A superintendente da 35ª Superintendência Regional de Ensino em São Sebastião do Paraíso (35ª SRE), Maísa Cláudia de Mello Barreto, foi nomeada para o cargo neste ano após um processo seletivo que contou com diversos candidatos. Com 17 anos de atuação, Maísa construiu toda uma carreira dentro da SRE e hoje, à frente do órgão, tem buscado elevar a um próximo patamar esta que já tem um dos melhores resultados do Estado em nível de ensino. Filha da professora aposentada Ana Maria de Pádua Mello e de Sebastião Rodrigues de Mello (em memória), ela é casada com o engenheiro civil Fernando Barreto, mãe dos pequenos Guilherme, de 12 anos, e da Maria Fernanda, de 8. Ela recebeu com carinho a reportagem do Jornal do Sudoeste, e conta um pouco da sua vida e da construção dessa trajetória repleta de desafios e realizações.
Jornal do Sudoeste: Você é natural de Campinas, como surgiu Paraíso nessa história?
M.C.M.B.: Meus pais moraram e trabalhavam lá, meu pai trabalhava em uma gráfica e minha mãe era professora. Estavam morando a trabalho, mas minha família é toda daqui. Quando meu pai faleceu, nós nos mudamos de volta para Paraíso, eu tinha três anos. Tanto que nem tenho lembranças desse período lá.
Jornal do Sudoeste: E como foi a infância vivendo em Paraíso?
M.C.M.B.: Foi bem tranquila, sempre morei no centro da cidade e me lembro que brincávamos na rua e, nesta época, ela nem tinha calçamento. Tínhamos amizade com a vizinhança, eu e minha irmã sempre estivemos muito juntas e estudamos na mesma escola. Estudei no Colégio Paula Frassinetti no Ensino Fundamental e concluí o Ensino Médio no Objetivo NHN, inclusive, quando assumi o cargo de superintendente, recebi visita da professora Maria José, diretora, e do professor Helou (ele é o H, do Objetivo NHN), e me felicitaram; foi uma honra muito grande receber essas visitas. Quando fiz o Ensino Médio, jamais imaginaria que estaria no cargo que ocupo hoje.
Jornal do Sudoeste: Você sempre teve essa inclinação pela educação?
M.C.M.B.: Sempre, talvez por minha mãe ser professora, como pelo cargo que eu já tinha aqui. Quando comecei a estudar Pedagogia eu já trabalhava na Superintendência, comecei em 2002, quando passei em um concurso público que houve – era um para nível médio. Depois de formada, prestei concurso para analista educacional, que já é um cargo de nível superior, e passei. A assim, fui construindo minha trajetória dentro da Superintendência, sempre estudando e aproveitando as oportunidades que me surgiram. Prestei concurso para inspeção escolar, que hoje é meu cargo efetivo dentro da SRE.
Jornal do Sudoeste: Como foi esse começo de carreira?
M.C.M.B.: Aqui sempre foi uma instituição muito boa de se trabalhar, sempre estive envolvida com uma equipe muito séria, muito comprometida, e isso me deu uma base muito boa para o que eu sei hoje, e que ainda estou aprendendo. No começo, trabalhei com a Maria Olímpia. No primeiro dia, quando me viu, levou-me para trabalhar com ela, isso foi ótimo porque eu realmente aprendi e grande parte do que sei aprendi com ela. É uma pessoa que foi uma escola para todos aqueles que trabalharam próximos a ela. Aprendi demais, conheci as escolas, diretores, equipes pedagógicas, e fui construindo essa caminhada, que já tem 17 anos.
Jornal do Sudoeste: Você sempre quis estudar pedagogia?
M.C.M.B.: Sim, tudo culminou para que eu seguisse esse caminho, a influência familiar, o trabalho que eu já exercia aqui na SRE. Depois, as pós-graduações que eu fiz, também pensando na carreira. Nunca pensei em desistir desse caminho ou em fazer outra coisa. Sempre gostei muito de trabalhar aqui. Tem seus desafios? Muitos, mas cada um deles lhe faz crescer um pouco mais. Gosto muito do meu trabalho, não faria outra coisa.
Jornal do Sudoeste: Teve algum momento de dificuldade nesse processo?
M.C.M.B.: Lidar com educação é difícil e são muitos os desafios, passamos por mudanças de governo, e quando muda o governo, mudam-se as políticas. Aqui é um órgão fiscalizador, no sentido de garantia dos direitos do aluno, e diante disso há momentos que desagradamos alguém, momentos em que precisamos fazer escolhas e quem está no outro lado desse caminho fica chateado, então são diários esses desafios, mesmo porque é um universo muito amplo, nós atendemos a 16 municípios. São 16 realidades diferentes e nenhum município é igual ao outro. São escolas estaduais, rede municipal de ensino, escolas particulares, e toda a parte legal compete a nós – e é a SRE quem autoriza ou não o funcionamento de instituições de ensino como, por exemplo, as creches. É um trabalho desafiador, já que além da parte legal, também temos que incentivar a melhoria de resultados.
