A Fórmula 1 chegou ao Japão com o clima bastante pesado entre Ayrton Senna e Alain Prost na penúltima etapa do campeonato de 1989. A convivência entre os dois na mesma garagem da McLaren havia chegado ao insuportável desde o episódio de San Marino daquele ano (tema da coluna passada) em que Senna quebrou um acordo de cava-lheiros e ultrapassou o rival na segunda largada da corrida.
Prost estava de saída da McLaren e levava boa vantagem na classificação rumo ao tricampeonato. Senna precisava vencer em Suzuka para levar a decisão do título para a Austrália. Prost somava 76 pontos, havia vencido quatro corridas e apenas um abandono. Senna tinha 60 pontos, seis vitórias, mas havia abandonado sete vezes.
Nos bastidores, o então presidente da Federação Internacional de Automobilismo, Jean-Marie Balestre, pedia à Honda igualdade de condições aos dois pilotos, o que causou a desconfiança dos japoneses e de Senna, em suposta conspiração de Balestre a favor de Prost, já que ambos, franceses, eram pessoas próximas.
Senna fez a pole position pela 12ª vez no ano, e com uma vantagem absurda sobre Prost: 1s730. Mas foi o francês quem assumiu a ponta, e antes da largada havia dito que "fecharia a porta" caso estivesse na frente e Senna tentasse ultrapassá-lo.
Prost liderou a prova até que na volta 47, quando Senna tentou a ultrapassagem na chicane que antecede a reta dos boxes; Prost jogou propositalmente seu carro sobre o de Senna. Enquanto o francês deixava o carro com o câmbio engatado, dificultando o trabalho dos fiscais de pista em separar um carro do outro (as rodas ficaram entrelaçadas), Senna gesticulava freneticamente para ser empurrado e retornou à pista por fora do traçado. Vale dizer que no ponto onde os dois pararam, não havia como retornar pela trajetória normal.
Enquanto Senna completava uma volta inteira sem a asa dianteira e retornava aos boxes para substituição e troca de pneus, Prost corria para a torre de cronometragem onde se encontrava Balestre.
A essa altura, Alessandro Nanini era o novo líder. Senna retornou dos boxes 10 segundos atrás do piloto da Benetton e restavam apenas quatro voltas para o final. Parecia impossível, mas em uma volta o brasileiro tirou 5 segundos da diferença, e na 51ª volta, ultrapassa o italiano com a mesma manobra, no mesmo trecho que tentou sobre Prost.
Enquanto Senna recebia a bandeirada em primeiro, uma intensa movimentação acontecia na torre de cronometragem, onde estava Prost junto da direção de prova. A demora da premiação do pódio indicava que algo estranho estava acontecendo, até que depois de longa espera surgem os três primeiros colocados para a cerimônia, sem a presença de Senna que fora desclassificado. A alegação foi de que Ayrton teria cortado o caminho ao retornar à pista.
Uma das vitórias mais emblemáticas da carreira de Ayrton Senna foi "garfada" por Jean-Marie Balestre, que pouco antes de morrer, em 2008, confessou ter desclassificado o brasileiro de propósito para favorecer Prost.
Força da natureza
O tufão Hagibis alterou a programação do sábado para o GP do Japão, e o treino de classificação acontece hoje, às 22h pelo horário de Brasília. Até o fechamento desta coluna, a largada estava confirmada para esta madrugada às 2h10, ao vivo na TV Globo e rádio BandNews FM. Este será o 35º GP do Japão, prova em que a Mercedes pode garantir por antecipação o Mundial de Construtores. Desde 2014 só dá Mercedes em Suzuka. Por outro lado, a Ferrari não vence no Japão desde 2004, com Michael Schumacher.