É quase unanimidade entre profissionais que lidam com a educação que a leitura é uma ferramenta essencial para o desenvolvimento do indivíduo e, para além da concepção de educar, a leitura também aproxima pessoas, rompe barreiras e nos transporta para novas realidades e época. Para celebrar esse amor à leitura, foi atribuído ao dia 7 de janeiro o “Dia do Leitor”, data em homenagem ao poeta e jornalista baiano Demócrito Rocha, fundador do jornal cearense “O Povo”, em 1928.
Em São Sebastião do Paraíso, por exemplo, para aqueles que têm como hábito a leitura, não faltam oportunidades para ter acesso a livros e o município conta com espaço muito aconchegante, a Biblioteca Municipal Professor Alencar Assis. De acordo com a bibliotecária Daniela Lopes, todos os meses são cerca de mil empréstimos a leitores assíduos que sempre procuram o espaço para ter acesso aos diversos gêneros literários e também para aproveitar o espaço para estudar e realizar trabalhos acadêmicos.
“O nosso grupo de leitores é bastante exigente e está sempre cobrando melhorias da biblioteca, sugere livros, elogia o nosso trabalho e o ambiente da biblioteca. Além dos leitores comuns, há também estudantes, que aproveitam o espaço, tanto para os estudos acadêmicos, quanto para estudar para concurso, e também àqueles que aproveitam o horário de almoço para utilizar o espaço para fazer algum curso e também estudar”, conta.
Instituída por lei de 1970, de autoria do então prefeito Alípio Mumic, a Biblioteca Municipal Professor Alencar Assis, por intermédio do então prefeito Waldir Marcolini, passou a funcionar no endereço que abrigava a antiga rodoviária do município, ao lado da Escola Municipal Campos do Amaral. Ao longo desse quase meio século, o espaço passou por inúmeras melhorias e evolução, principalmente tecnológica.
“Um dos principais avanços foi sair das antigas fichas, que passaram a ser carteirinhas com códigos de barras, e também construímos um espaço infanto-juvenil e estamos melhorando porque percebemos que estávamos perdemos esse público. Sabemos que o pequeno leitor de hoje, é o adulto leitor de amanhã. Passamos por essa mudança a fim de estimular os pais a trazerem suas crianças e notamos um aumento do público”, ressalta.
Além disto, outra medida adotada pela Biblioteca é sempre mudar a decoração em datas festivas, a fim de tornar o ambiente mais atrativo e agradável para seus frequentadores. A bibliotecária também ressalta outra medida, que é a contação de histórias. “Sempre buscamos enfatizar a literatura regional, para valorizar nossa cultura, principalmente a cultura paraisense. Essa contação de histórias proporcionou que as crianças do município conhecessem o ambiente da Biblioteca Municipal, já que também sempre convidamos as escolas do município”, explica.
A contação de histórias sempre acontece em datas relacionadas à literatura, como o Dia do Livro Infantil e datas festivas. “Este ano estamos planejando algo para abril, mês em que se comemora o Dia do Livro Infantil e Dia Nacional e Internacional da Biblioteca. Já realizamos a contação de histórias em outubro, o ‘mês das bruxas’, e contamos a história da Maria Engomada, do Reynaldo Formággio, baseado em uma lenda paraisense, e as crianças adoraram”, recorda.
Desde 2016 trabalhando na Biblioteca, Daniela conta que percebeu um aumento do público leitor, que tem ido ao local, principalmente, em busca de obras mais vendidas, lançamentos mais recentes e obras que têm sido adaptadas para o cinema. Para potencializar o acesso à leitura, ela ressalta a adoção das redes socias como Instagram e Facebook onde divulgam as obras que existem no acervo, além do Whatapp, que é o telefone 3539-1017, onde o leitor pode mandar mensagem tirando dúvidas.
Sobre o espaço, a professora Ana Carolina Bonacini destaca que o acervo de livros da Biblioteca Municipal oferece muitas possibilidades de leitura. “Já vi alunos que estudam fora de Paraíso encontrando volumes que não conseguiram em suas escolas em outras cidades. Algo que é muito positivo, também, é a utilização da biblioteca por pessoas de várias idades”, destaca.
A professora lembra que promover os espaços públicos, como a Biblioteca Municipal, é uma ação que a prefeitura pode realizar, observando que a participação da comunidade é essencial para o sucesso dessas atividades. “Estabelecer parcerias e criar ações objetivas para impulsionar não só a leitura, mas o lazer em nossa cidade, que como se nota, está muito carente de tal direito constitucional, é um caminho”, enfatiza.
Como leitora, a professora ressalta a importância de se ler como forma de se conhecer e de se estabelecer enquanto sujeito. “Sou leitora de livros, de muros, dos jornais e das coisas da vida. Leio as estações do ano, o cair da chuva e a melodia da música. Aprecio o impresso, mas me adapto a esse mundo tecnológico. Minha preferida é a Clarice (Lispector), amo o Guimarães e, atualmente, estou lendo Eduardo Galeano. A leitura é uma excelente companhia, que se permitirmos, pode nos transformar, tornarmos mais generosos, tolerantes e percebermos que não estamos sós”, completa.
O QUE É SER LEITOR
Para a professora e coordenadora do curso de Letras da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG/Passos) e doutora em Linguística, Michelle Aparecida Lopes Pereira, também colunista no Jornal do Sudoeste, muito há o que se dizer sobre ser um leitor. “Todos somos leitores a partir do momento em que nascemos e passamos a observar o mundo à nossa volta: vamos aprendendo a ler as expressões daqueles com os quais convivemos, aprendemos a ler os lugares nos quais entramos, adquirimos a astúcia de ler as relações sociais que nos rodeiam. Somos, por meio dessa leitura, leitores do mundo”, avalia.
Conforme aponta a professora, a leitura da palavra começa assim que nos alfabetizamos e, a cada ciclo de ensino e aprendizagem, temos a oportunidade de evoluirmos como leitores. “Nesse sentido, há vários níveis de leitor, dos mais principiantes, aos mais sagazes. Quem pensa que existe um limite na leitura, engana-se, quanto mais se lê, mais se apura o hábito e a perspicácia. Testamos isso facilmente se experimentarmos ler pela segunda vez alguma obra; certamente, perceberemos algo diferente a cada leitura que fizermos”.
Michelle acrescenta ainda que há leitores de todos os tipos. “Alguns preferem os romances extensos, com muitos personagens, outros adoram ler os contos; alguns gostam de crônicas, outros de poesia; há ainda aqueles que não gostam de livros, mas leem muitos artigos, revistas e jornais. Isso significa que definir leitor a partir da leitura de obras impressas é um equívoco, já que leitor é aquele que dedica, pelo menos parte de seu tempo diário, à leitura de algo”.
A professora cita ainda uma de suas definições favoritas do que é ser leitor, de acordo com o intelectual francês, Michel de Certeau: “O leitor é um caçador que percorre terras alheias”. “Por meio dessa definição, compreendemos que um leitor é aquele que, ao ler o que foi escrito por outro, constrói os sentidos para si mesmo. Ainda que as ‘terras’ sejam ‘alheias’, é o ‘caçador’ quem deve escolher o caminho que vai percorrer. Por isso, leitura pode ser desde um simples passatempo, daqueles mais gostosos e divertidos porque nos prendemos e nos perdemos na história, como também pode ser algo que nos possibilite estabelecer os pontos de contato entre enredo e realidade; e isso nos enriquece e nos faz mais conscientes da vida e do mundo. Ler é necessário, fundamental!”, completa.