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Altino Soares Araújo: Superando as dificuldades por amor a vida e a família

sou muito feliz porque tenho uma família excelente
Por: João Oliveira | Categoria: Entretenimento | 30-12-2019 00:18 | 1877
Altino foi gerente do extinto Banco Nacional e proprietário do Posto Colega
Altino foi gerente do extinto Banco Nacional e proprietário do Posto Colega Foto: Nelson P. Duarte

O ex-bancário, empresário Altino Soares Araújo vive em Paraíso há cerca de 58 anos e aqui chegou para trabalhar na agência do extinto Banco Nacional, tempo em que ainda era Banco Comércio e Indústria, tendo sido transferido de João Monlevade. Em Paraíso conheceu sua esposa,  Laís (em memória), com quem se casou e teve dois filhos,  Denise e Rogério. Por intermédio de um amigo, que não queria que ele fosse embora de Paraíso, comprou o Posto Colega e decidiu abandonar a vida de bancário e empreender, onde trabalhou até se aposentar. Natural da cidade de Luz, no Oeste de Minas, Altino é filho de Pedro Vicente Araújo e Volanda Soares, e em Paraíso conquistou seu espaço, tendo sido reconhecido com o título de Cidadão Honorário Paraisense. Hoje, aos 81 anos, Altino, tendo superado diversas dificuldades, entre elas a perda de sua esposa com quem foi casado por mais de 50 anos, conta um pouco da sua trajetória, repleta de muito trabalho, alegrias e superações.

Jornal do Sudoeste: Como surgiu Paraíso em sua vida?
A.S.A.: Eu fui bancário, trabalhei do Banco do Comércio e Indústria, que depois foi encampado pelo Banco Nacional, hoje já extinto. Comecei em Luz, de onde sou natural, em 1951. Depois fui transferido para João Monlevade, e de lá fui transferido para São Sebastião do Paraíso, em 1961, e aqui estou até hoje. Trabalhei no banco até 1976, foram 25 anos, depois saí, compramos o Posto Colega, onde fiquei até me aposentar.

Jornal do Sudoeste: Como foi a infância em Luz?
A.S.A.: Eu comecei a trabalhar muito jovem, com 12 anos, praticamente não tive infância. Naquela época a lei permitia trabalhar depois dos 14 anos, mas era uma bagunça, e fui contratado para fazer limpeza no Banco. Depois de três anos chegou uma carta dizendo que eu não poderia trabalhar porque tinha 12 anos, mas o gerente da época respondeu que eu já estava 15 para 16 anos, então eu continuei trabalhando normalmente.

Jornal do Sudoeste: E foi construindo uma carreira ao longo desses 25 anos?
A.S.A.: Sim, ao longo dos anos fui sendo promovido até chegar a ser gerente, por cerca de nove anos. Naquela época não era concurso, e fui incorporado. Naquela época os cargos eram compostos por procurador, contador e gerente. Passei por todos esses cargos e fui crescendo dentro do Banco.

Jornal do Sudoeste: Como foi sua chegada a Paraíso? O senhor estranhou muito?
A.S.A.: Não estranhei, Paraíso é uma cidade muito hospitaleira e aqui fui muito bem recebido. Vim de João Monlevade que era considerada uma fazenda da Belgo Mineiro, a mineradora. Todo mundo que você via na rua era funcionário da Belgo, muito parecido com Itaú de Minas antigamente. Só naquela época, de funcionários braçais, eram nove mil funcionários. Era uma cidade grande, até. Trabalhei por muitos anos e gostava muito de lá, inclusive tive proposta para ir trabalhar na Belgo, mas preferi variar de cidade.

Jornal do Sudoeste: Veio para Paraíso e aqui construiu sua família?
A.S.A.: Sim. Foi aqui que conheci minha esposa, a Laís. Ficamos mais de 50 anos juntos, mas infelizmente ela faleceu. Foi uma vida muito boa juntos, tivemos um casal de filhos, a Denise e o Rogério, que nos deram quatro netos, e hoje já tenho dois bisnetos. Quando cheguei, o Banco era colado na casa do Dr. Odair  Pimenta, cunhado da minha esposa, e na porta do banco eu sempre via a Laís, abanava a mão e, nos bate papos ocasionais, surgiu o amor. A cidade era pequena e naquela época o chique era ir para o Cairo, um restaurante que ficava na parte de cima onde hoje é o Magazine Luiza, íamos para lá e foi nesse restaurante que tive a oportunidade de conhecê-la melhor, namoramos por dois anos até nos casar, em 1963.

Jornal do Sudoeste: Você diz que foi muito bem recebido em Paraíso, como foi essa recepção?
A.S.A.: Fui muito bem recebido, e acho que algumas coisas nem mereço. Tive a honra de receber o título de Cidadão Paraisense pela Câmara, de fazer parte do corpo de jurados do Fórum. Fui membro do conselho da Fecom, mantenedora da Libertas Faculdade Integradas, diretor na Praça de Esportes e, uma das maiores honras que tive foi ser um dos fundadores do Ouro Verde Tênis Clube e ter contribuído para a construção daquele, que é um dos maiores clubes da região. Nós, na época, fizemos o clube com dificuldade, fui vice-presidente do Luiz Montaldi, e junto compomos a primeira diretoria. Hoje, quando chego ao clube, sinto muito orgulho porque ajudei um pouco na construção. O Ouro Verde, acredito, é um dos melhores clubes da região.

