A Associação Atlética Paraisense comemora neste ano, o centenário de sua fundação. Nos estádios, uma história construída com equipes amadoras e profissionais que tiveram o condão de emocionar legiões de torcedores ao longo de sua trajetória, em festejadas vitórias, e sofridas derrotas. Fora das quatro linhas dos gramados, um patrimônio com diversos imóveis em área nobre, que foi aos poucos sendo dilapidado, restando como consolo, o Estádio Comendador João Alves.
A Associação Atlética Paraisense foi fundada em 5 de março de 1919 pelo coronel Alfredo Serra Júnior. Com o passar dos anos teve sua sede social em imóvel próprio na rua Dr. Placidino Brigagão, em frente à Escola de Comércio, hoje Colégio Objetivo, extensa área que se estendia à rua dos Antunes, onde foi construída piscina, o chamado Departamento Aquático, tempos depois incorporado pelo município na gestão do então prefeito Waldir Marcolini, onde atualmente é o Clube dos Funcionários Municipais. Outro imóvel, área entre a rua Geraldo Marcolini e a avenida Monsenhor Man-cini, onde havia o chamado “buracão”, foi vendido na década de 1960. Nele, segundo era dito, o ex-presidente Fúlvio Guidi, que teve atuação destacada na história da Paraisense, tinha a intenção de construir um estádio. A área foi urbanizada.
Tendo apenas o Estádio, diga-se de passagem, necessitando de reformas por toda parte, com dívidas a pagar, e documentação irregular, a Associação Atlética Paraisense passou a ter um novo capítulo em sua história há mais ou menos quinze anos, graças a sua equipe de Veteranos, atletas que atuaram na Mais Querida e continuaram reunindo-se para um “bate-bola” aos domingos.
Dentre eles há de se destacar o trabalho abnegado de Ednar Marcomini, o Diná, atleta, advogado, presidente entusiasta que muito se empenhou para regularizar a documentação da Paraisense. Outros nomes lembrados e que também se desdobraram para “acertar a papelada”, foram o então presidente Claudio Passagem, e o advogado e defensor público, Edson Vander da Assunção, que integram os Veteranos da AAP, e o Conselho do centenário clube.
Sobre a parte financeira da AAP, Paulo César Santos, treinador dos Veteranos há alguns anos, que também abraçou a causa de trazer de volta a Mais Querida ao cenário esportivo, do qual não poderia ter saído, em poucas palavras definiu a situação encontrada em meados de 2013: “Estava no fundo do poço”.
Conforme disse Santos, havia pendências trabalhistas, dentre outras contas a pagar. Mas onde se tem vontade, há firmeza de propósitos, disposição e clareza no que é feito, e, principalmente união, os objetivos são alcançados. Tendo como fonte de recurso pequena contribuição mensal de integrantes da equipe, venda de espaços publicitários nas laterais internas e, em ocasiões de campeonatos ou outros eventos, o aluguel para a realização de jogos, algumas doações, e, mais recentemente o apoio de uma empresa, hoje a situação é outra.
Na parte interna do “Comendador João Alves” foram feitos diversos reparos, e o gramado está bem cuidado. Um calçadão para estacionamento de veículos foi construído na frente do estádio, tudo com o esforço e trabalho pessoal de integrantes dos Veteranos, que literalmente “põem a mão na massa”.
Em homenagem a Diná, ele tinha esse propósito, um dos próximos passos será recuperar a fachada do estádio, explica o treinador Paulo César Santos.
VETERANOS TÊM CONSEGUIDO SEGUIDOS TÍTULOS
Essa nova fase da AAP se originou nos treinos dos Veteranos nas manhãs de domingo, quando infalivelmente às 7 horas já estavam em campo, dentre outros, Diná, Antônio Carlos Barreto de Lima (Batatinha), Cristiano Ribeiro, o Tianinho, Dica, Cambola dentre outros que marcaram época na “Mais Querida”. O número de participantes foi aumentando, e passaram a ser dois horários, às 7 horas a “turma do Diná”, e às 10 horas a do Tianinho, ao todo uns quarenta “quarentões” que de longa data contribuem com pequena taxa mensal, que tem feito fartura.
A atual diretoria tem como presidente Carlos Fernandes Pereira (Cambola), vice-presidente, Agnaldo Pereira Carvalho, e secretário Ederval Donizete da Silva, atletas que atuaram pela Paraisense e por outras renomadas equipes. Algo comum entre eles, o amor e dedicação à Associação Atlética Paraisense.
