Não é exagero dizer que a Red Bull é uma das equipes mais cruéis com alguns de seus pilotos, senão a mais, da Fórmula 1. A organização dona da marca de bebidas energéticas é a que mais investe na formação de jovens pilotos desde as categorias de base, e ainda mantém a Toro Rosso como trampolim para a equipe principal. Mas cobra resultados imediatos sem piedade e nenhum pouco de paciência pela adaptação ou maturidade.
A mais nova vítima desta falta de paciência do conselheiro com poderes de decisões, Helmut Marko, é o jovem francês, Pierre Gasly.
Gasly foi promovido este ano para a Red Bull depois de um notável 2018 na Toro Rosso, mas acaba de ser "rebaixado" pela falta de resultados. O seu substituto será o tailandês, Alexander Albon, estreante na Fórmula 1. A troca tem efeito imediato já para o GP da Bélgica, na volta das férias da Fórmula 1 no final do mês.
Quem conhece a filosofia de trabalho da equipe, e o histórico de Helmut Marko, não se surpreendeu com a notícia desta semana. Com 12 das 21 provas disputadas, a Red Bull que vem de duas vitórias e uma pole position, soma 244 pontos (terceira colocada no Mundial de Construtores), contra 288 da segunda coloca-da, Ferrari. Esses 44 pontos de diferença poderiam colocar o time austríaco atrás apenas da Mercedes, se Gasly estivesse correspon-dendo à altura. O francês é o 6º colocado entre os pilotos com apenas 63 pontos enquanto o companheiro de equipe, Max Verstappen, 3º colocado, soma 181.
Vale lembrar que ao final de cada temporada a Liberty Media, dona dos direitos comerciais da Fórmula 1, paga para cada equipe verbas de acordo com a classificação no Mundial de Construtores, e ser a 3ª colocada significa receber cerca de 22 milhões de euros menos que a 2ª colocada, no caso a Ferrari.
Aos 23 anos, Gasly é o tipo de piloto que merece ser lapidado, tem talento para estar na Fórmula 1, mas encontrou muitas dificuldades de adaptação ao modelo RB15. A diferença de performance entre ele e Max Verstappen é absurda. Em posição de largadas, Verstappen ganha por 11 a 1, e a última corrida, na Hun-gria, parece ter sido a gota d água quando Gasly terminou em 6º, uma volta atrás do vencedor, Lewis Hamilton, e do próprio Verstappen.
Ainda está vivo na memória da Fórmula 1 o caso semelhante que envolveu o russo Daniil Kvyat e Max Verstappen. Kvyat havia sido promovido para a Red Bull em 2015 para substituir Sebastian Vettel, mas com três corridas em 2016 foi "rebaixado" para a Toro Rosso para a promoção de Max Verstappen. Logo na corrida de estreia, Verstappen venceu o GP da Espanha!
O golpe foi duro para Kvyat que entrou em parafusos e acabou sendo demitido antes do final de 2017. Por ironia, enquanto trabalhava como piloto de desenvolvimento da Ferrari, Kvyat foi chamado este ano pela Toro Rosso por absoluta falta de um piloto experiente disponível no mercado. Mas o mesmo Kvyat, autor do pódio da Toro Rosso no maluco GP da Alemanha, novamente foi preterido com a promoção de Albon.
O jovem tailandês, também de 23 anos, ocupa a 15ª posição no campeonato com 16 pontos, 11 a menos que Kvyat, e vai ser avaliado até o final do ano. O objetivo, segundo a Red Bull, é tirar conclusões sobre quem será o companheiro de Verstappen na próxima temporada. Em outras palavras, será uma prova de fogo para Albon que chegou a ser excluído da academia de pilotos da Red Bull, mas deu a volta por cima no ano passado com o vice-campeonato da F2 e foi recrutado novamente assim como Kvyat.
Quanto a Gasly, resta saber como vai reagir ao "rebaixamento", se terá forças para dar a volta por cima, ou se será mais um piloto promissor desperdiçado pela máquina de triturar talentos.