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Newton Cunha: Engenheiro conceituado, espalhando mensagens edificantes

Por: João Oliveira | Categoria: Entretenimento | 14-12-2019 18:53 | 2288
Newton é diretor proprietário da empresa Cunha e Engenharia de Minas, e presta serviços de consultoria na área de engenharia mineradora
Newton é diretor proprietário da empresa Cunha e Engenharia de Minas, e presta serviços de consultoria na área de engenharia mineradora Foto: João Gustavo

Onde estão meus medos?
No choro profundo que quebrou o silêncio da parição.
Na conquista dos primeiros passos na caminhada da vida.
Em uma cavalgada noturna, na infância, partindo de um velório.
No acompanhar dos tios com cachorros, na mata, em caçada noturna de animais.
No caminhar solitário nas noites frias de Ouro Preto.
Nas relações amorosas da vida.
Na divina, porém momentaneamente assustadora experiência de ser pai.
Na inexperiência profissional, como também no aposentar.
Assim vou distribuindo meus medos, na esperança de que nada sobre no final, quando da grande certeza da vida humana.
Newton Cunha

O engenheiro de minas, Newton Martins da Cunha é profissional conceituado, e que ao longo de 34 anos dedicou-se a Votorantim, onde aposentou-se em 2014. No entanto, não parou. Montou uma empresa de consultoria na sua área de atuação. Um pouco mais livre após a aposentadoria, passou a se dedicar a escrever mensagens de otimismo e divulgá-las aos amigos e pessoas conhecidas, atividade esta que ele acredita contribuir muito para que pessoas tenham um dia mais feliz. Sendo o terceiro de seis filhos (e único homem) do casal Valter Borges da Cunha e Maria Martins da Cunha (já falecidos), Newton é membro ativo da Loja Maçônica Apóstolos da Liberdade, de São Sebastião do Paraíso. Grau 33, atualmente é presidente do Consistório Luz da Liberdade. Aos 66 anos, casado com Eliane Vieira Bretas da Cunha, pai da psicóloga Simone e do farmacêutico bioquímico Antônio Augusto, é realizado que Newton conta um pouco da sua história ao Jornal do Sudoeste.

Jornal do Sudoeste: co-mo é sua relação com Paraíso?
N.M.C.: Eu me considero paraisense de coração. Sou registrado aqui, mas nasci em um sítio próximo a Goianases, o Peixotinho, região de Capetin-ga. Naquela época era mais fácil vir a São Sebastião do Paraíso, porque tinha uma linha regular que recolhia leite, então meus pais, que tinham uma venda na zona rural e vinham muito a Paraíso, trouxeram-me para ser registrado aqui.

Jornal do Sudoeste: Fale sobre sua infância.
N.M.C.: Eu morei na roça até meus oito anos. Naquela época minhas irmãs vieram estudar em São Sebastião do Paraíso, uma no internato (Colégio Paula Frassinetti) e a outra morarando com as tias. Quando chegou a minha vez de estudar, não tinha mais como continuar vivendo lá, então meu pai decidiu vir morar em Paraíso. Fui alfabetizado pela minha mãe, que era professora. Quando viermos para cá, entrei no final do terceiro ano no grupo escolar Campos do Amaral. Nesta época havia aqueles famosos “exames de admissão”, e prestei para a Escola de Técnica Comércio, porém, logo foi inaugurado o Ginásio Industrial Clóvis Salgado, onde prestei o exame admissional e  fiz o ginasial. Quando foi implantado o Colégio Paraisense dirigido pelo Professor Carmo, fiz três anos de científico, que eram disciplinas mais voltadas para áreas como medicina, engenharia, e não de humanas. Isso era 1972. Nesta época fiz o Tiro de Guerra, por um ano. Depois fui para Belo Horizonte, onde fiz cursinho. Lá, eu trabalhava durante o dia em um banco chamado União Comercial, e a noite fazia o cursinho, foram cerca de cinco ou seis meses. Eu não tinha parentes por lá, fomos em quatro amigos daqui de São Sebastião do Paraíso: Salvador Mafra, o Dozinho, Aprígio Rodrigues Neto e o Wellington Mumic. Lá moramos em apartamentos, pensões, tudo para fazer cursinho. Mas, infelizmente, não consegui passar no vestibular.

