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Darlene Tavares: Uma trajetória marcada por dedicação ao trabalho e aos estudos

Minha mãe sempre disse que queria os filhos formados, acreditava que a formação profissional por meio da graduação poderia transformar nossas vidas
Por: João Oliveira | Categoria: Entretenimento | 01-03-2020 09:24 | 3852
Darlene é natural de Itamogi e fez carreira em Ribeirão e Uberaba, onde hoje é vice-reitora da UFTM
Darlene é natural de Itamogi e fez carreira em Ribeirão e Uberaba, onde hoje é vice-reitora da UFTM Foto: J. Gustavo

A enfermeira, professora e vice-reitora na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Darlene Mara dos Santos Tavares, é uma profissional que ao longo de sua vida se dedicou à atuação e formação na área da Saúde. Natural de Itamogi, onde passou a infância e parte da juventude até a perda de seu pai, Rubens Reis dos Santos, momento em que se mudou para Ribeirão Preto com sua mãe, Dóris Feliciano dos Santos, onde, após ter iniciado sua graduação em Enfermagem na UFSCar, se formou na USP. Após atuar na área naquela cidade por alguns anos, casou-se com Maciel Tavares, com quem teve Murilo Santos e Daniela Santos Tavares. Após o casamento mudou-se para Uberaba, onde após uma trajetória pela Secretaria Municipal de Saúde e docência na UFTM, hoje ocupa o cargo de vice reitora daquela universidade.

Jornal do Sudoeste: Onde passou a infância e como foi esse período em sua vida?
D.M.S.T.: Passei minha infância em Itamogi, período em que trago boas lembranças da liberdade em brincar nas ruas, das amizades construídas e que as mantenho até os dias atuais. Lembro com carinho da Professora Tia Lurdinha, do Jardim de infância, que iniciei aos cinco anos de idade. A escola funcionava na residência da Professora e era um espaço de aprendizagem lúdica. Minhas lembranças destes momentos são muito agradáveis, e deste período trago amigas de uma vida: Annaida, Lucélia e Shirley.

J.S.: Como foi o início da sua formação escolar?
D.M.S.T.: Aos seis anos, em 1970, iniciei o primeiro ano na Escola Estadual Minas Gerias. O Ensino Fundamental era constituído em oito anos, com duas etapas de formação, denominados de Grupo escolar (4 anos) e Ginásio (4 anos). Nos primeiros quatro anos tínhamos aulas de todos os conteúdos com um único professor e no Ginásio, que correspondia de 5ª a 8ª série, tínhamos um professor para cada conteúdo. Entre 1974 a 1977 estudei na Escola Estadual de Itamogi. A sensação de ir para o Ginásio era de que havia crescido e era moça e não mais criança. O uniforme era diferente e sentia a necessidade de ser responsável e estudiosa, pois minha irmã mais velha era famosa por ser inteligente. Durante este período fortalecemos os vínculos com as amigas do Jardim de infância e novas pessoas vieram fazer parte de nossa vida, até compormos um grupo: ONCAMI, mistura da palavra Mônica. A sede do ONCA MI era na casa da Terezinha e tínhamos uma certa organização, presidente, vice-presidente e conselheira, além disto tínhamos uniforme (uma blusa pintada, por nossas mães, com o rosto de uma menina e um short vermelho). Assumi o cargo de presidente e foi uma das primeiras experiências de exercer a liderança. Este era um espaço democrático em que discutíamos e trocávamos experiência sobre nossas dúvidas, anseios e receios. Também organizávamos brincadeiras e festinhas. As atividades escolares ainda que individuais, eram, na sua maioria, realizadas em conjunto e, somente depois de concluídas íamos brincar (boca de leão; pega-pega; casinha; andar de bicicleta; parquinho, dentre outras). Também me lembro do Congo de Itamogi, momentos especiais em que a cidade ficava cheia e divertíamos muito.

J.S.: Houve algumas reviravoltas em sua vida após esse período. Como foi isso?
D.M.S.T.: Em 1978 inicie o colegial, assim designado o ensino médio. Em Itamogi não tinha, assim, para aqueles que iriam continuar estudando era uma prática comum se deslocar para o município vizinho. Em geral, duas cidades eram os locais que os egressos do Ensino Fundamental buscavam para concluir seus estudos, em Santo Antônio da Alegria (SP), que tinha escola pública, e em Monte Santo de Minas, que era particular. Ingressei no Escola Estadual Cônego Macário de Almeida, em Santo Antônio da Alegria, que fica a 13 quilômetros de Itamogi. Íamos pela manhã, em transporte escolar, e o motorista nos esperava, ao término da aula retornávamos para Itamogi. Naquele ano, em maio perdemos o meu pai que estava tratando de um câncer no esôfago. Foi um momento de muita dor, pois tinha um relacionamento de muito respeito, consideração, admiração e amor com ele. Este fato redirecionou a vida da nossa família, meus dois irmãos estudavam e moravam em Ribeirão Preto (SP). A Dirlene cursava o primeiro ano de Faculdade de Farmácia e Bioquímica na Universidade de São Paulo (USP) e o Rubinho fazia cursinho querendo ingressar em agronomia. Minha mãe sempre disse que queria os filhos formados, acreditava que a formação profissional por meio da graduação poderia transformar nossas vidas. E foi com esta determinação que decidiu que todos mudaríamos para Ribeirão Preto para podermos estudar e ficar juntos. Assim, em 1979, mudamos para Ribeirão Preto.

