O termo "boutade", do francês, é muito rico em significados. Um deles é um achado, uma sentença de vários sentidos. Um dia desses, ao assistir a um filme, no início citava-se um pensamento de Mark Twain, pseudônimo do escritor norte-americano Samuel Longhome, famoso, principalmente pelas obras As Aventuras de Tom Sawyer e As Aventuras de Huck-berry Finn, ambas filmadas.
A máxima de Mark Twain diz: "Os dois dias mais importantes de sua vida são o dia em que nasceu e quando descobre o porquê". O pensamento encantou-me; a primeira parte é evidentemente óbvia, mas a segunda é profunda. Estou no mundo com que finalidade? Qual é minha missão? Estou sendo digno dela, concretizando-a?
Há pessoas que não se preocupam muito com isso. Jamais me esquecerei da afirmação categórica de uma de minhas filhas: "Cuidar apenas de minha vida já é suficiente". Talvez ela tenha razão. Os sonhadores, os idealistas sofrem e quase sempre morrem frustrados por nada terem conseguido. O destino dos que se preocupam com a salvação dos seres humanos é, muitas vezes, cruel. Querem um exemplo maior? O Cristo. Ele só pregou o amor, a fraternidade, a igualdade entre os homens, o bem. O preço foi alto e o pior, não se pode ter a certeza dos resultados...
Ao saber que Mark Twain era famoso pelas máximas, li algumas no professor Google. Uma delas atraiu-me: "Cada um de nós é uma lua e tem um lado escuro que nunca mostra a ninguém". A razão de meu interesse é que há algum tempo, décadas, surgiu uma celeuma entre escritores famosos: O homem é o que ele mostra, faz, ou que ele esconde? Vários escritores deram suas respostas e a de Guimarães Rosa surpreendeu-me: O homem é o que ele esconde.
Psicólogos, psicanalistas, psiquiatras me ajudem: O que é mais real, mais concreto, para se conhecer o ser humano: suas obras, o que ele faz, ou o mundo sombrio que ele esconde? Já foi dito que todo ser humano tem uma ilha esconsa, que só ele conhece. Vou mais além: quem conhece seus próprios porões, ou já teve a ousadia de, ao menos, tentar conhecê-los?
E aí está o mundo, repleto de pessoas alegres, tristes, comuns, complexas, todos com suas máscaras, o que eles podem apresentar. O íntimo, o interior de cada um é um mistério indevassável. Só a própria pessoa tem acesso a essas cavernas misteriosas, a esse local proibido. Tudo isto me encanta. E a você, leitor?
(*) Ely Vieitez é escritora.
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