Jornal do Sudoeste: E o que decidiu fazer?
N.M.C.: Eu não queria continuar naquela rotina, então decidi voltar para Paraíso. Meu objetivo era estudar, então, aqui estudei por conta, em casa.  Voltei a prestar vestibular e passei na PUC de Belo Horizonte e também na Escola de Engenharia da Universidade Federal de Ouro Preto, a Ufop. Eram quatro cursos de engenharia que existia: Civil, Metalurgia, Geologia e Mineração, e fiz opção pela Mineração. Acredito que fiz esta opção por influência dos meus avôs que foram garimpeiros. Formei em meados de 1979, foi uma fase muito boa na vida.

Jornal do Sudoeste: co-mo foi esse período em Ouro Preto e o que você tem de mais marcante em suas memórias?
N.M.C.: Ouro Preto, por si só era fantástica, ideal para estudante, o custo de vida era muito baixo e, até então, morávamos em quartos de aluguel. Passado um tempo, fizemos um requerimento para conseguir uma casa. A universidade conseguiu três casas e abriu inscrições para quem quisesse. Como já tínhamos feito requerimento, e éramos oito, a universidade nos concedeu o imóvel para morar. Nascia então a República Bangalô, que existe até hoje. Quando ganhamos a casa, passou na Ufop o Walter Grilo, mais um de Paraíso, então foram nove paraisenses morando nesta república. Fui um período muito bom, uma máfia de Paraíso (risos). Já formaram mais de 60 nesta república. Ouro Preto é fantástica, não apenas para estudar. Foi um período marcante.

Jornal do Sudoeste: Depois de formado, como foi?
N.M.C.: Fui para São Paulo entregar currículo. Na época, o mercado de trabalho não estava muito bom. Mesmo assim, ficamos uma semana em São Paulo, pegávamos os endereços e saíamos distribuindo currículo. Chegou ao absurdo de entregarmos um currículo e recebermos uma carta de agradecimento, mas informando que já não havia mais a vaga. Porém, continuei procurando e escrevi uma carta para a Companhia de Cimentos Itaú, em São Paulo, dizendo que eu estava aqui em Paraíso, morava próximo a Itaú e tinha interesse em trabalhar para a Companhia. Coincidentemente, havia uma vaga, e eles me convidaram, mas era para Vespa-siano, próximo a BH. Fui morar em São José da Lapa e fiquei quase um ano, naquela época, início da década 80, o país enfrentava uma crise, vim fazer um trabalho específico em Itaú de Minas, onde fiquei 10 meses (período que conheci minha esposa) depois trabalhei em Arcos, voltei para São José da Lapa, e nesta mesma época me casei. Em 1984, fui transferido para Corumbá, no Mato Grosso do Sul, onde nasceram meus filhos, a Simone e o Antônio Augusto. Lá ficamos até 1990, quando vim trabalhar em Itaú de Minas, e fiquei até novembro de 2014, completando 35 anos na Votorantim Cimentos. No final de 2014 eu já era gerente geral dos Cimentos Itaú.

Jornal do Sudoeste: E depois que se aposentou?
N.M.C.: Não é fácil sair dessa rotina, que é um pouco estressante, mas também não é fácil sair e perder a experiência. Então montei uma empresa de consultoria, a Cunha e Engenharia de Minas, e presto serviços de consultoria, que é um trabalho mais leve em relação ao que eu fazia. Faço alguns trabalhos para uma empresa do Ceará e para Votorantim onde ela precisa, é um serviço mais técnico, na parte de diagnóstico e acompanhamento dos profissionais. Isto é ótimo para manter a cabeça ativa.

Jornal do Sudoeste: Quanto tempo longe de Paraíso e como foi voltar?
N.M.C.: Fiquei fora de 1980 a 1990. Quando optei por ficar aqui, mesmo Passos sendo mais perto de Itaú, tomei esta decisão porque nossa família era toda daqui e queríamos restabelecer esse laço familiar. Criar os filhos longe da família não é fácil, e o Mato Grosso do Sul está bem distante. Porém, apesar de sofrido, foi gratificante porque entre os erros e acertos você evolui com isso. Vínhamos apenas duas vezes por ano e acho, quando voltamos, foi interessante resgatar esses laços de família, tanto da família da minha esposa quando da minha. A cidade, por ser nossa origem, não tem o que falar, eu gosto muito daqui. Paraíso evoluiu muito, não apenar nos aspectos estruturais, mas também humanos. Mas acredito que ainda tem muita coisa para evoluir, como em todo o país.