Jornal do Sudoeste: Como você tomou a decisão de comprar um Posto?
A.S.A.: Eu tinha um grande amigo em Paraíso que se chamava Olivino, e era conhecido como Nenê Targino, e era dono do Posto Brasil, hoje Posto Jacaré. Era um grande amigo meu e do Aguimar Belém de Queiroz, o Guima, que já faleceu. Na época, o banco queria me transferir para Santa Rita do Sapucaí, mas o Olivino não queria me deixar ir embora, e me orientou a sair do Banco porque tinha comprado um posto para nós três administrar. Disse a ele que era bancário, que nunca tinha trabalhado com posto, mas ele disse que sabia e que me ensinava. Eu tinha uma reserva, então acabou dando certo. Três meses depois que adquirimos o Posto Colega, triplicamos o movimento, então o Olivino chegou e tomar conhecimento que estava tudo encaminhado, que já tinha dinheiro em caixa, ele deixou a sociedade, saiu e só levou o que tinha investido, não queria mais nada. Disse que só comprou o Posto para nos ajudar e porque não queria que fôssemos embora de Paraíso.  É uma amizade que não vemos igual hoje em dia. Foi um amigo que me ajudou muito.

Jornal do Sudoeste: Não fosse essa amizade, hoje estaria longe?
A.S.A.: Sim. Na época tinham me transferido para gerenciar uma agência do Banco Nacional em Santa Rita, mas fiquei por aqui e o Posto deu muito certo está aí até hoje, com uma boa clientela. Na época, eu tinha um relacionamento muito bom como gerente, e o Guima, que também era uma pessoa muito boa e, por ter tido uma agência da Volkswagen, também tinha um bom relacionamento na cidade, essas pessoas todas foram abastecer conosco. Graças a isso conseguimos triplicar esse movimento que o posto tinha e está aí até hoje.

Jornal do Sudoeste: É um empreendimento muito difícil de gerir?
A.S.A.: Hoje sim, mas antigamente não, porque era tudo tabelado. Todos os donos de posto compravam o combustível pelo mesmo valor e revendiam pelo mesmo valor, e a margem de lucro nas bombas era igual para todos. A própria ANP estipulava os preços e nós apenas corrigíamos quando havia aumento. A mudança que vemos hoje foi progressiva. Nesta época havia apenas cinco postos de combustíveis em Paraíso, depois foram surgindo outros, e isso foi tirando um pouco dos clientes, mas era algo normal essa concorrência, logo depois veio a concorrência de preços, porque cada um podia colocar o preço que queria.

Jornal do Sudoeste: Em Paraíso, a população reclama muito do preço do combustível, a que o senhor atribui esses valores?
A.S.A.: O primeiro ponto é a diferença de ICMS, que de Minas para São Paulo é muito grande. Em segundo, o produto, que também interfere no preço, tem aqueles preferem produto da Petrobras, outros que da Shell, e isso causa certa desigualdade. É sempre uma polêmica, mas sabemos que tem posto no estado de São Paulo que vende mais barato do que a gente compra na distribuidora. Não sabemos como fazem.

Jornal do Sudoeste: O senhor é bom de matemática?
A.S.A.: Naquela época era tudo de cabeça, não tinha calculadora, maquina. Uma das primeiras Facit que teve em Paraíso fui eu quem comprou, era uma máquina de manivela e muita gente ia ao banco para ver a máquina que soma, multiplica e divide, eu mostrava o funcionamento. Até então, era tudo na cabeça.

Jornal do Sudoeste: Depois que saiu do posto, o que decidiu fazer?
A.S.A.: Descansar. Trabalhei por 66 anos, hoje minha rotina é fazer uma caminhada, visitar o Posto para saber como estão as coisas, apesar de que eu não interfiro em nada, e vou muito para a fazenda, lá eu me distraio e tem muita coisa para se fazer, é lavoura de café, horta de verduras, não vejo o dia passar quando estou lá. E aproveito os bisnetos, e meus netos, que já estão todos criados, só me deram prazer. Uma neta é enfermeira padrão, outros é médico, outro já está se formando, também em medicina. É aquele ditado: filho é muito bom, neto é um filho com açúcar e o bisneto um filho com mel. Estando junto com meus bisnetos, estou tranquilo, feliz.

Jornal do Sudoeste: Qual a mensagem que você deixa para essa geração mais jovem?
A.S.A.: É difícil, a juventude de hoje é muito diferente da minha época. Desejo a essas gerações o que desejo para os meus netos: que sejam trabalhadores e honestos. A família é muito importante para a construção desses jovens, construí uma família grande e todos gostam muito uns dos outros.

Jornal do Sudoeste: Qual o balanço que você faz dessa trajetória?
A.S.A.: Eu sou uma pessoa muito feliz, apesar das trombadas da vida, dos problemas, mas sou muito feliz porque tenho uma família excelente. Trabalhei a vida inteira, em duas empresas, nunca tive problema de nenhuma natureza, sou muito feliz, não sou rico, mas vivo bem. Tem coisa que dinheiro não compra, e se comprasse eu daria tudo para ter minha esposa de volta.