O técnico em óptica e árbitro da Federação Mineira de Voleibol, Pedro Augusto Carvalho Casanova, exerce sua profissão com muita dedicação e, sempre que pode, concilia com sua vida paralela nas quadras de vôlei. Durante uma fase da sua vida foi jogador, mas decidiu se dedicar a arbitragem que, conforme ele destaca, é um trabalho muito sério e que se não for executado com ética e respeito, pode comprometer a toda uma equipe. Filho de Gilberto Casanova e Odete Carvalho Casanova (em memória), Pedro é casado com Roseli Fialho Casanova e a pai da Paula, de 11 anos. É atencioso que ele recebe a reportagem do Jornal do Sudoeste na “Oficina dos Óculos” para falar um pouco do trabalho e de sua paixão pelo esporte.
Jornal do Sudoeste: de onde são as raízes da sua família?
P.A.C.C.: Meus pais são de Ribeirão Preto, meus outros quatro irmãos também nasceram lá, eu fui o único que nasceu aqui em Paraíso. Meu pai trabalhava em uma concessionária de máquinas agrícolas e surgiu a oportunidade de abrir uma filial da empresa aqui, e ele veio para gerenciar essa unidade e aqui fixou residência. Meus pais já faleceram, meu pai em 2010 e minha mãe em 2016.
Jornal do Sudoeste: como foi sua infância em Paraíso?
P.A.C.C.: Foi uma infância das mais ricas possíveis em termos de amizades e relacionamentos. Nós brincávamos na rua e não tínhamos problemas em relação à questão da liberdade. Íamos para a escola de manhã e às vezes a pé, tínhamos tranquilidade. Foi uma infância muito rica de saúde e amigos. Tenho contato com esses amigos até hoje, do primário, que fiz no Noraldino Lima. Depois estudei no Paraisense e depois no antigo Colégio do Padre, o Colégio Comercial São Sebastião, onde fiz um curso técnico de contabilidade. Brincávamos muito na rua e me recordo que tínhamos uma turma que andava com carrinho de rolimã na cidade, eram mais de 30. Chegaram a colocar um quebra-molas na rua, por causa da barulheira que nós aprontávamos.
Jornal do Sudoeste: você chegou a ir embora de Paraíso, o que o levou a isso?
P.A.C.C.: Foi por causa do trabalho. Sempre trabalhei no ramo de ótica e a primeira cidade que eu morei foi Lavras, mas depois voltei e no final de 2000 fui morar em Franca, onde fiquei 14 anos – trabalhando na mesma empresa. De lá, a convite de um amigo, fui tentar a vida em Juiz de Fora, mas foi por pouco tempo, porque não me adaptei muito bem e também não queria retornar a Franca para a mesma função, então decidi retornar a São Sebastião do Paraíso.
Jornal do Sudoeste: você sempre trabalhou no ramo ótico?
P.A.C.C.: Sempre. Em 1999 eu fiz um curso técnico em ótica em Bebedouro, já trabalhava na área aqui em Paraíso, no final do ano seguinte minha esposa recebeu um convite para trabalhar em Franca e nós fomos. Lá, comecei a trabalhar em uma loja – uma rede de nove lojas – no balcão, manifestei interesse de trabalhar na parte técnica então fui para o laboratório de montagem, onde fiquei por muitos anos e cheguei ao cargo de coordenador técnico e coordenava também equipe de treinamento das nove lojas desta rede – se uma pessoa fosse contratada, eu é quem fazia essa capacitação do novo funcionário.
Jornal do Sudoeste: hoje sua vida é como técnico em ótica?
P.A.C.C.: Sim. Aprendi a gostar da profissão, a entender e me apaixonar pelo o que faço hoje. É um trabalho que se tornou um hobbie, e me aprofundei muito nesta área. É um trabalho que, dependo do ramo, é muito penoso. Franca, por exemplo, exige muito do comércio porque é uma cidade muito próxima a Ribeirão Preto, então o comércio trabalha até nos sábados às 15h, não fecha em feriado, mesmo no aniversário da cidade. É um pouco desgastante porque você não tem muita disponibilidade para outras coisas, tem que gostar muito da profissão.
Jornal do Sudoeste: quando vocês retornaram a Paraiso?