J.S.: Quais as memórias mais marcantes você tem da infância o que mais sente falta desta época?
D.M.S.T.: As brincadeiras na praça, no parquinho, na casa dos meus avós: Zefa e Floro e da minha avó Raimunda, além do nosso clubinho ONCAMI e do Congo. Sinto saudade das amizades verdadeiras e dos bons almoços de domingo.

J.S.: Como foi sua formação e por que decidiu seguir a área da saúde?
D.M.S.T.: No terceiro colegial, tinha uma certeza: gostaria de fazer o vestibular para o Curso de Enfermagem. No segundo semestre de 1982 fui aprovada no vestibular e iniciei o Curso de Enfermagem da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). No final do ano de 1983 minha mãe sugeriu que eu prestasse a seleção de transferência para EERP - USP, pois estava difícil arcar com os custos financeiros. Com pesar de voltar para Ribeirão Preto, pois estava completamente adaptada na UFSCar, fiz o processo de transferência, sendo aprovada. Assim, em 1984 continuei a graduação de Enfermagem na EERP - USP, formando em dezembro de 1986. A época, no último ano de graduação, fazíamos a opção por habilitação em Médico-cirúrgica ou em Saúde Pública, escolhi a segunda alternativa, recebendo o grau de Enfermeira com Habilitação em Saúde Pública.

J.S.: Você precisou ir embora para estudar, foi um desafio muito grande?
D.M.S.T.: Cheguei a Ribeirão para fazer o segundo colegial. Um mundo enorme se descortinou para mim, mas trouxe muitos desafios... cidade grande, colégio grande, pessoas desconhecidas, conteúdos novos. Minhas amigas de infância estavam longe... Espelhei-me na coragem, garra e determinação que via em minha mãe e aos poucos o desconhecido se tornou conhecido e querido. No terceiro colegial, nova mudança: pela primeira vez iria estudar em uma escola particular, o COC. Novos desafios, incertezas e encantamentos.

J.S.: Como foi o início da sua carreira profissional? Onde atuou e qual foi o seu maior desafio?
D.M.S.T.: No final da minha graduação, em dezembro de 1986, houve concurso para o Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, que realizava a expansão da Unidade de Emergência. Fiz o concurso e passei em sexto lugar, assim em janeiro de 1987 fui chamada para iniciar o trabalho de Enfermeira. Na unidade de emergência atendia nos seguintes locais: Pronto Socorro Adulto, Clínicas Médica, Cirúrgica, Ortopedia, Ginecologia, Obstetrícia e Neurologia. Trabalhei por dois anos neste local e foi um momento muito rico e de aprendizagem pessoal e profissional. Neste interim, havia prestado um concurso para a Secretaria de Estado da Saúde –SP, e fui chamada para trabalhar no Hospital Psiquiátrico de Ribeirão Preto – HPRP, assumindo em final de 1988. O referido local é um macro-hospital que desvelava em sua história toda a segregação e incompreensão da doença mental. Havia um espaço para as mulheres, denominado de ala feminina e outro para os homens (ala masculina); eram espaços que acolhiam aproximadamente 70 pessoas em cada local. O setor de clinica médica, local em que fui a enfermeira responsável, respondia pelo atendimento de intercorrências, desintoxicação alcoólica e cuidado de pessoas com doença crônica. Existiam também, as moradias para as pessoas que estavam em processo de ressocialização, um avanço para a saúde mental. Este era um local de estágio dos acadêmicos da EERP – USP, e isto favoreceu a realização de cursos em conjunto com os docentes, a busca pela ampliação do conhecimento e a valorização da relação universidade e serviço de saúde. Também foi um espaço de grande crescimento pessoal e profissional, considerando a essência do trabalho em equipe; a humanização no atendimento de pessoas com histórias sofridas em decorrência da incompreensão da doença mental e da abertura para novas estratégias de abordagem no cuidado à saúde. No inicio de 1991, me desvinculei deste serviço, pois havia me casado e estava mudando de cidade.

