A professora de Língua Portuguesa, Neuzimar Pereira Amorim de Paula, é uma profissional dedicada e muito querida por seus alunos, e atua na rede estadual de Minas Gerais desde 1990. Filha de Antônio Bernardinelli Pereira, falecido, operário aposentado da Mineradora Morro do Níquel, e da dona de casa Nair Amorim Pereira, ela é casada com João Batista de Paula e mãe da universitária Débora Amorim de Paula, que cursa Direito na Universidade Estadual Paulista (UNESP). Após anos de aprendizado e de contribuição na formação e desenvolvimento de muitos paraisenses, a educadora tem tido um papel de destaque com suas aulas particulares para concursos, além de técnicas de redação para o ENEM. Atualmente, Neuzimar exerce a função efetiva de dois cargos na Escola Estadual Paraisense.
Jornal do Sudoeste: Você é natural de Itaú de Minas, como foi esse processo de migração para Paraíso?
N.P.A.P.: Meus pais moravam na Vila Morro do Níquel, no município de Pratápolis. Quando fiz nove anos, minha família mudou-se para São Sebastião do Paraíso. Aqui, cursei os anos finais do Ensino Fundamental na Escola Estadual Paraisense, fiz Magistério na E. E. Benedito Fer-reira Calafiori e, depois, cursei Letras (Português e Inglês) em Passos. Logo após, concluí o curso de Pós-Graduação no Ensino de Língua Portuguesa em Batatais. Depois de formada, participei de vários cursos promovidos pela Secretaria de Educação de Minas Gerais, chegando, até mesmo, a representar o nosso estado em Brasília, como vencedora do 1º lugar em redação no Concurso Jovem Senador, quando orientei uma aluna do Ensino Médio.
Jornal do Sudoeste: Como foi sua infância?
N.P.A.P.: Minha infância foi maravilhosa. Eu tinha liberdade de brincar nas poucas ruas do vilarejo onde morava. Aos quatro anos, fui para a escola. Encantava-me com as brincadeiras e com os livros apresentados. Passava horas imaginando o que estaria escrito nas páginas que folheava. Desde bem pequena, eu ouvia minha mãe falando sobre a importância do estudo e da responsabilidade. Ela explicava que meu pai trabalhava em serviço tão difícil à noite porque não tivera chance de estudar. Então eles faziam tudo para eu aprender cada vez mais. Na adolescência, eu já frequentava, diariamente, a biblioteca da escola a qual ficava aberta durante o recreio. Minha distração era ler livros.
Jornal do Sudoeste: Qual memória mais marcante você tem dessa época?
N.P.A.P.: Jamais esquecerei o dia no qual meu pai chegou do serviço com uma coleção de livros ilustrados e encadernados em capa dura. Havia, também, alguns discos de vinil com áudio das histórias infantis. Hoje percebo o quanto aquele presente foi essencial para a minha vocação, por isso guardo tudo até hoje.
Jornal do Sudoeste: O que mais a satisfaz enquanto professora?
N.P.A.P.: Sinto-me feliz quando percebo que alguém se desenvolve ou aprende comigo! Quando eu era criança, sempre brincava de escolinha para ser a professora, porém, só reconheci minha vocação quando estava na antiga oitava série e fui convidada a participar da Semana da Normalista. Ao assistir a todas as apresentações, fiquei encantada! Decidi que seria professora! Fiz o Magistério com empenho e satisfação!
Jornal do Sudoeste: Como foi seu começo de carreira e o que mais lhe chamou a atenção quando começou a lecionar?
N.P.A.P.: O começo da carreira foi muito surpreendente. Eu estranhei demais! Achei difícil relacionar a teoria à prática. Agradeço até hoje à minha mãe e aos profissionais com quem tive o prazer de trabalhar. Com eles aprendi, no dia a dia, a procurar a excelência nas relações pessoais e profissionais. As aulas particulares me ajudaram a perceber dificuldades individuais e, assim, inventar estratégias diversificadas para contribuir com uma efetiva aprendizagem. Descobri que um bom profissional aproveita todos os momentos para aprender e desenvolver sempre!
Jornal do Sudoeste: De lá para cá, podemos dizer que a Educação melhorou ou piorou? Por quê?
N.P.A.P.: Acho que a educação transformou-se. Os alunos obtêm o conhecimento em todos os lugares, porém o objetivo da escola é prepará-los para utilizar isso quando for necessário. A maior dificuldade é conseguir fazer um adolescente ter perspectiva de futuro para ajudá-lo a reconhecer e desenvolver suas potencialidades. Percebo a falta de motivação em muitos alunos. Acho que nós, professores, devemos apresentar estímulos sim, porém nada substitui o incentivo da família. Os maiores problemas da escola não surgem na escola. É muito decepcionante ensinar a quem não quer aprender. Minha profissão está sendo, cada vez mais, desvalorizada porque o professor deixa de exercer apenas a sua profissão para, em muitos casos, tentar solucionar problemas que interferem sua atuação. Nosso desafio é encontrar alternativas para colaborar com o desenvolvimento do educando.
Jornal do Sudoeste: O que mais inspira você a ser professora?
N.P.A.P.: O que me inspira a ser professora é o fato de estar sempre aprendendo e ampliando as relações interpessoais. A cada ano, tenho a oportunidade de conhecer mais de trezentas pessoas e, o mais importante, aprender com elas! É importante salientar que, por mais que a sociedade tenha mudado, uma coisa permanece e continuará assim: a escola perpetua a educação horizontal com a qual todos aprendem e ensinam, independentemente de serem educandos ou educadores! Essa convivência que torna os indivíduos seres melhores!
Jornal do Sudoeste: Existem aqueles que também sonham ser professores (eu sou um deles). Qual conselho você daria a esses estudantes de graduação?
N.P.A.P.: Meu conselho a um futuro professor é que trabalhe em algo de que goste! Antes de ser um profissional, seja um ser humano feliz! O mundo tem necessidade de humanização... As pessoas precisam aproveitar todas as oportunidades com prazer, energia e disposição! Ninguém executa uma função com excelência, se não gosta do que faz. Trabalhar na educação é resistir, é superar, é acreditar que toda pessoa pode ser melhor a cada dia! Você perceberá a diferença entre o cansaço e a satisfação!
Jornal do Sudoeste: Você sempre quis ser professora, se sente realizada?
N.P.A.P.: Eu me sinto realizada! Sempre fiz o que quis! O que me inspira é a certeza de que todo professor é muito importante, pois pode transformar a vida das pessoas e, consequentemente, a sociedade. Educação é resolução de conflitos... é saber respeitar e valorizar a diversidade, a humanidade... é aproveitar todos os momentos para aprender e ensinar... Gosto da frase de Paulo Freire: “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”.