A definição clássica de erotismo é o estímulo sexual sem apresentar o sexo de forma explícita, que é o que diferencia de pornografia. Ele designa não apenas um estado de excitação sexual, mas também a excitação sexual, mas também a exal-tação do sexo nas artes, na literatura, na pintura. O erotismo é sinônimo de vida, é delicado, poético.
O termo vem de Eros, o deus grego do amor e do desejo, conhecido na mitologia romana como Cupido. Uma das lendas mais belas do deus do Amor é a aventura amorosa com Psique, nome que em grego significa alma. Eros é sinônimo de vida, de delicadeza, de lirismo.
Ao contrário, pornografia é o exagero, o grosseiro, o animalesco, ação ou representação que ataca ou fere o pudor, a moral ou os considerados bons costumes. É preciso cuidado, porque pessoas ingênuas e equivocadas podem dar os termos como sinônimos, com falsos julgamentos.
O erotismo é poético, lírico. A pornografia, diferentemente, é de mau gosto. Não é só uma questão de dose, mas da qualidade e refinamento. Na literatura alguns autores usam palavrões para realçar o realismo da narrativa, o que é discutível. Outros, principalmente em poemas, evitam enfocar sensações fortes, por um falso moralismo. Na realidade, a arte literária depende de múltiplos fatores e não apenas de erotismo ou pornografia.
Em literatura, arte é linguagem, é o emprego de figuras de linguagem, principalmente na poesia. Na prosa (romance, contos e crônicas) é fundamental o conhecimento profundo e minucioso da Teoria da Literatura. Tentar escrever um romance ou um conto, por exemplo, sem tal conhecimento é algo desastroso.
Na Literatura Brasileira, os autores mais expressivos, como Machado de Assis, Clarice Lispector, Guimarães Rosa e Osman Lins, tornaram-se imortais pela análise psicológica das personagens, a criação de uma nova linguagem ou a inovação das técnicas narrativas.
Na poesia, o conhecimento da linguagem é algo essencial, assim como as figuras de linguagem, o lirismo, a sensibilidade. Evidentemente, nos dois gêneros literários, a criatividade, a originalidade são fatores essenciais. Algumas vezes não é tão fácil classificar o gênero literário de uma obra. Evidentemente, Iracema, de José de Alencar, é um romance indianista. Mas seu início é tão lírico e cadenciado que já foi chamado de poema em prosa. Moderna-mente, a prosa poética tem conquistado muitos adeptos. É um texto em prosa, com um conteúdo fortemente lírico.
Voltando ao início do texto, transcrevo abaixo um poema meu, do livro Replan-tio de Outono, no qual tento, em estilo confessional, realçar o erotismo aliado à religiosidade. "Ah, Senhor meu / Entra que a casa é tua/ E eu, escrava apenas, / Jamais senhora. / Quero te descalçar as sandálias / Ungir-te os pés com doces óleos / Enxugá-los com meus cabelos / Colocar-te a branca rede / Para que teu corpo manso/ Me espere, tenro favo/ Praia de perfumes e doçuras. Eu me deitarei ao teu lado, / Trêmula caça amestrada/ Pelas tuas mãos, teus dedos / Que pousarão sobre mim/ Mapeando-me o corpo, o sexo / Puxando-me contra ti / Para, de novo, o céu me seja dado / E me abra em delta / Misturando-me em tuas águas / No teu mar de vida minha... / Ah, Senhor meu! ".
(*)Ely Vieitez Lisboa é escritora.
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