O comandante do 43º Batalhão de Polícia Militar em São Sebastião do Paraíso, tenente-coronel Charles Kerley Batista, assumiu o comando da unidade no início de 2019. Deste então vem desempenhando um trabalho incansável na busca pela redução da criminalidade nos 15 municípios que compõem o Batalhão. Natural do município de Datas, onde foi criado até se mudar para Diamantina para estudar, Charles é filho do servidor público Carlos Batista (em memória) e da professora Zildiméia de Paula Batista. Em 25 anos de atuação na PM, ele já exerceu o cargo de chefia da seção de recursos humanos da 14ª Região da Polícia Militar; comandante da 14ª Companhia de Polícia Militar Independente de Meio Ambiente e Trânsito e comandante da 14º Companhia de Polícia Militar Rodoviária. Hoje, aos 47 anos, ele conta como foi essa trajetória até aqui, sem se esquecer, como ele mesmo destaca, que Deus lhe preparou um bom caminho, e que cada conquista foi fruto do cultivo de esforço e muita dedicação para realizar seus sonhos.
Jornal do Sudoeste: Como foi a essa primeira fase de sua vida, antes de se mudar para Diamantina para estudar?
C.K.B.: Fui criado em Datas, junto com meus primos, e fizemos muitas travessuras de menino na época. Sinto tanto pelos meus meninos não terem tido a infância que eu tive, de ficar solto pela rua e aproveitando o dia. Eu jogava bola o dia inteiro, saía para pegar passarinho, nadar nos poços d’água. Saíamos de manhã e só voltamos para casa para comer e dormir. Foi uma infância maravilhosa. É uma infância que eu gostaria que meus filhos tivessem, mas hoje a criança não tem mais contato com terra, não pode ficar na rua por conta dos perigos. Hoje, esse jovem é só videogame, celular e eletrônicos, o que não existia na minha época, era no máximo aqueles telefones de mesa, que só tinha quem era muito rico. Meu avô era comerciante e tinha um desses telefones, até com um cadeado para que ninguém ligasse sem permissão.
Jornal do Sudoeste: Você se mudou para Diamantina para continuar estudando. Como foi essa fase?
C.K.B.: Sim. Eu tinha 14 anos e fui estudar no Colégio Tiradentes, do 3º Batalhão de Polícia Militar de Minas Gerais, um dos mais antigos do Estado. Fui morar com meus tios e me recordo que, quando havia terminado o segundo grau consegui passar no CFO, mas fui reprovado na entrevista, era muito novo, tinha 17 anos. Era para eu ter formado em 1993, mas o destino me deu outro rumo. Não consegui passar, e voltei para minha cidade natal, onde trabalhei como frentista por um bom tempo, cheguei sofrer com reumatismo nesta época porque lá era uma região muito fria.
Jornal do Sudoeste: Até conseguir ingressar na PM, como foi esse trajeto?
C.K.B.: Depois que voltei para a minha terra, passado um tempo fui morar em Belo Horizonte, onde inicialmente trabalhei com pronta-entrega de roupas jeans, em uma confecção. De lá, fui trabalhar como motorista na entrega de recarga de extintor de incêndio em BH. Andava a cidade inteira. Tem uma história engraçada neste período: lembro que uma vez estava passando em frente à Academia de Polícia Militar, quando passei por uma lombada, caiu um extintor de CO2 e fez aquela bagunça. Nessas minhas idas e vindas entregando extintor de incêndio, sempre passava pela porta do 5º Batalhão da PM, em um desses dias vi a faixa informando sobre as inscrições abertas para o curso de soldado, isso no final de 1994. Quis tentar, fiz a inscrição e passei. Consegui entrar e fiz o curso, foi a primeira turma que teve com pelotões mistos. Fui o terceiro da turma, atrás apenas de duas mulheres.
Jornal do Sudoeste: Entrar para a PM mudou sua vida?
C.K.B.: Completamente. Eu tinha um emprego que pagava um salário mínimo, morava em república e não dava para nada. Quando entrei para PM, o salário inicial eram dois salários mínimos, tinha alojamento. Isso foi muito bom, mas também ralei muito nesse período, trabalhava as madrugadas e me recordo de uma virada de ano em que eu passei guardando guarita. O céu de Belo Horizonte estava explodindo com os fogos de artifício sob aquela bandeira do Brasil enorme que tinha no batalhão, e eu estava ali, firme, trabalhando.
