O clube de leitura Leia Mulheres de São Sebastião do Paraíso irá discutir no próximo encontro, que acontece no dia 29 de fevereiro, a obra "Um teto todo seu", da escritora inglesa Virginia Woolf. O clube, que tem como foco a leitura e debate de obras escritas por mulheres, com objetivo de divulgação e valorização destas, já está em seu sétimo encontro e no último, realizado no dia 25 de janeiro, discutiu a obra "A paixão segundo G.H" de Clarice Lispector.
Conforme uma das mediadoras do clube, a psicóloga Sarah Lara Naves, a obra, que marca o início de 2020, ano em que também se celebra 100 anos de nascimento de Clarice Lispector, foi uma escolha muito bem-vinda e que causou sentimentos diversos para os leitores. "O mais interessante em "A paixão segundo G.H" foi observar o quanto este livro afetou os participantes: alguns de maneira mais positiva outros, negativa. Mas é impossível passar pela obra sem ser transformado, de certa forma, pela narrativa da Clarice Lispector", ressalta.
Sarah ressalta ainda que, neste ano, celebra-se o centenário de Clarice. "Conversamos muito sobre a vida da autora e suas obras. Foi um excelente início de 2020", destacou. Clarice publicou "A paixão segundo G.H" em 1964. A obra, que trata sobre os processos de (des)construção da personagem G.H., na busca pelo autoentedimento, gerou naquela época, e ainda gera, inúmeros questionamentos. Mas como afirmou a autora, em sua última entrevista ao jornalista Júlio Lerner, da TV Cultura, em 1977, "entender não é uma questão de inteligência, mas se sentir".
Para o mês de fevereiro, a obra que será discutida é "Um teto todo seu", de Virginia Woolf. Sarah conta que a escolha foi o desejo em abordar uma obra de não-ficção e que tratasse dos processos de escritas de uma das escritoras mais influentes do século XX. "O nosso intuito é discutir o papel social da mulher que escreve, principalmente ficção, e as diferenças que existem entre uma mulher e um homem que decidi seguir por este caminho. É um ensaio compostos por dois artigos escritos por Virginia Woolf, em um tempo que era ainda mais difícil para as mulheres estar nesta profissão, que é a de ser escritor", completa.
UM TETO TODO SEU
Neste ensaio de Virginia Woolf, publicado pela primeira vez em outubro de 1929, a autora traz à baila o percurso na mulher na literatura e suscita questões importantes, como por exemplo, onde estavam essas mulheres escritoras em séculos anteriores ao XIX? O ensaio foi baseado em uma série de palestras que a autora realizou no Newnham College e Girton College, duas escolas para mulheres na Universidade de Cambridge.
De acordo com Virgínia Woolf, "uma mulher deve ter dinheiro e um teto todo seu se quiser escrever ficção". Essa frase, que nos remete ao título da obra, é o cerne que vai conduzir o trabalho da autora ao longo das suas reflexões acerca do tema mulher e ficção. Já nas primeiras páginas, Woolf discute o porquê de as mulheres não conseguirem acumular fortuna e as razões que as impediram, ao longo da história, de obter o mesmo destaque que os homens na produção literária.
Virginia diz que as mulheres têm sido impedidas de escrever devido à sua pobreza, e que liberdade econômica traria a elas a liberdade da escrita. Já em sua época, havia um restrito grupo de mulheres que se destacaram por sua produção literária como as irmãs Brontë, Mary Shelley e Jane Austen (publicadas inicialmente sob pseudônimos ou omitindo seu nome em suas obras). Mas onde estavam as mulheres antes delas? Em busca de uma resposta, a autora conta que é muito mais do que uma questão de "poucas mulheres escrevem livros", mas sim porque às mulheres foram relegadas responsabilidades que as impediram de contribuir em grande número para com a produção da literatura.
VIRGINIA WOOLF
Virginia Woolf é uma escritora inglesa nascida em Kensington, em 25 de janeiro de 1882. Produziu inúmera obras notáveis e de grande valor para a Literatura Inglesa, entre elas seu romance de estreia A Viagem, As Ondas, Orlando e, um dos mais conhecidos, Mrs Dalloway.
De origem burguesa, seu pai, Leslie Stephen, foi editor e crítico literário e, por influência dele, passou a se interessar pelo mundo literário. Entretanto, ao contrário de seus irmãos, que foram educados numa escola, ela foi educada em casa, como era comum àquela época, fato este que a marcou profundamente.
Em 1912, Virginia se casou com o escritor e editor Leonard Woolf e juntos fundaram a editora Hogarth Press, em Londres. No ano de 1915 a escritora lança seu primeiro romance, "A Viagem", e, a partir daí, a autora começa a trabalhar como escritora.
Virginia suicidou-se em Lewes, na Inglaterra, em 28 de março de 1941, aos 59 anos. Antes do ocorrido, escreveu duas cartas, uma para seu marido, e outra para sua irmã mais velha, Vanessa Bell. Em sua carta de despedida ao marido ela diz: "Tenho certeza de que enlouquecerei novamente. Sinto que não podemos passar por outro daqueles tempos terríveis. E, desta vez, não vou me recuperar. Começo a escutar vozes e não consigo me concentrar. Por isso estou fazendo o que me parece ser a melhor coisa a fazer".