ocorre e a importância de se discutir essas obras", conta.

Além da discussão envolvendo livros escritos por mulheres e que têm caído no esquecimento, também será debatido nesta primeira reunião o tema central da obra bem como sua importância para a literatura nacional. "Como foi uma obra difícil de ser encontrada, nós abrimos para aqueles que não conseguiram ler poder participar da discussão e conhecer a história. Quem não conseguiu ler ou terminar o livro pode buscar o resumo na internet e participar do clube, serão muito bem-vindos", ressalta.

Conforme a psicóloga, o importante é promover o debate a as pessoas que manifestarem interesse levar sua contribuição, como a impressão que teve da leitura, o que sentiu ao entrar em contato com o universo de João Miguel e se a história ainda pode ser considera atual em um comparativo com o Brasil de 1932 e o Brasil de 2019. "É o que queremos debater. O que pedimos é que as pessoas busquem ao menos conhecer a história em pauta, mesmo que por meio de resenha, e que vão livres de preconceito e dispostos a ouvir o que os outros também têm a falar", completa.

O CLUBE
O clube "Leia Mulheres" é inspirado em um projeto homônimo que começou em 2014 com a escritora Joanna Walsh ao propor a hashtag "readwo-men2014", ou em português "leiamulheres2014", com objetivo de se ler mais mulheres, já que a maioria da literatura publicada, divulgada e estudava é masculina.

No Brasil, a iniciativa começou em 2015 com as amigas e ativistas Juliana Gomes, Juliana Leuenroth e Michelle Henriques, que transformara a ideia de Joanna Walsh em algo presencial em livrarias e espaços culturais que posteriormente se espalhou para diversas cidades do Brasil. Hoje é possível acompanhar o trabalho de vários "Leia Mulheres" pelo site "leia mulheres.com.br".

RACHEL DE QUEIROZ
Nascida em Fortaleza (CE), Rachel de Queiroz foi tradutora, romancista, escritora, jornalista, cronista, além de importante dramaturga brasileira. Ela foi um dos autores de maior destaque na ficção social nordestina, ao lado de nomes como Graciliano Ramos e Jorge Amado.

Além de grande romancista, Rachel foi cronista de destaque e publicou mais de duas mil crônicas, reunidas nos livros "A Donzela e a Moura Torta", "100 Crônicas Escolhidas", "O Brasileiro Perplexo", "O Caçador de Tatu", "Mapinguari" e "Cenas Brasileiras". Para ela, que também era jornalista, o gênero se mostrava como uma zona de conforto entre a literatura e o jornalismo.

Em entrevista para o Roda Vida, programa da TV Cultura, em 1991, autora declarou que não gostava de escrever, mas que era a única coisa que sabia fazer. Mesmo assim, foi detentora de importante prêmios literários, entre eles da Fundação Graça Aranha, o Prêmio Jabuti de Literatura Infantil, em 1970, e o Prêmio Camões, uma das maiores honrarias dada a escritores de língua portuguesa, em 1993. Rachel de Queiroz faleceu em 2003, no Rio de Janeiro, aos 92 anos de idade.