POLEPOSITION

Quando você sabe que pode contar com o piloto

Por: Sérgio Magalhães | Categoria: Esporte | 11-08-2019 08:29 | 1986
Florent Gooden / FIA
Florent Gooden / FIA Foto: Hamilton ultrapassa Verstappen e vence o GP da Hungria com estratégia ousada

Quando o estrategista da Mercedes, James Vowles, chamou Lewis Hamilton para uma segunda troca de pneus que àquela altura da corrida era mais uma tentativa de risco do que um plano B, ele sabia que valia a pena tentar porque podia contar com a capacidade do piloto.

O GP da Hungria seguia com Max Verstappen na liderança desde a largada numa pista difícil de ultrapassar, e o próprio Hamilton já tinha perdido o melhor momento dos pneus de composto duro numa disputa roda a roda com o piloto da Red Bull e foi parar fora da pista.

Na 49ª de um total de 70 voltas, Hamilton estava sete décimos atrás de Verstappen quando foi para os boxes e trocou os pneus duros pelos médios, e voltou vinte e um segundos atrás. Não havia outra escolha, a Mercedes fez o que tinha que ser feito, e a missão agora estava com Hamilton: descontar um segundo por volta nas 20 que restavam, e num circuito travado e com retardatários pela frente, já que dos 20 carros que largaram, apenas a Haas de Romain Grosjean havia abandonado a prova.

Num primeiro momento o próprio Hamilton duvidou que a estratégia pudesse dar certo quando soube que seu ritmo não era muito melhor que o de Verstappen. Mas continuou acelerando em ritmo de classificação e forçando Verstappen acabar com os pneus, antecipando a previsão do engenheiro de que alcançaria o líder apenas na última volta.

Na 67ª Hamilton chegou e ultrapassou Verstappen que já não tinha pneus nem para se defender. Foi a 8ª vitória de Hamilton no ano, a 7ª na Hungria e 81ª vez da carreira.

Poucos pilotos são tão capazes de executar com tamanha precisão estratégias ousadas como a planejada pela Mercedes. O conjunto da ópera do GP da Hungria me fez lembrar os tempos do binômio "Ferrari-Schumacher", em que o então diretor-técnico e estrategista da Ferrari, Ross Brawn, traçava os planos, por vezes quase impossíveis de serem bem sucedidos, e o alemão convertia em vitórias.

Numa delas, certamente a mais espetacular de todas, Schumacher fez quatro pit stops no GP da França de 2004, dando um nó estratégico na Renault de Fernando Alonso que parou três vezes. Foram mais de 30 voltas em ritmo de classificação e até hoje o único piloto a vencer uma corrida com quatro pit stops em condição de pista seca.

A atuação de Hamilton no último domingo foi bem ao estilo Schumacher, não é por acaso ele está apenas a dez vitórias de igualar as 91 do alemão, uma marca impressionante que parecia tão impossível de ser alcançada, mas que agora está com os dias contados.

A Fórmula 1, muito criticada no começo do ano por corridas monótonas, fechou a primeira metade do campeonato com quatro provas eletrizantes e já deixa saudades até a volta das férias de agosto. Mais que isso: A evolução do motor Honda deu à Red Bull e Max Verstappen a chance de vencer duas das quatro últimas etapas e de quebra a primeira pole da carreira do holandês, na Hungria, dando um novo alento às disputas e tornando-se o piloto que mais se aproxima do nível técnico de Hamilton, apesar da diferença de idade e experiência que separam os dois. Pena que a Ferrari acabou andando para trás e de franca atiradora, virou presa da Red Bull.