A professora Luana Rios, formada pela Universidade Paulista em Português e Espanhol, com Diploma de Espanhol como Língua Estrangeira (DELE) outorgado pelo Instituto Cervantes em nome do Ministério da Educação e Formação Profissional da Espanha, é profissional competente que ama muito o que faz. Filha do taxista Paulo Reis de Freitas e da enfermeira Graciela Elizabeth Rios Rodrigues, Luana nasceu em Ponta Porã, fronteira com o Paraguai, e foi criada aprendendo três idiomas: o português, o espanhol e o guarani. Graças a essa infância rica, e uma educação que a marcou, tornou-se professora e hoje ensina espanhol em escolas de Paraíso. É feliz que ela concede esta entrevista e conta um pouco da sua vida e formação.
Jornal do Sudoeste: Você não é natural de Paraíso, como começou sua relação com a cidade?
L.R.: Sou nascida e criada na fronteira entre Ponta Porã, no Mato grosso do Sul, com Pedro Juan Caballero no Paraguai. Meu pai é paraisense, e em uma de suas viagens acabou conhecendo a minha mãe que é de Pedro Juan Caballero. Eles foram casados por 20 anos, e como todo bom relacionando, deu certo enquanto durou. Eles se divorciaram e minha mãe foi trabalhar em Madrid, na Espanha, onde até hoje reside. Eu e meu pai nos mudamos para Paraíso quando eu tinha 16 anos, terminei o ensino médio na Escola Estadual Benedito Ferreira Calafiori, e estou aqui desde então.
Jornal do Sudoeste: Como foi sua infância?
L.R.: Minha infância foi ótima. Meus pais sempre fizeram o possível e o impossível para me dar uma vida segura, confortável e feliz. Como meus avós Lucila e Esmerenciano Rios moravam no sitio, todos os fins de semana íamos para o campo e era aquela farra com meus primos. É uma época da qual guardo minhas melhores lembranças e até hoje, todas as férias, vou ao Paraguai para matar a saudade (acho que não há nada melhor que nosso lar). Como morava na fronteira sempre estudei no Brasil, e em casa falávamos o espanhol e, principalmente, o guarani - que é a língua oficial do Paraguai assim como o espanhol. Posso dizer que tive uma criação trilíngue (risos).
Jornal do Sudoeste: e a formação acadêmica?
L.R.: Sobre a minha formação acadêmica, acredito que muitos tenham uma bela recordação de seus professores e eu não sou diferente. Gosto muito de me lembrar da minha primeira escola, da minha eterna dileta tia Audrey e a tia Regina, que até hoje são minha maiores inspirações na área da educação. E essas magistrais professoras sempre apoiaram a mim e a minha família, acho que foi lá que aprendi o que é ser professora, acolher e mostrar aos alunos que a escola é um lugar seguro onde você encontra apoio. Elas são minha inspiração. Como aluna, sempre fui muito levada, mas sempre querida (risos). Só tenho a agradecer a Deus, que sempre colocou pessoas esplendidas em minha vida.
Jornal do Sudoeste: você tem uma habilidade muito nata para aprender idiomas. Sempre foi assim?
L.R.: Sim. Eu estudava no Brasil e em minha casa se falava o espanhol. Além disso, como sempre estávamos no sitio dos meus avós, que é do lado paraguaio, falávamos o guarani. Na área rural paraguaia se fala muito mais o guarani e eu queria brincar com as crianças, que tinha este como idioma nativo. Quando elas falavam algo, eu sempre perguntava a minha mãe. Além disso, meus avós, apesar de falarem o espanhol, o guarani sempre foi a língua mais falada por eles. Então para me enturmar também tive que aprender o guarani (eles sempre diziam: você é paraguaia Luana, e eu dizia que não, mas hoje, por incrível que pareça, meus amigos só me chamam de paraguaia. Tive que sair da minha cultura e vir a 1300 quilômetros de distância para aceitar que, apesar de nos papéis ser brasileira, na minha essência sou paraguaia. Meus amigos sabem que quem fala perto de mim que o Paraguai é apenas uma zona de compras é arrumar briga comigo, não vou dar uma de geopolítica, mas o Paraguai e bem mais que isso. Acho que hoje aprendi a ser paraguaia (risos).
Jornal do Sudoeste: Você gosta ensinar? Qual a importância da educação de idioma na sua opinião?
L.R.: Eu amo ensinar. Vou usar Platão para explicar o meu amor pela minha profissão: o amor platônico é aquele que almeja o que não tem, que cria expectativas, já no amor Philia é aquele amor seguro que você sabe dos percalços, mas mesmo assim ama, é um amor autentico e seguro. É isso que sinto todos os dias quando me levanto, que estou indo fazer algo que amo (que os professores de filosofia não me julguem por estar criando minhas teorias).
Hoje vivemos os tempos modernos da informação, comunicação e da globalização, aprender um novo idioma não é apenas importante, é essencial. Se o objetivo é crescer profissionalmente, deve-se estar preparado para realizar viagens internacionais e isso exige fluência em outros idiomas. Se você fala outros idiomas, então conseguirá se comunicar de maneira muito mais eficiente. Aprender um novo idioma leva sua agilidade mental a outro nível. E já existem estudos que demonstram que estudar uma língua pelo menos 90 minutos por semana melhora o aprendizado em outras áreas. Além disto, o aprendizado de uma nova língua está ligado a um retardamento de doenças degenerativas como o Mal de Alzheimer, por exemplo. Poderia falar muito mais, mas para ser sucinta: aprender é bom e não ocupa espaço.