Jornal do Sudoeste: Como foi esse caminho dentro da PM?
C.K.B.: Depois do curso de soldado, requeri a prova para o Curso de Formação de Oficial e passei. Durante um período trabalhei na rua, até começar o CFO. Entrei na Academia em fevereiro de 1996, e me formei em outubro de 1999. Depois de formado, foi designado aspirante a oficial e lotado no 17º Batalhão em Uberlândia, onde trabalhei de 1999 a 2001. Foi nesta época que conheci a minha esposa, que é natural de lá. Mas tive vontade de voltar para a região de Diamantina, que era muito longe de onde eu estava, via minha mãe uma vez por ano. Acabei que consegui a transferência para o 3º Batalhão, mas logo depois fui para Curvelo, que era uma fração destacada do batalhão em Diamantina. Em Curvelo, fiquei um tempo e fui recebendo as promoções, quando atingi o posto de capitão, fui designado para assumir a 226ª Companhia em Três Marias. De lá voltei para Curvelo novamente até ser promovido a major, e fui para 14º Região, onde fiquei até 2017. De lá fui movimentado para comandar a antiga Companhia Independente de Meio Ambiente e Trânsito. Labutei em todas as áreas operacionais.
Jornal do Sudoeste: Quando Paraíso surge na sua vida?
C.K.B.: Quando fui promovido a tenente-coronel e designado para assumir o 43º Batalhão da PM. Sequer sabia onde ficava esta cidade, nunca tinha vindo para o Sul e Sudoeste de Minas. A minha referência sempre foi o Norte de Minas e Belo Horizonte. Depois que me apresentei em Poços de Caldas, que é a nossa regional, vim para Paraíso onde pernoitei em um hotel, e no dia seguinte, na terça, estava com o tenente-coronel Marcos, que me ajudou a procurar uma casa para alugar. Graças a Deus, no mesmo dia já consegui arrumar uma e no dia seguinte já estava com a mudança a caminho.
Jornal do Sudoeste: Qual foi sua primeira impressão de Paraíso?
C.K.B.: O que me chamou muito a atenção aqui foi sua similaridade com Curvelo, até mesmo na quantidade de habitantes, que é muito próxima. Gostei muito daqui, e o que me impressionou muito foi a quantidade de plantações de café, nunca vi tanto café na vida. Aqui, tudo que é pedacinho de terra as pessoas plantam café, seja no morro, no domínio do DER, tudo lotado de café. Estou gostando muito da região, que é bastante rica. O Norte é muito seco, aqui tem água em abundância, é uma região boa e minha família está gostando muito. A única dificuldade são os laços familiares que ficaram por lá onde fui criado. Além disso, o que me chamou muito a atenção foi a proximidade com outras cidades como Franca e Ribeirão, que são cidades fantástica e me impressionaram muito. A referência de vocês por aqui é só São Paulo.
Jornal do Sudoeste: O que achou da população?
C.K.B.: É uma cidade muito aconchegante e uma população muito hospitaleira. Acredito que o trabalho que temos desempenhando tem agradado as pessoas. Estamos trabalhando muito e meus policiais têm feito a diferença. Algo que me impressiona muito por aqui também é a união que existe entre os Poderes Públicos. Isso é um elemento fantástico para conseguimos manter a tranquilidade.
Jornal do Sudoeste: Em termos de comparação, como é Paraíso em relação de onde você veio?
C.K.B.: Os índices criminais são muito reduzidos, claro que lá também tinha seus problemas, mas aqui os problemas são bem menores, principalmente em relação à criminalidade violenta, como roubo, homicídio, sequestro e estupro. São crimes que quando chegam a acontecer, nós conseguimos dar uma resposta. Infelizmente, não conseguimos prevenir tudo. Para se ter uma ideia, entre as 86 unidades operacionais, o 43º Batalhão de PM em Paraíso é a 5ª unidade em redução criminal. Isso é o resultado do trabalho de cada um que veste esta farda, entra na viatura e presta o seu serviço.
Jornal do Sudoeste: São quantos anos de atuação na PM?