Jornal do Sudoeste: Vo-cê gosta de estudar, não é mesmo?
N.M.C.: Depois que me formei e me mudei para Belo Horizonte, foi criado o primeiro curso de engenharia de segurança do trabalho e eu fiz este curso também. Depois, fiz algumas matérias da área de engenharia ambiental e um MBA em Gestão Empresarial. Gostava muito de estudar.

Jornal do Sudoeste: Durante sua trajetória profissional, qual lugar você mais gostou de estar?
N.M.C.: Embora aqui estejamos mais perto da família, em Corumbá criei vínculos com outras pessoas que estavam lá temporariamente também, fizemos amigos que tinham filhos mais ou menos da mesma época e até hoje mantemos a amizade. Foi um período muito marcante, tendo em vista esses vínculos que criamos. Além disso, profissionalmente, implantamos uma mina  toda nova, com infraestrutura total: água, luz, estrada, então, profissionalmente, para mim foi um período muito rico.

Jornal do Sudoeste: E os planos para o futuro?
N.M.C.: Pretendo continuar com a minha empresa e ajudar o pessoal a colocar a engenharia em pratica, mas tenho alguns hobbies também. Diariamente, escrevo um bom dia para meus contatos. Gosto de ler, pesquisar e colecionar pensamentos que são significativos para mim e que talvez possam ajudar as pessoas.

Jornal do Sudoeste: Qual a importância de transmitir mensagens assim nos dias de hoje?
N.M.C.: Acredito que despertar a consciência do pessoal. As pessoas estão esquecendo o relacionamento humano, estão muito individualistas. Algumas vezes escrevo pensamentos autorias, é um hobbie da época que eu trabalhava e escrevia sempre um bom dia e uma boa semana para o pessoal da empresa, que fazíamos um texto com foco em segurança do trabalho e encaminhava para a equipe. Quando me aposentei, e começou a sobrar mais tempo, passei a fazer isto com mais freqüência. O objetivo é mudar esse estado em que as pessoas se encontram atualmente. Temos que sempre fazer o melhor que podemos, e foi o que fiz na minha profissão.

Jornal do Sudoeste: O que o senhor destaca nesses 66 anos de caminhada?
N.M.C.: Na profissão, sempre quando você inicia é extremamente difícil até você entender como funciona e nós sempre temos resistências às mudanças, sempre foi trabalhoso começar qualquer tipo de atividade em uma nova unidade,  foi sofrido, mas sempre venci. Há uma frase que eu gosto muito do Pierre Marivaux e diz que “saber ouvir quase que é responder”.  É escutando as pessoas que vamos nos adequando conforme precisamos. Começar em qualquer profissão é difícil. A minha maior satisfação foi poder ter saído do zero depois de formado e chegado a ser gerente geral da unidade da Votorantin em Itaú de Minas. Para mim, é um orgulho muito grande, e também em saber que nunca precisei levar nada da empresa, uma caneta sequer. Tudo o que adquiri foi por meio do meu trabalho. Outra satisfação é a família que construí, e a minha família – meus pais e minhas irmãs.

Jornal do Sudoeste: uma mensagem para as novas gerações de engenheiros que estão por vir...
N.M.C.: O que sinto hoje é que a nova geração está muito focada na comunicação e informática, e eles não podem esquecer-se da prática e ficar somente em simulações. Tem que ir a campo, andar, analisar e ver o que realmente de melhor se aplica ali e, principalmente, manter as relações humanas – as pessoas se esquecem que ali há sempre um alguém que tem um coração batendo, é preciso se preocupar mais com seu semelhante. Isso é o que vai completar o profissional.

Jornal do Sudoeste: Qual o balanço que você faz dessa trajetória?
N.M.C.: Uma satisfação muito grande. Direitos e deveres obedecidos e cumpridos. Acho que consegui realizar tudo o que eu almejava e estou satisfeito com isso. Acredito que tive e continuo tendo uma boa vida, não apenas profissional, mas social e familiar. É um bom balanço.