Agnaldo e Ederval iniciaram em times de base de “Mais Querida”, atuaram em várias equipes, até que foram reunidos novamente com o ideal em dar continuidade à prática esportiva.
O atual presidente, Cambola, é natural de Matosinhos (MG). Veio jogar na AAP em 1994. Atuou em equipes mineiras e do interior paulista, mas fixou-se em Paraíso onde constituiu sua família e criou um vínculo de amizade. Além de integrar os “Veteranos” como atleta, passou a ser “braço direito” de diretores, dedicando-se a zelar do Estádio Comendador João Alves.
Na página da Associação Atlética Paraisense, em rede social, o vice-presidente Agnaldo Pereira Carvalho explicou para o torcedor alviverde da Mais Querida e para a população, como se chegou ao “nível de organização” que atualmente se constata.
“Chegamos a tal organização sempre sendo orientados pelos diretores de patrimônio a preservar a instituição Paraisense, que chega a seu centenário com muita história. O diferencial da nossa administração é a ousadia. Fazer tudo sem medo, com muita união e humildade, com toda ajuda que recebemos de vários amigos, que sabem como tudo é gasto”.
EM CAMPO
Se administrativamente falando a diretoria tem conseguido pontos positivos, em campo, de igual maneira a equipe tem se entendido bem. Recentemente, no dia 28 de setembro conquistou o título de campeã da 1.ª Copa Sul Mineira Quarentão de Futebol, ao golear o Oriente E.C., de Passos, por 3 a 0, revertendo desvantagem da partida anterior, quando perdeu por 3 a 2 em Passos. A equipe jogou a maior parte da partida com um atleta a menos, pois houve expulsão muito contestada. O Troféu Abrão Assad Kallas, foi uma conquista muito festejada.
Foi o quarto campeonato regional consecutivo conquistado: A Paraisense foi campeã em 2016 e 2017 vice-campeã em 2018, e novamente campeã do “Quarentão” em 2019, campeonatos promovidos pela Liga Passense de Desportos.
Não está nos planos, pelo menos por enquanto, em curto prazo, a volta do futebol profissional na AAP. A prioridade é a formação de boa equipe amadora com atletas vindos da base do clube, do Centro de Treinamento Infanto-juvenil que tem recebido garotos a partir de 10 anos. O Centro de Treinamento era dirigido pelo Professor Gilbertinho, e atualmente pelo técnico Vinícius Brumer. Sinalizando que o trabalho desenvolvido está no caminho certo, a Equipe Sub-19 foi campeã da Copa Ouro.
Nessa sua trajetória centenária, a Associação Atlética Paraisense experimentou altos e baixos, disputando partidas memoráveis, equipes profissionais e amadoras, praticando futebol arte. Viveu momentos de glória e também de abatimento. Conforme bem definiu o técnico Paulo César Santos, a Mais Querida chegou “ao fundo do poço”. Graças a esse grupo de três ou quatro dezenas de Veteranos, a AAP está se reencontrando com seus melhores dias.
Por suas visões empreendedoras, bem além de seus tempo, há de se reverenciar o fundador da AAP, Coronel Alfredo Serra Júnior, o grande presidente Fulvio Guidi, a quem cabe um capítulo especial na história da Mais Querida, notadamente nos anos 50, e Gilberto de Carvalho no início da década de 60.
Também há de se render homenagens a Waldemar Lanzoni o grande goleiro que depois, com muito zelo manteve equipes amadoras de alto nível, por muitos anos. De igual maneira, aos presidentes, Antonio Reis Moura, Carlos Gaspar, Juvenal Basílio, Gilberto de Carvalho, Edilberto Mumic, Benedito Rodrigues Chagas, Waldir Marcolini, Gabriel Ramos da Silva, Antônio Pavan Capatti (Tito), Saninho Montaldi, Antonio José Amorim, Pedro Luiz Cerize Filho, Josias Leite, Archibaldo Ricci Ramos, Paulo Lauria, dentre outros.
Neste contexto, diretores e atletas “Quarentões”, Veteranos que alavancaram esta nova fase nos últimos doze anos, escrevem seus nomes com letras maiúsculas na história da Mais Querida, a “ressuscitando”, um presente para a torcida alviverde, no ano de seu centenário.