Jornal do Sudoeste: O que você gosta de fazer para se divertir?
L.R.: Hoje em dia tenho corrido bastante, é quando minha mente realmente desliga. Correr é ótimo e se quem estiver lendo esta entrevista não corre, comece hoje. Corro para me desligar porque até nos meus sonhos meu trabalho dá as caras (riso). Também adoro ler. Esse ano me comprometi a ler um livro por mês, e estamos no mês doze e já estou no décimo segundo livro, acho que posso dar um ‘check’ a mais nas minhas metas anuais. Também gosto de ir a um barzinho com as amigas, afinal ninguém é de ferro.
Jornal do Sudoeste: Gosta de viajar? Qual lugar te chamou mais atenção e por quê?
L.R.: Adoro, acredito que viajar é a forma mais eficaz e divertida de aprendizado. Particularmente, acredito que o Cuzco no Perú é uma prova viva da história latina, como uma boa professora de espanhol não poderia dar uma dica melhor.
Jornal do Sudoeste: Você acredita que tão importante quanto aprender um novo idioma é também valorizar a própria língua? Por quê?
L.R.: Uma vez uma pessoa me questionou o porquê de saber falar guarani, que era bobeira e com quem eu iria falar neste idioma. Fiquei um tanto perplexa. Por quê falar o guarani? É a identidade de um povo, é sua cultura, acho que nos dá um ar mais nacionalista e para mim é um orgulho poder falar guaraní porque, na minha opinião, este é o nosso primeiro idioma. Depois vem o espanhol, mas primeiro o guarani. Isso, é claro, na minha opinião.
Jornal do Sudoeste: Quais os maiores desafios em aprender e ensinar uma segunda língua a alguém?
L.R.: Para que alguém aprenda é necessário que ele queira aprender. Ninguém consegue ensinar nada a uma pessoa que não quer aprender. Por isso é muito importante que o professor saiba motivar os seus alunos. Conhecer os interesses atuais deles para mantê-los ou orientá-los, buscar uma motivação suficientemente eficiente, forte e duradoura, para conseguir que o aluno alcance o objetivo da aprendizagem. Entre motivação e aprendizagem existe uma mútua relação e ambas se reforçam. A motivação é condição necessária, porém, não suficiente para que os alunos se envolvam na experiência do conhecimento, interagindo e se tornando parte do processo. E acho que isso não só ocorre no ensino de idiomas, como também em toda a área da educação.
Jornal do Sudoeste: Você gosta de ensinar? Por que decidiu se tornar professora?
L.R.: O ensino foi algo que entrou em minha vida por causa do espanhol. Quando me mudei, comecei a dar aula particular de espanhol e no CCAA, onde até hoje trabalho, e logo comecei no Ensino Fundamental 2.
Jornal do Sudoeste: Já pensou em ter outra profissão?
L.R.: Sim. Pensei em ser bióloga, uma área bem diferente, mas sempre gostei de biologia.
Jornal do Sudoeste: Como você avalia a valorização do professor em nosso país? Qual a importância desse profissional?
L.R.: Ensinar e aprender faz parte da natureza humana, e o processo de formação do cidadão e da cidadã ocorre desde o nascimento, através de ações contínuas que organizam a forma de ser de uma sociedade. Nesse contexto, o professor ocupa lugar central, cumprindo a tarefa de cuidar da formação dos que chegam até a escola.
Jornal do Sudoeste: Em termos culturais, você acredita que Paraíso precisa evoluir? Por quê?
L.R.: Acredito que sim, mas há muitas coisas a serem feitas, nossos jovens não têm muitas opções de lazer.
Jornal do Sudoeste: Qual memória marcante você tem da sua carreira? Por quê?
L.R.: Todo o dia em sala de aula é único, mas o quando o aluno encontra algo em comum com os professores, isso cria laços mais fortes. Esse ano assinei meu primeiro estagio e foi para um ex-aluno, foi muito gratificante.
Jornal do Sudoeste: Quais conselhos você dá para aqueles que querem aprender uma nova língua?
L.R.: Falar, falar e falar, afinal foi assim que aprendemos nossa primeira língua, e não ter vergonha. Geralmente, os alunos se sentem acanhados por medo de errar as pronuncias.
Jornal do Sudoeste: Três palavras que te definem?
L.R.: Bem difícil responder a essa questão, porém creio que felicidade, praticidade e autonomia.
Jornal do Sudoeste: Qual o balanço que você faz da sua trajetória?
L.R.: O ano de 2019 foi um ano muito corrido, aprendi muito. Sou outra pessoa tanto no pessoal quanto no profissional desde quando comecei a dar aula, isso deste os meus 19 anos. Só tenho a agradecer. Dizem que nós somos a média das cinco pessoas que mais convivemos, e eu convivo com os melhores educadores e mantenedores de escolas em Paraíso. Tudo o que eu sei hoje devo a eles.