P.A.C.C.: Foi em meados de 2015. A minha esposa prestou um concurso público da Prefeitura, foi convocada e decidimos retornar. Tudo foi caminhando para uma estabilidade. Ela se estabilizou no trabalho dela e eu aqui. Cheguei a trabalhar cerca de oito meses numa empresa do ramo ótico, mas depois decidi abrir meu próprio negócio, Oficina dos Óculos, em julho de 2016.
Jornal do Sudoeste: você transitou muito ao longo dos últimos anos. Paraíso é mais tranquilo?
P.A.C.C.: Eu gosto muito de Paraíso, é uma cidade que tem muita qualidade de vida, mas não é a cidade que tem o custo de vida mais acessível, porque tem algumas coisas que exigem uma condição financeira melhor, principalmente combustível e alimentação. Mas a qualidade de vida é fantástica. Fui nascido e criado aqui. Agora, minha filha, se tudo der certo, vai estudar na mesma escola que eu estudei, onde o diretor foi meu professor, há esse relacionamento e essas vivências que, de certa forma, revivemos.
Jornal do Sudoeste: você também é arbitro de vôlei. Como começou isso?
P.A.C.C.: É um hobbie que gosto muito. Digo hobbie porque não há como viver só disso, e nossa função não é profissionalizada e não existe uma legislação própria em termos trabalhistas, portanto todo árbitro tem uma outra profissão. Não é muito valorizada e há uma disparidade muito grande entre o que recebe um atleta e um árbitro, este último que tem que buscar crescer por conta. Eu me apaixonei pelo vôlei no início da década de 90, fui muito estimulado porque sempre fui muito alto, e como minha irmã também jogava vôlei, acabei me apaixonando pela modalidade, mas nunca me destaquei como jogador. Tive uma breve passagem pela comissão técnica no vôlei feminino, inclusive em 96 ficamos em 3º lugar na equipe infantil feminina, a qual eu era assistente técnico do Marcelo, que hoje está em Alfenas. Mas foi em 1995 que eu comecei a manifestar interesse pela arbitragem. Em 1997 eu fiz um curso pela Federação Mineira, em Paraíso, trazido pela Liga Sul Mineira. Como me mudei para Franca em 2000, no ano seguinte surgiu a oportunidade de eu fazer outro curso oficial de arbitragem pela Federação Paulista de Voleibol. Não exerci muito essa atividade de arbitragem dado a carga de trabalho na época. Quando voltei para Paraíso, transferi meu certificado para a Federação Mineira e, trabalhando como autônimo, já pude participar de mais eventos.
Jornal do Sudoeste: hoje você é aspirante a árbitro pela Federação Mineira?
P.A.C.C.: Sim. São vários estágios dentro da Federação. Você entra com estagiário, passa a árbitro regional, depois para aspirante nacional e, depois, para árbitro nacional, que é meu próximo passo. Depois tem o árbitro continental, mas para isso tem que ter menos de 40 anos e falar inglês fluentemente, para só depois se tornar árbitro internacional. Eu já tive a oportunidade em trabalhar em seis campeonatos brasileiros: cinco campeonatos das seleções e um interclube, graças a Federação.
Jornal do Sudoeste: você apitou jogos aqui em Paraíso?
P.A.C.C.: Sim. Posso dizer que foi a realização de um sonho poder fazer a arbitragem de quatro desses campeonatos de seleções aqui em Paraíso, dentro da Arena João Mambrini que é um dos maiores ginásios esportivos no estado de Minas e que todo mundo se apaixonada quando conhece.
Jornal do Sudoeste: é uma responsabilidade muito grande, não?
P.A.C.C.: sim, nós somos avaliados o tempo todo dentro das nossas funções e fazemos provas. É um trabalho muito responsável porque você envolve todo o trabalho de uma equipe. Dentro do curso de voleibol nós trabalhamos com psicologia esportiva, e dentro dessa área é muito discutido o projeto da equipe, que trabalhou por meses para disputar o campeonato e que temos que agir da maneira mais ética possível para não estragar esse projeto. O bom árbitro é aquele que consegue conduzir bem o jogo, e quase não aparece. Muitos árbitros são taxados de arrogantes, mas é porque dentro da função temos que manter a seriedade para não ser penalizado.
Jornal do Sudoeste: como você vê o esporte em Paraíso atualmente?
