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Bianca Siqueira: lutando incansavelmente pelos seus sonhos

“O que eu ganho em conhecimento, busco devolver em forma de trabalho social”
Por: João Oliveira | Categoria: Entretenimento | 02-12-2019 11:04 | 1893
Apesar da pouca idade, hoje Bianca é um dos grandes nomes do Jiu-Jítsu em São Sebastião do Paraíso
Apesar da pouca idade, hoje Bianca é um dos grandes nomes do Jiu-Jítsu em São Sebastião do Paraíso Foto: Arquivo Pessoal

A jovem atleta Bianca Lourenço Siqueira, tem lutado (literalmente) para realizar seu sonho de se tornar uma atleta de ponta. Com apenas 14 anos, já acumula mais de 50 títulos no Jiu-Jítsu, entre campeonatos regionais, o Brasileiro, Mundial e o The Orange League, sendo uma referência para sua categoria e muito respeitada no meio esportivo. Filha dos professores Fernanda Siqueira e Adriano Siqueira, tem por seus pais um profundo sentimento de gratidão pelo esforço e por tudo o que eles têm feito para que consiga atingir seus objetivos. Além do sonho de se tornar uma das maiores atletas do país, ela também sonha em poder devolver para a comunidade todo o aprendizado acumulado, em forma de projetos sociais, e também contribuir para formação de novos atletas. É acolhedora que conversa com a reportagem do Jornal do Sudoeste e conta um pouco da sua rotina tumultuada entre os treinos, os campeonatos e os estudos.

Jornal do Sudoeste: Você sempre teve essa relação com o esporte desde pequena?
B.L.S.: Sim. Antes de entrar para o Jiu-Jítsu eu praticava futebol, inspirada pelos meus pais. Minha mãe gosta muito de futebol e meus pais se conheceram por causa do esporte. Tudo começou porque eles começaram a ir para a academia, e eu queria também participar daquele momento, de fazer os exercícios, mas como não tinha idade suficiente, não podia. Um certo dia, um amigo da minha mãe comentou que abriria um espaço para o esporte na academia, que seria o Jiu-Jítsu, e ele me convidou como “brincadeira”, já que seria para os adultos esse espaço. Porém, acabou se tornando um amor e eu estava lá todos os dias. Isso desde meus nove anos.

Jornal do Sudoeste: Mas e a infância? Gostava de brincar, fazer amizades?
B.L.S.: Sim, sempre teve a questão do esporte, mas nunca deixei a infância de lado. É essencial. Também nunca deixei a escola de lado. No Jiu-Jítsu, se não tivermos boas notas, não podemos competir e nem participar do treino. A disciplina é essencial. Eu treino no Ouro Verde e na Academia Fight Clube. Meu treinador é o Rodrigo Teixeira.

Jornal do Sudoeste: Qual a importância do Jiu-Jítsu?
B.L.S.: Além da defesa pessoal, que é muito importante nos dias atuais, tanto para as mulheres quanto para outras pessoas, acredito que o Jiu aproxima mais as pessoas, tanto nas amizades quanto na questão de te influenciar a ter uma vida melhor.

Jornal do Sudoeste: Sobre a questão da defesa pessoal para a mulher, você acredita que toda mulher deve buscar conhecer esse esporte?
B.L.S.: Acredito que sim, que toda mulher deve buscar aprender as técnicas de defesa pessoal, principalmente na atualidade. Tem sido momentos complicados, tanto que temos um projeto que se dedica a promover essa defesa para as mulheres. Nesse projeto, somos somente eu e a mulher que realmente precisa, minha mãe também me ajuda. A defesa pessoal é essencial e salva muitas vidas. Pode parecer simples, e que não, mas salva.

Jornal do Sudoeste: Como nasceu esse projeto?
B.L.S.: O que eu ganho em conhecimento, eu busco devolver em forma de trabalho social. Em um estudo feito pelo pai, observou-se que em Paraíso é muito alto o índice de violência contra mulheres, inclusive temos uma associação voltada a atender as mulheres de maneira geral, o Ajuda Mulher. A vice-prefeita, Dilma de Oliveira, sempre me patrocinou desde o início, muito antes de meu pai trabalhar com ela, então, em conversa com a Dilma, e para atender esse meu desejo de ter um projeto em que eu pudesse trabalhar essa questão social, e pensando nesses índices de violência a mulher, desenvolvemos esse projeto para oferecer essa defesa pessoal. Sabemos que o que mais mata mulheres são as armas brancas, e o Jiu-Jítsu trabalha basicamente isso, a defesa e sobreposição do mais fraco sob o mais forte.

Jornal do Sudoeste: Como tem sido essa experiência?
B.L.S.: Eu já aprendi bastante e posso dizer que me tornei uma pessoa melhor, fiz novas amizades e hoje tenho outra visão da vida. Alguns casos são muito tristes, outros emocionantes e estamos lá para ajudar e mudar a vida dessas pessoas. Esse sentimento, de saber que com base nos meus ensinamentos alguém conseguiu sair de uma situação ruim, é algo que não tem nem como explicar.

Jornal do Sudoeste: Você também compete muito, não é mesmo?
B.L.S.: Sim. Desde que comecei a treinar Jiu, no primeiro mês já comecei a competir e sempre tive essa vontade. Mesmo quando eu treinava futebol, eu também participava. Queria ter essa experiência. Hoje, já tenho entre 50 a 60 títulos, são muitos.