J.S.: Como foi sua atuação após esta mudança?
D.M.S.T.: Entre 1991 a fevereiro de 1994 trabalhei na Secretaria Municipal de Saúde de Uberaba, sendo selecionada por meio de concurso público. Enfim, realizava-se o sonho de trabalhar na Saúde Pública que havia vislumbrado no último ano da minha graduação. Era membro da Equipe Multidisciplinar para treinamento e implantação do Sistema Único de Saúde no município de Uberaba e responsável pelo Serviço de Enfermagem da Secretaria Municipal de Saúde do município. A equipe multidisciplinar estava constituída por: enfermeira; odontólogos; médicos, veterinário e psicólogo, tendo na Coordenação uma médica (Diretora de Saúde Pública) e o Secretario de Saúde. Esta equipe recebeu treinamento do Núcleo de Educação em Saúde Coletiva (NESCON) da UFMG e se responsabilizou em treinar os demais profissionais da rede dos serviços de saúde da Secretaria. Nesta perspectiva, foi realizado o diagnostico situacional de saúde da população, pautando-se em dados primários e secundários. Desta forma, o município foi divido em áreas de abrangências e Distrito sanitário, considerando a forma de viver, as necessidades de saúde e os equipamentos de saúde disponíveis para atendimento. A seguir, foi realizado o planejamento em saúde tendo como referencial o planejamento estratégico. Além dos profissionais de saúde, a comunidade foi envolvida na realização do diagnostico e planejamento em saúde, por meio de reuniões com a comunidade que resultou na constituição dos conselhos locais de saúde e o conselho municipal de saúde.

Quatro documentos foram elaborados pela equipe, elencados a seguir, Diagnóstico Situacional de Saúde no Município de Uberaba (1992); Projeto de Expansão da Rede Municipal de Saúde de Uberaba (1992), Proposta do Plano Municipal de Saúde (1991) e Serviços Municipais de Saúde: uma estratégia de avaliação (1991). Quanto à responsabilidade pelo Serviço de Enfermagem da Secretaria Municipal de Saúde de Uberaba, foram realizados vários cursos de capacitação da equipe de enfermagem, em especial os relacionados à vacinação e esterilização de materiais, temas estes identificados como os prioritários.

J.S.: Você decidiu construir uma carreira acadêmica, era algo que sempre sonhou?
D.M.S.T.:  O interesse pela carreira acadêmica foi sendo construído quando trabalhava na Secretaria de Saúde de Uberaba, em razão da relação do serviço com a academia para o estágio dos estudantes de Enfermagem e também pelos convites recebidos para ministrar alguns conteúdos. No período de 1994 a início de 2002, desenvolvi as atividades profissionais na Faculdade de Medicina do Triangulo Mineiro (FMTM), transformada em Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) em 2005. O vinculo era pela Fundação de Ensino e Pesquisa de Uberaba (FUNEPU) ou pela FMTM como Professor substituto, considerando que no Governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não houve disponibilidade de vagas efetivas para docentes nas Instituições Federais de Ensino Superior (IFES). Iniciei o cargo de Professor de 3° Grau em fevereiro de 2002, após a aprovação em concurso público na disciplina de Enfermagem em Saúde do Adulto e do Idoso, vinculada ao Departamento de Enfermagem em Educação e Saúde Comunitária, Curso de Graduação em Enfermagem. A minha atuação profissional e formação intelectual eram consoantes ao perfil necessário para a atividade docente nesta área.

J.S.: Hoje você é vice-reitora da UFTM, como foi seu caminho até chegar nesta posição?
D.M.S.T.: Ao iniciar a atividade de docência em 1994, tinha a graduação em Enfermagem, contudo, percebi que era necessário estudar mais. Assim, ainda em 1994, inicie e conclui o Curso de Especialização ofertado pelo Curso de Graduação em Enfermagem da FMTM, atual UFTM. As aulas eram realizadas no período noturno. Motivada pela realização das atividades de acompanhamento da cobertura vacinal no trabalho anterior junto a Secretaria Municipal de Saúde, desenvolvi o trabalho de conclusão de curso nesta área. Assim, paralelamente a realização dos créditos nas disciplinas foi desenvolvida a pesquisa “Estudo da cobertura vacinal e taxa de abandono da vacina tríplice entre crianças menores de 1 ano residentes no município de Uberaba/MG – 1989/1993” sob a orientação da Profa. Ana Carolina D’Areli de Oliveira Doro.

