O título é do filme americano de 1943, dirigido por Sam Wood, baseado no famoso romance homônimo de Hemingway. A crítica não foi muito favorável, destacando-se apenas o casal dos amantes, Gary Cooper e a linda Ingrid Bergman. Foi assim também que intitulei um poema do meu primeiro livro do gênero poesia, A Encantadora de Serpentes (João Scortecci Editora, S. Paulo, 1989). O livro foi um sucesso, apesar das "reclamações" por ser tão amargo e trágico.
Muitas vezes já expliquei ao público que todo livro é um estado de alma. Os poemas da obra eram frutos de uma época em que eu estava com a alma cinzenta e tive que lutar muito para livrar-me do abismo em que eu mergulhara...
A vida é estranha. Recentemente tive uma recaída, mas por causa diferente. Dessa vez, não individual, pessoal, mas analisando os acontecimentos e fatos desse nefando mundo globalizado, doente com as mais terríveis chagas, como a violência, a criminalidade, as injustiças sociais, a corrupção sem limites, a droga espalhando-se como uma erva maldita.
Realmente, o poema traz inúmeros temas universais. Afinal, como diz a Bíblia, somos feitos do mesmo barro. Por isso, a famosa, sofrida e complexa Clarice Lispector, usa um jogo de pronomes, de forma notável, para explicar tal semelhança entre os mortais. Ela diz: Eu que te sou, tu que me és... Meu texto fala inicialmente da condição humana, muito semelhante; ou então, como denuncia Drummond, o sofrimento é universal, apenas a alegria é particular. O quarto, o quinto e o sexto versos lembram o leitor a triste verdade que os sonhos "voam implumes", mal nascidos e morrem logo, na praia, "antes mesmo de conhecer o mar"... E as comparações e metáforas amargas continuam: a esperança é "planta mirrada,/ que nem em terra fértil medra".
Às vezes me pergunto hoje, com a alma, o coração mais tranquilos, onde sopra uma doce aragem, como um ser humano que um dia se sente destruído, pode, depois, convalescer, o sofrimento partir, sem "quase" deixar feias cicatrizes? Que animal complexo é o homem, que consegue regenerar, de novo florescer, quando até as raízes já pareciam mortas? E o poema terrível continua a denúncia amarga. O viver é um nada, inventam-se deuses, as "orações caem no vazio"... E depois vem a morte inexorável , "tudo terminando num fundo poço / sem volta". Fecho o poema com dois versos que nada consolam: "Os sinos dobram pelo próprio tanger / deste animal triste que nasce para morrer".
A essa altura o leitor já deve ter posto o artigo de lado, detestando a articulista. Sadismo, escrever coisas assim! Espero que entendam a mensagem. É ao contrário. Saúdo a capacidade magnífica do ser humano de ultrapassar, de vencer os mais duros obstáculos. Os gregos acreditavam em semideuses, criaturas semidivinas, capazes de grandes vitórias e he-roísmos. Na realidade, somos todos bravos guerreiros, que jamais nos entregamos. Após qualquer morte da alma, renascemos como Fênix redivivas.
Aquele que nunca sofreu, até às fezes, utilizando uma metáfora forte de Drummond, ou que não conseguiu, de novo, renitentemente, renascer, recomeçar, reviver, que me atire a primeira pedra.
(*) Ely Vieitez é escritora.
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