Jornal do Sudoeste: Todos os títulos são importantes, mas quais são mais marcantes para você?
B.L.S.: Eu acredito que entre eles, o primeiro seria o Campeonato Brasileiro, que desde o início eu tinha vontade de competir e ouvia falar muito, é um dos mais importantes para o Brasil e para o mundo. Embora alguns não vejam da mesma maneira, aqui no Brasil está a nata do Jiu-Jítsu. É um evento que, mesmo por conta da dificuldade, nós temos mais vontade de ir, chegar e ganhar. Além do Brasileiro, tem também o Sulamericano, o Mundial e desafio do The Orange League, do qual sou uma das principais campeãs – para ter o privilégio de ser essa representante do The Orange League você precisa ser campeão tanto na sua categoria, quanto no absoluto (que é disputado com meninas de todas as idades e peso, e precisa ser faixa laranja). No The Orange, no Brasil, sou a única campeã.

Jornal do Sudoeste: Como é esse sentimento de ser uma referência e um espelho no esporte para outras meninas?
B.L.S.: É um sentimento muito emocionante, de saber que cheguei onde estou graças ao meu esforço, mas ainda quero, sim, estar sempre buscando mais para chegar mais alto. Algumas pessoas me abordam, e sou muito conhecida e respeitada dentro do Esporte.

Jornal do Sudoeste: O Jiu também influencia no seu aprendizado – para além da questão comportamental?
B.L.S.: Influencia bastante, não apenas na prática do esporte em si, mas na própria escola. Como estou sempre buscando evoluir, estou acostumada sempre estar buscando mais e mais o aprendizado. Meus treinos costumam ir até 22h, estudo e tenho que estar de pé às 6h para ir para escola e minhas notas são muito boas.

Jornal do Sudoeste: Sua mãe mudou de área de estudo por conta desse seu amor pelo Jiu. Como é ter esse apoio familiar
B.L.S.: Minha mãe sempre teve vontade de fazer Administração, mas quando comecei a treinar o Jiu-Jítsu sempre precisei muito dela para o treinamento e, desse modo, ela também entrou no Jiu e como viu que falta algo para meus treinos, começou a fazer Educação Física para me auxiliar. Ela hoje é minha personal trainer, já estou tendo resultados e agradeço muito o que minha mãe tem feito por mim. Faz muita diferença no meu desenvolvimento.

Jornal do Sudoeste: E o fato de ter que “lutar” para conseguir recurso financeiro para desenvolver sua atividade, e participar de competições?
B.L.S.: É uma situação muito complicada, mas se você tem um sonho e quer alcança-lo, não pode pensar muito nessa falta de incentivo. Eu, por exemplo, para competir o Campeonato Brasileiro fiz muita rifa e vou continuar para chegar até meu objetivo. Se as pessoas quiserem ajudar, é mais fácil, porque competimos todos os meses. Porém, tenho vários apoiadores, além daqueles que sempre compram as rifas para me ajudar nas viagens, porque é um esporte caro.

Jornal do Sudoeste: É um esporte rigoroso, não é muito “puxado”?
B.L.S.: Eu já me habituei à rotina, até mesmo porque meu sonho é muito maior que as dificuldades, essas são inevitáveis, mas preciso ver como irei agir diante delas.

Jornal do Sudoeste: Que sonho é esse?
B.L.S.: É ser uma atleta de ponta. Como eu sei a dificuldade que é ser atleta, também quero poder ajudar outros atletas a alcançar seus objetivos, formar novos atletas. Também tenho o sonho de ser campeã em Dubai, onde o Jiu além de ser muito valorizado, é incorporado na vida dos estudantes. Também quero tentar o Europeu.

Jornal do Sudoeste: Qual foi o momento mais difícil da sua carreira?
B.L.S.: Quando eu lesionei a coluna, fiquei quase um mês parada, embora não tenha chegado a ficar um mês parada de fato. Também cheguei a pegar dengue em uma viagem que fiz para competir no Rio de Janeiro. Descobri que estava com dengue por acaso, porque até então achava que os sintomas eram reação dos remédios que estava tomando por causa dessa lesão. Ainda bem que nunca gostei de tomar remédios, e a médica pediu um exame e constatou que eu estava com dengue. Acredito que esses dois momentos foram os mais difíceis.

Jornal do Sudoeste: Em Paraíso você é muito conhecida e tem um carinho muito grande por parte das pessoas. Como é isso para você?
B.L.S.: Acredito que a palavra que resume isso tudo é gratidão pelo reconhecimento de todo esse esforço empregado.

Jornal do Sudoeste: E como ficam os estudos em meio a este sonho?
B.L.S.: Não pode ficar de lado. Pretendo estudar Medicina ou Nutrição, que seria muito interessante para mim. Estou sempre estudando, embora seja muito corrido o dia a dia, mas buscamos sempre seguir uma rotina, então tem hora para tudo: para o treino técnico, para o personal, para o Jiu e para o estudo, que não pode ser deixado de lado. E ter dois pais professores é complicado (risos). Agradeço muito a eles, por todo o esforço e dedicação que têm para comigo.

Jornal do Sudoeste: Você é muito jovem. Mas qual o balanço que você faz da sua caminhada até aqui?
B.L.S.: Desde que comecei a praticar o Jiu, tive uma grande evolução, tanto na parte técnica quanto pessoal. Acredito que tudo, inclusive os momentos ruins, influenciaram para que a Bianca Siqueira estivesse aqui hoje, ter evoluído tudo o que evoluiu e ser quem eu sou hoje. Valeu a pena todo esse esforço até agora. Tenho também muito a agradecer a todos aqueles que têm me apoiado. Caso seja preciso, vou continuar vendendo rifa para alcançar meus sonhos (risos).