198 ANOS PARAÍSO

Zé Ico, o grande zagueiro: Memória viva de quem marcou época na Paraisense

Por: João Oliveira | Categoria: Esporte | 24-10-2019 14:02 | 2916
Zé Ico hoje é coordenador da Defesa Civil
Zé Ico hoje é coordenador da Defesa Civil Foto: Nelson P. Duarte

São Sebastião do Paraíso também teve seus dias de glória no cenário futebolístico e recebeu nos gramados do Estádio Comendador João Alves, da Associação Atlética Paraisense (AAP), inúmeros clubes importantes que disputaram partidas que ficaram na memória e hoje deixam saudades. Paraíso teve grandes nomes no futebol, entre eles do zagueiro José Francisco de Oliveira, mais conhecido por Zé Ico,  ex-vereador, que atualmente coordena a Defesa Civil em São Sebastião do Paraíso.

Aos 68 anos, ele recorda momentos especiais e se lembra de grandes nomes da sua geração e de uma época em que Paraíso serviu de palco para jogos disputadíssimo contra equipes de renome como o Santos, Comercial e o Botafogo de Ribeirão Preto, Ferroviária de Araraquara.

"Eu fiz parte da geração de 1966 da Associação Atlética Paraisense. O presidente era  Gilberto de Carvalho, foi uma época marcante, jogamos contra clubes importantes, depois tivemos a fase do Waldemar Lanzoni, que foi um baluarte e tocou a Paraisense por muitos anos", recorda Zé Ico.

Na infância e adolescência Zé Ico jogou incontáveis "peladas" nos "Largos" Santa Rita, Santo Antônio e Nossa Senhora Aparecida, quando eram "chão batido" e ainda não eram praças. Seu início no futebol amador se deu no  Operário Esporte Clube, onde jogou por dois meses, mas logo depois foi convidado a integrar a Associação Atlética Paraisense. "Meus olhos sempre estiveram voltados para a Paraisense, na época eu até deixei de seguir uma carreira no futebol fora daqui para poder ficar no clube. Não faltaram oportunidades. Na Paraisense tive a honra ter sido treinado pelo técnico Coutinho, que jogou com o rei Pelé, e também pelo César o legendário centroavante do Palmeiras".

"Na minha época de moleque a Paraisense teve um time forte, com nomes como Zé Tarzan, Luiz Cechini, Evaristo Coimbra, Pedro Beline e Luiz Lázaro (Pichorra), era uma safra que defendia a camisa com tudo, e tive a oportunidade de jogar com eles", relembra.

Conforme o ex-jogador, ele só teve boas memórias dessa fase e recorda, já veterano, de ter jogado ao lado de uma geração de grandes craques como Emílinho, Tianinho, Onze Horas, Pinheirinho, Roberto, Dica, Martelo, Diná. "Foi uma safra muito boa de jogadores, eu já era veterano, mas joguei com esses meninos, que representaram muito bem a Paraisense. Eram grandes craques de bola, principalmente o Emilinho, centroavante que jogava muito".

Zé Ico também recorda dos clássicos entre a Paraisense e o Operário. "O Operário também tinha ótimos jogadores. Era uma guerra. A torcida lotava os estádios, tanto o "Dr. Joaquim Ferreira Gonçalves (1.º de Maio) do Operário, quanto o da Paraisense, o "Comendador João Alves". Era sensacional e, infelizmente, não vemos mais isso acontecer. Era uma briga sadia. Sinto saudade", conta. Ele  iniciou sua carreira futebolística como lateral direito no Operário, mas depois assumiu a posição de zagueiro, ao lado de Chico Cechini, na Paraisense.

"Nós dois, além do Batata e o Pelezinho, éramos os titulares na época em que o município recebeu times fortes,  de primeira divisão, fomos um time muito bom, de meninos que realmente marcaram época", destaca.

Entre suas memórias mais marcantes, está uma partida da Paraisense em Varginha, apitada pelo folclórico arbitro Antônio Gomes Oliveira conhecido como "Marcha Ré". Ele se recorda que Varginha precisa ganhar com uma diferença de 3 a 0 para se classificar. "Do contrário, classificava-se a Caldense. Esse jogo foi muito marcante, e fizeram de tudo para que Varginha ganhasse. Tivemos muitos jogadores expulsos. Fomos ameaçados em campo. Enfim, fizemos de tudo para tirar essa vitória do time da casa, mas no fim das contas eles acabaram ganhando. Esse juiz era muito famoso, quando falava em seu nome, era dar como o jogo por ganho para um dos times", ressalta.

Zé Ico por amor à camisa alviverde da Paraisense, também fez algumas loucuras. O zagueiro se recorda que quando o Santos veio jogar em Paraíso, ele havia torcido o pé. Para não perder a disputa, pediu para o médico anestesiar o pé lesionado e entrou em campo mesmo assim."Eu não podia perder esse jogo, queria jogar a todo custo. Meu pé foi anestesiado, e entrei em campo mesmo assim. Fiquei na marcação do Coutinho, que jogava para o Santos nessa época. Todo mundo estranhou e queria saber o que estava acontecendo comigo. Depois que terminou o primeiro tempo, tomei outra dose de anestesia, fiquei com meu pé bem bobo. Iniciamos o jogo ganhando, mas perdemos de 4 a 1", conta.

A memória da "casa lotada", com mais de 20 mil pessoas para assistir a este jogo, ainda se mantém viva nas lembranças do zagueiro. "Jamais perderia esta oportunidade. No segundo tempo já consegui fazer uma partida melhor, mas não deu", acrescenta.

O ex-jogador lembra que, dada a pouca renda, o clube foi perdendo a visibilidade que chegou a ter nas décadas de 50 e 60. "O Waldemar levou o clube longe, foi um presidente muito batalhador e não deixava faltar jogo", recorda.

O talento de Zé Ico não passou despercebido. Diversos clubes quiseram contrata-lo. Ele se recorda de um jogo contra o Guarani de Campinas. Após a partida ele foi procurado pelo técnico que queria levá-lo a todo custo. "No fim do ano vendi tudo o que tinha e fui fazer novo teste, coincidiu que nesta mesma época fui para a casa de uma irmã em São Paulo, como estava desempregado, acabei arrumando emprego e fiquei nesse impasse. No caminho para lá, acabei desistindo de jogar e fui trabalhar", conta.

Por fim, o ex-jogador confidencia que sente muita saudade daqueles tempos. "Lembro-me daquela turma, do que vivemos. Era muito gostoso e eu adorava jogar. Quando eu morei em São Paulo, vinha para cá direto para poder jogar nos finais de semana. Jogar bola é algo que desde quando eu era moleque sou apaixonado e, muito antes de ir para a Paraisense, já formava time para poder fazer disputas.  Eu queria me divertir. Fui muito feliz na Paraisense, defendi demais a camisa e só tenho boas memórias", completa o grande zagueiro da Associação.

Zé Ico jogou por muitos anos na Paraisense
(Em pé) Zé Vicente, Quico, Zé Ico, Chico Cequini, Carlão e Zinha (agachados) Pedrinho, Pelezinho, Babá, Batatinha, Tatinha e o mascote