Os poetas têm antenas especiais que conseguem captar mensagens poéticas plenas de lirismo. Tais antenas chamam sensibilidade e ela é inata. Desde tenra idade, os poetas são seres diferentes, que amam a Natureza e estão sempre em comunhão com ela. Carlos Drummond de Andrade tem um texto belíssimo que fala sobre um menino com uma doença perigosa: ele sofre com as dores dos seres humanos, chora quando um amigo está infeliz, só se interessa pelos livros, pelos pássaros, pelas flores, tem vontade de reformar o mundo para que todos sejam felizes, adora animais, com versa com as estrelas, tem muita melancolia. O menino sofre de POESIA.
Assim é Eliana Mumic Ferreira. Ela também sofre dessa doença. Seu livro mais recente, Matizes, comprova o diagnóstico. O primeiro poema, Matizes, é um Cântico à Natureza, pleno de metafísica, religiosidade e rica linguagem figurada, principalmente belíssimos exemplos de personificação. E seguem outros poemas belos, também ricos em metáforas. Uma característica importante nos poemas, são os enfoques originais sobre vários temas, como nos poemas Trilhas e Diferenças. A poetisa usa, às vezes, com maestria, a figura da repetição deliberada, como em Pensamentos, Nosso Amor e Com Você.
Há almas que nascem líricas e assim ficam a vida toda, como Eliana Mumic Ferreira que está sempre embebida nos mistérios da vida, do amor e da Natureza. Uma vida longa, pura sensibilidade, a poetisa é atraída por questionamentos sem resposta. Ela se caracteriza também por um pouco de timidez literária, em um poético jogo de mostra e esconde, uma obsessão pelo sentimento do ciúme. Filosofia, comparações poéticas, como na última estrofe do poema O Vampiro.
O poema O Círculo da Vida faz uma interessante comparação da vida com as estações do ano. O poema A Espera é um convite poético, realçado pelo emprego lírico da segunda pessoa do singular, que ela usa com perfeição e em Dilema há ironia, até uso de gíria, no penúltimo verso.
Assim seguem os achados do livro, como a interessante teoria da complexidade dos amantes e em O Primeiro Amor surge uma ousadia gramatical, que enriquece o poema: a intransitivação do verbo de ligação SER: "da tua luz dizendo-te: EU SOU!".
Este é um breve comentário do rico livro Matizes, da poetisa Eliana Mumic Ferreira. Em uma análise mais aprofundada, iremos encontrar mais preciosidades e delicadezas, porque assim é a alma bela e lírica dessa mulher notável e poetisa excelente.
(*) Ely Vieitez Lisboa: escritora, com catorze livros publicados (ensaios, contos e poemas), crítica literária, autora do romance epistolar Cartas a Cassandra