Jornal do Sudoeste: Nesses seus 17 anos de atuação, a educação evoluiu muito, falta evoluir, como você enxerga isso?
M.C.M.B.: Temos uma equipe muito boa, com escolas muito boas e professores muito bons. No entanto, estamos estagnados, isto é, não temos um resultado ruim perto de outras regiões, mas precisamos avançar, melhorar mais, e, diante disto, esta-mos desenvolvendo projetos, programas, fazendo reuniões com diretores e especialistas para a construção de um plano de ação para levantar onde estamos e aonde queremos chegar. Estamos buscando resultados palpáveis, e é através deste resultado que vem a melho-ria e a evolução, porque não adianta estar bem e ficar parado, tem que estar em constante busca por melhores resultados.
Jornal do Sudoeste: O professor, hoje, é muito cobrado, como vocês lidam com estas questões?
M.C.M.B.: Nós cultivamos um respeito muito grande pelos professores e não acredito que se deva jogar toda a culpa nesses profissionais. Acredito que é todo um contexto, por isso devemos realizar um trabalho em rede – até mesmo para resolver essas situações de violência, por exemplo, ou outros acontecimentos que im-pactam o dia a dia da escola. Muitas coisas a escolas não consegue resolver. Todas as instituições têm que funcionar: é Conselho Tutelar, Promotoria, Juiza-do da Infância e Juventude e, cada um na sua atribuição. Sem a ajuda dessa rede a escola não consegue resolver nada e isso impacta diretamente na aprendizagem do aluno e no dia a dia do professor. E também não podemos empurrar “a sujeira para debaixo do tapete”, mudando o aluno que tem causado problema de escola, por exemplo; é por isso que acreditamos no Educando para a Paz, resgatando esse aluno que, na maioria das vezes, é uma vítima de algo. São questões complexas que não podemos atribuir a culpa em uma única pessoa. Por isso, o plano de ação de cada escola tem que ser individual, considerando a sua realidade porque, às vezes, aquele aluno é vítima de uma violência e pratica a violência, e isso acontece muito.
Jornal do Sudoeste: Qual a maior demanda envolvendo alunos que chegam até vocês?
M.C.M.B.: Atualmente, a questão do uso de drogas por aluno é um problema sério, e esse aluno, cada vez mais jovem, tem se envolvido com isto. Há outros casos, mas esse é o principal. Acredito que a Educação é uma ferramenta para mudar essa realidade, a Educação muda a vida de uma pessoa. Acredito muito nisto, assim como o esporte também o é, porque às vezes se o aluno não está se identificando tanto com a Escola, o Esporte contribui para ele retornar a ela, e incentivamos muito isto.
Jornal do Sudoeste: Sobre a educação inclusiva, como esses alunos deficientes têm sido absorvidos pelo Estado?
M.C.M.B.: Temos muitos estudantes com deficiências nas escolas, e é a Escola Pública quem está cumprindo a Política Nacional de Educação Especial. A escola particular ainda tem um caminhar pela frente e ainda não chegou ao patamar em que a escola pública está. Hoje a escola pública tem professor de apoio, tem sala recurso, tem auxiliar de serviços gerais para ajudar esses meninos na alimentação, na higiene e locomoção na escola. O Estado tem todo um suporte para os estudantes com deficiência. O governo atual não teve uma política diferente e, por enquanto, estamos mantendo a mesma, mas temos um caminhar bem longo pela frente, pois estamos sempre na busca pela qualidade, tanto pelos estudantes com deficiência, quanto os demais estudantes. Hoje nosso foco é a “gestão pela aprendizagem” e todas nossas ações são direcio-nadas para isto. Então, estamos sempre oferecendo cursos de formação para os profissionais, são ações que visam a melho-ria da aprendizagem desse aluno.
Jornal do Sudoeste: A Superintendência de Paraíso é diferenciada, não?
M.C.M.B.: Sim, somos constantemente elogiados pela Secretaria de Estado de Educação de Minas. É uma equipe muito boa de serviço, são pessoas comprometidas e muito responsáveis.
Jornal do Sudoeste: Quais são os planos para futuro?
M.C.M.B.: Todas as nossas ações são para melhoria mesmo da aprendizagem. Nosso objetivo é alavancar a SRE de São Sebastião do Paraíso. Na próxima semana começam as avalições externas que medem o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), é uma avaliação que norteia todas as nossas estratégias na busca por essa qualidade.
Jornal do Sudoeste: Qual o balanço que você faz de toda essa jornada até aqui?
M.C.M.B.: É uma trajetória que sinto muito orgulho, de muito estudo, muita dedicação e compromisso, que resultou hoje neste cargo o qual eu ocupo. Recebi essa notícia com muita alegria, e preparada para encarar os desafios que viriam à frente.