Poucas vezes uma corrida de Fórmula 1 proporcionou tantas histórias como o GP da Alemanha do último domingo (28). Uma corrida maluca com contornos dramáticos por causa da chuva.
A história de Sebastian Vettel é bem interessante. O alemão que nunca venceu em Hockenheim tinha uma dívida com a pista do ano passado quando escorregou no asfalto úmido e bateu sozinho, jogando fora uma vitória praticamente certa. O fantasma de Hockenheim voltou assombrar Vettel que sequer foi para a pista no treino de sábado com problema de motor e teve que largar da última posição. Só que desta vez o mesmo asfalto molhado foi a redenção de Vettel com o 2º lugar na corrida. Ainda que continue sem sentir o sabor de ganhar na pista que fica no quintal de sua casa, Vettel acertou as contas com Hockenheim e com a torcida.
E a história de Daniil Kvyat que poucas horas depois do nascimento de sua primeira filha, subiu ao pódio que ele não frequentava desde o GP da China de 2016? Foi o terceiro pódio do piloto russo e o segundo da Toro Rosso, desde 2008 quando o então novato, Sebastian Vettel, venceu o GP da Itália, também debaixo de chuva.
A Honda também festejou muito na Alemanha ao colocar pela primeira vez, desde 1992, dois pilotos no pódio (1º e 3º colocados), com a vitória espetacular de Max Verstappen, cada vez mais maduro e preciso em capitalizar em cima do vacilo dos adversários, mesmo não dispondo de um carro à altura dos principais adversários.
Verstappen precisou de cinco trocas de pneus para vencer a corrida, e na última, na 46ª volta, a Red Bull pulverizou os cronômetros ao trocar os quatro pneus do carro do holandês em 1s88 (você leu certo, um segundo e oitenta e oito milésimos(!)), o mais rápido pit stop de todos os tempos na Fórmula 1, marca que a Red Bull quebrou pela segunda vez seguida.
Não acabou. Com a punição imposta aos dois carros da Alfa Romeo por irregularidades embreagem durante o procedimento de largada, a Williams marcou o primeiro ponto no campeonato com Robert Kubica na única corrida até aqui em que o polonês conseguiu andar na frente do companheiro de equipe, George Russell. O ponto de Kubica entra para as estatísticas como o maior hiato (8 anos, 8 meses e 14 dias) desde a última vez que havia pontuado, no GP de Abu Dhabi de 2010. Kubica que voltou este ano à Fórmula 1, ficou afastado desde o começo de 2011 quando quase perdeu a vida numa prova de rali, na Itália.
E quem poderia imaginar que no final de semana em que celebrava os 125 anos de envolvimento com o esporte a motor, e 200 GPs na Fórmula 1, a Mercedes que preparou uma grande festa com direito a pintura especial dos seus carros, uniformes retrô para os mecânicos e dirigentes, além de financiar o GP da Alemanha que estará fora do calendário do ano que vem por falta de recursos financeiros, fosse sofrer a maior derrocada desde que começou a dominar a categoria, em 2014, justamente em casa? Hamilton não esteve no melhor de seus dias, errou, bateu, foi punido e só terminou em 9º, e Bottas nem completou a prova depois de bater quando lutava pelo pódio.
E tudo isso desencadeado pelo conjunto de fatores proporcionados pela chuva que resultou em estratégias bem, e mal sucedidas, erros e acertos; sorte e a falta dela.
O GP da Alemanha foi memorável e inesquecível, mas a Fórmula 1 segue neste final de semana, na Hungria, no travado Circuito de Hungaroring que reúne boas possibilidades de ser outra corrida interessante com Mercedes, Ferrari e Red Bull em igualdade de condições.
Este será o 34º GP da Hungria, presente no calendário desde 1986 e que teve um começo de história muito forte com o Brasil, com cinco vitórias nas sete primeiras edições - duas com Nelson Piquet e três com Ayrton Senna. Foi na Hungria que Piquet fez a ultrapassagem que é considerada por muitos como uma das mais antológicas da Fórmula 1, sobre Senna, por fora no final da reta dos boxes, há 34 anos.