C.K.B.: Já são 25 anos, para aposentar são 30, mas só saio daqui no apagar das luzes. Eu faço o que eu gosto, digo que nem trabalhar eu trabalho, eu me divirto. Faço sempre o melhor que posso e valorizou minha equipe, porque eu já estive no mesmo lado deles, na radiopatrulha virando a noite para poder manter a segurança. Sabemos o que esses meninos passam a noite, velando pelo sono das pessoas e fazendo o melhor possível. Temos posto em prática algumas estratégias, o pessoal tem abraçado a ideia e temos tido bons resultados.
Jornal do Sudoeste: Recentemente foi realizada solenidade para reconhecer o trabalho desses policias. Como foi isso?
C.K.B.: Sim, foi uma solenidade para valorizar e reconhecer o trabalho dos militares das frações que mais se destacaram ao longo do primeiro semestre. Entregamos um troféu para esses homens e mulheres. É uma forma de valoriza-los, que trabalham muito e às vezes as pessoas não enxergam isso, e não veem que enquanto estão deitadas, cobertas, há um policial na rua trabalhando em prol da segurança pública. Fazemos o máximo, buscando atender locais, onde a incidência de crimes é maior com algumas operações. O que pedimos a população, é que apoie o policial, que está ali para cumprir seu trabalho. Às vezes as pessoas se incomodam e se ofendem com uma abordagem, por exemplo, mas a pessoa que comete um crime não tem uma estrelinha na testa avisando, e a denúncia precisa ser verificada e certificada, e às vezes isso incomoda.
Jornal do Sudoeste: É uma profissão indispensável, não é mesmo?
C.K.B.: Sim. Quando a pessoa disca 190, e isso já disse a minha tropa, aquele que atende a ligação pode ser a diferença entre aquela pessoa estar viva ou estar morta. Nesse momento nós não podemos errar, se errarmos amanhã pode ter um velório, e às vezes pode ser do próprio policial. Nós colocamos a disposição do cidadão aquilo que temos de mais precioso: a nossa vida e liberdade. Às vezes se erramos alguém pode perder a vida, e também a liberdade. É nós temos um código penal próprio, que é mais severo que o código penal civil. Tudo o que fazemos é dentro do parâmetro legal, o uso da arma de fogo é o último caso.
Jornal do Sudoeste: Quando você tentou entrar para o PM pela primeira vez e não conseguiu, como foi esse sentimento?
C.K.B.: Eu não consegui entrar por causa da entrevista, mas acredito que Deus faz tudo na hora certa. Imagine eu entrando para PM menino, com 17 para 18 anos, e já caindo direto em um curso de oficial? Eu costumo sempre enxergar o copo meio-cheio, de repente, naquela época eu poderia não ter tido maturidade suficiente e ser excluído da polícia. Tentei entrar na PM várias vezes depois disto, mas acho que consegui no momento certo. Eu fui persistente e nunca deixei de estudar. Deus preparou esse caminho para mim, era para eu ser dentista se não tiver marcado uma resposta errada de balanceamento químico, mesmo fazendo toda conta certa. Mas nunca interrompi o ciclo de plantar para colher, e é o que tento incentivar meus filhos a fazer.
Jornal do Sudoeste: Faria outra coisa que não fosse ser policial?
C.K.B.: Eu nunca pensei muito sobre isso. Talvez eu trabalhasse com música, ou Direito, que é uma área maravilhosa. Gostaria de lutar pelo direito, pelo direito e pela justiça, mais pela justiça que pelo direito talvez, como disse Ruy Barbosa, quando há conflito entre a justiça e o Direito, vá em direção à justiça.
Jornal do Sudoeste: Qual o balanço que você faz da sua trajetória até aqui?
C.K.B.: O que eu sou hoje, devo muito a Deus que me oportunizou nascer em um berço familiar onde meu pai e minha mãe foram minha maior referência. Quando eu desanimava de estudar, minha mãe puxava minha orelha e me apertava para estudar. Se cheguei até aqui, foi muita dedicação, sempre acreditei no meu potencial e naquilo que Deus me preparou, Ele está de olho em todos e nos abre as portas no momento certo, foi o que aconteceu comigo. Tudo tem a hora certa. Entrei na PM no momento certo, uma instituição que me encantou e sou apaixonado por isso aqui. Quando eu entro nessa farda e saio de casa e vejo os olhos do meu menino brilhar, fico numa satisfação e num senso de responsabilidade muito grande em fazer o melhor para meus policiais, para a minha comunidade e minha família.