P.A.C.C.: Recentemente conversei sobre esse assunto com uma amiga, falávamos no voleibol. Há uma crise financeira dentro das prefeituras que não deixa o esporte se desenvolver muito. Na minha perspectiva, a política precisa agir com certa politicagem para que não haja diferença de valorização entre um esporte e outro, porque isso pode dar motivos para que se diga que há predileção de um a outro. Eu cursei Educação Física em Paraíso e estudei com o Lupita na época, que lamentava por não ter basquete feminino e voleibol masculino no município, duas modalidades que estavam estacionadas. Acredito que tenha material humano para isso. Tenho amigos que treinam fora a convite, e aqui temos um horário que tentamos manter vivo para que essas pessoas não precisem ir para fora treinar.
Jornal do Sudoeste: a que você atribui essa questão de não conseguir formar times?
P.A.C.C.: Eu acho que falta abrir mais os espaços e investir em material humano, e me refiro a técnicos. Hoje temos o Ludovico que trabalha com todas as categorias do feminino e masculino e isso o deixa sobrecarregado e, por sua vez, não consegue desenvolver cada uma das modalidades. Acredito que tem que ter mais material humano, a começar da comissão técnica. Vejo, diante dos relacionamentos que tenho, que há material humano sim, mas acredito que precisa estruturar melhor o esporte na cidade, para que se consiga forma talentos. Tentei fazer isso, há alguns anos, mas a resposta que eu tive era que inicialmente eu tinha que desenvolver o trabalho, apresentar resultados para só então a prefeitura apoiar aquele projeto – e quando falo apoio estou falando de estrutura, porque vôlei não se joga em qualquer quadra, não pode ser quadra descoberta porque o atleta precisa olhar o tempo todo pra cima, e como profissional que trabalha com a saúde dos olhos, como eu deixo de considerar isso? É lamentável não ter esse apoio por parte da prefeitura.
Jornal do Sudoeste: o que mudou da sua época de jogador para hoje. Você acredita que evoluiu muito o esporte?
P.A.C.C.: O vôlei é um esporte que evoluiu muito. Recentemente, estava assistindo a um jogo – Sesc Rio contra o Barueri – e notei como evoluiu, principalmente o voleibol feminino, que nos anos 80 dava até um pouco de sono assistir, diferente de hoje, que é muito mais empolgante. Também evoluiu em termos de regra, por estar atrelado a TV, então é preciso mudar para se tornar um esporte mais atrativo para aqueles que estão em casa assistindo. Hoje a segunda paixão do brasileiro, é o voleibol.
Jornal do Sudoeste: Vo-cê tem algum ídolo?
P.A.C.C.: Tenho vários, falar de apenas um é difícil. Porém, tenho uma grande admiração pela seleção de 92, que foi um time muito unido, tinha garra. Entre esses nomes o Tande, Carlão, Maurão, e próprio Marcelo Negrão. O levantador Maurício, que foi uma revolução em sua época e inovou a maneira de se jogar voleibol; o Giovane Gávio, que era outro ponteiro titular e hoje é técnico no Sesc Rio – foi único que já foi campeão como jogador e técnico do Sesi pela Superliga. Fui muito fã do Giba, Nauber, o Ricardinho. É difícil falar de apenas um, diversos jogadores revolucionaram o voleibol em suas épocas, e é difícil dizer quem foi o melhor.
Jornal do Sudoeste: qual o balanço que você faz dessa trajetória?
P.A.C.C.: Tenho uma família maravilhosa, minha esposa e filha são minhas grandes paixões. Só tenho a agradecer pela vida que eu tenho, pela qualidade de vida. Meu ex-patrão tinha frases muito marcantes, uma delas é “que para que melhoremos na vida, é preciso que as coisas piorem um pouco antes”. Para viver em uma casa confortável, é preciso passar pelos infortúnios da reforma... Pude provar disto quando fui para Juiz de Fora, em busca de melhoras, passei por maus momentos, mas hoje estou bem. Essas experiências que tive, e que não foram tão legais, também me enriqueceram bastante. Tenho só a agradecer, em especial ao coordenador regional da Federação Mineira de Voleibol, o Luiz Antônio Rabelo, ao coordenador de árbitros da Federação Paulista de Voleibol, o Dalmir Medeiros, e ao presidente da Federação Mineira, o Tomás Mendes – são pessoas que me ajudam muito.