Sempre quando termina uma temporada de Fórmula 1 bate aquela “deprê” nos domingos sem corrida, mas desta vez não vai faltar assunto até que tudo comece novamente, em março.
O campeonato terminou no último domingo com domínio avassalador de Lewis Hamilton que fez barba, cabelo e bigode no GP de Abu Dhabi. Na prática, pole, volta mais rápida e vitória com todas as 55 voltas na liderança, o que chamamos de “grand chelem”, algo difícil de conseguir, mas que Hamilton obteve pela sexta vez na carreira, cinco deles de 2014 para cá, quando a Mercedes passou a dominar a Fórmula 1.
O recordista de grand chelem é o escocês Jimi Clark, campeão mundial de 1963 e 1965, que alcançou o feito 8 vezes nos anos 60.
Hamilton chegou ao 6º título Mundial, e com 84 vitórias está cada vez mais perto de igualar as impressionantes 91 vitórias de Michael Schumacher.
Mas mesmo com todo esse vôo de cruzeiro que a Mercedes decolou a partir de 2014 com a introdução dos motores híbridos da Fórmula 1, a equipe acabou virando o centro de especulações em Abu Dhabi. Há uma guerra interna acontecendo nos bastidores da categoria entre as equipes e a Liberty Media, detentora dos direitos comerciais da Fórmula 1, envolvendo uma série de mudanças nos regulamentos técnicos e esportivos para 2021, e como pano de fundo está os interesses de cada um. O principal deles, e talvez o mais difícil de chegar a um acordo, está na divisão dos lucros que a Fórmula 1 arrecada dos organizadores dos GPs, publicidades, bilheterias e dos direitos de transmissões com as TVs do mundo todo. Esse montante, algo em torno de 1,2 bilhões de euros, 600 milhões são repassados às equipes. A Ferrari por sua tradição e valor histórico por ser a única que disputou todos os campeonatos desde 1950, recebe metade desse valor e ainda tem poder de veto nas decisões da Fórmula 1. É algo que não agrada a todos, e algumas equipes, como a Renault e a própria Mercedes reclamam que também têm seu valor histórico no esporte.
Outro detalhe que não agradou a Mercedes foi a aprovação do teto orçamentário de US$175 milhões que as equipes poderão gastar a partir de 2021, uma cifra muito abaixo dos cerca de US$400 milhões que Mercedes, Ferrari e Red Bull gastam por ano, mas ainda assim muito acima do orçamento de uma equipe média como Williams, Racing Point, Haas, e Alfa Romeo.
Enquanto as coisas não se ajeitam, as especulações passaram a girar em torno de uma possível saída da Mercedes da Fórmula 1 ao final do ano que vem. E muito se falou de uma conversa que Lewis Hamilton teve com a Ferrari nos últimos dias.
Nenhuma das partes deu maiores detalhes, mas a conversa existiu e o próprio Hamilton não escondeu que seu futuro na Fórmula 1 está condicionado ao rumo que o chefe da Mercedes, Toto Wolff, tomar. É possível que Wolff coloque suas ações da Mercedes a venda; é possível que depois de todo sucesso, e de ter alcançado todos os seus objetivos, a Mercedes se dê por satisfeita e se retire da competição no auge.
A Fórmula 1 é uma imensa plataforma de marketing. Foi numa mudança radical de regulamentos, em 2014, que a fábrica de Stuttgart deu o atual salto de qualidade, e é perfeitamente possível que na próxima mudança radical, como a esperada para 2021, tudo possa dar errado. Seria interessante, então sair por cima sob os louros da vitória.
Tudo isso, além do crescimento dos motores Honda que já são vistos como ameaça ao domínio da Mercedes; as batidas de cabeça da Ferrari, o futuro da Renault que também é incerto, o futuro do GP do Brasil e até das transmissões da Fórmula 1 para o país após 2020 (sim, corremos o risco de ficar sem o GP e sem transmissão pela TV) serão assuntos a serem tratados, discutidos e analisados enquanto os motores estarão desligados até março.