Posteriormente, fui selecionada e iniciei o mestrado em 1995 na EERP - USP, no Programa de Enfermagem Fundamental (conceito 7 na avaliação da CAPES), sob a orientação da Profa. Dra. Rosalina Aparecida Partezani Rodrigues. A motivação para a realização do mestrado era apro-fundar os conhecimentos e compreender melhor um questionamento que me acompanhava, baseado no atendimento de enfermagem às pessoas com diabetes mellitus (DM). Por que a educação em saúde realizada nos serviços com as pessoas com DM não eram resolutivas na perspectiva de mudar o comportamento visando postergar as complicações crônicas? Sob a orientação da Profa. Dra. Rosalina tive acesso a literatura cientifica sobre Andragogia e puder apreender como os adultos aprendem. Minha orientadora é referência na área do idoso e, desta forma, iniciei os estudos também com esta população. Utilizamos como referencial os pressupostos teóricos do educador Paulo Freire e desenvolvemos a pesquisa de abordagem qualitativa intitulada: Educação conscientizadora do idoso diabético: Uma proposta de intervenção de enfermagem. Este estudo foi norteado pelos objetivos: descrever os aspectos funcionais da Associação dos diabéticos; caracterizar a situação de saúde dos idosos diabéticos segundo os indicadores, atividades da vida diária e presença de queixas relacionadas às complicações crônicas; identificar as necessidades educativas destes sujeitos e elaborar uma proposta educativa, de acordo com as necessidades identificadas e adequadas ao seu desenvolvimento na referida instituição. Pautada no referencial teórico, a proposta educativa norteou-se na participação ativa do educando, a criatividade, a redescoberta, enfim a conscientização, de forma a evitar a domesticação das pessoas.  O período de realização do mestrado foi extremamente rico, pois um mundo novo se descortinou para mim. Por meio das disciplinas cursadas e dos estudos realizados pude compreender e refletir sobre o método cientifico, suas verdades e neutralidade, questões estas temporais e passíveis de alterar dependendo do contexto em que se encontra e do recorte que se faz do objeto. Tais reflexões foram ampliadas para minha vida pessoal e profissional e, repercutiram na minha caminhada. Em 1997 obtive o titulo de Mestre em Enfermagem.

J.S.: Logo após já engatou em um mestrado...
D.M.S.T.: Sim, também sob a orientação da Profa. Dra. Rosalina foi selecionada e ingressei no doutorado em 1998, na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – USP, no Programa Interunidades de Doutoramento em Enfermagem (conceito 6 na avaliação da CAPES). Tal Programa é desenvolvido, em conjunto, pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP) e pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP. Iniciou suas atividades em 1982, sendo o primeiro criado na América Latina, na área de Enfermagem. Buscando dar continuidades aos estudos e aprofundar sobre os tipos de abordagens metodológicas, tive o interesse em realizar uma pesquisa com abordagem quantitativa. Desta forma, conduzimos um estudo de coorte histórica com os objetivos: descrever as condições de vida e saúde de um grupo de idosos portadores e não portadores de diabetes mellitus, atendidos em três serviços de saúde do município de Uberaba-MG, segundo os indicadores: características sociode-mográficas, situação de saúde, interação social e apoio familiar; e identificar as variáveis que podem estar relacionadas ao DM e influenciar nas condições de vida e saúde do idoso. Desta forma, concluímos a tese denominada: Condições de vida e de saúde de idosos diabéticos, obtendo o titulo de Doutora em Enfermagem em 2001. Desta pesquisa, vários questionamentos e reflexões foram desdobradas em estudos posteriores, pois se verificou a necessidade de aprofundar o conhecimento sobre variáveis que poderiam contribuir na deterioração das condições de vida e saúde da população idosa; além de investigar a resolutividade do serviço de saúde e satisfação do idoso com sua utilização, bem como, a formação profissional para atendimento à este grupo.

Após ter ampliado minha formação acadêmica, assumi a Chefia de um Departamento de Enfermagem em Educação e Saúde Comunitária (DEESC) entre abri de 2002 a maio 2003. O Curso de Graduação em Enfermagem tem dois Departamentos técno-científico que agregam as disciplinas da área profissionalizante. O DEESC reúne as disciplinas da área de Saúde Coletiva.

Em 2003 fui convidada pelo Diretor da FMTM para assumir a Coordenadoria de Extensão. Na FMTM, tinha-se a Pró-reitoria de Pesquisa, Ensino e Pós-graduação que congregava as Coordenadorias de Ensino, Pesquisa e Extensão Universitária. Desta forma, fui Coordenadora da Extensão Universitária de abril de 2003 a 2005.

Em 2008 o Curso de Graduação em Enfermagem teve aprovado o Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Atenção à Saúde (PPGAS), pela CAPES. Foi realizada uma análise entre os docentes que comporiam o Programa o que teria o perfil para assumir a Coordenação. Assim, assumi a Coordenação do PP GAS de 30/08/07 a 01/09/10, momento em que iniciavam as atividades do Programa. O PPGAS tem o objetivo de formar mestres em saúde e enfermagem capacitados a desenvolver a prática docente por meio de tecnologias inovadoras de ensino, com postura ético-profissional, responsabilidade social e com habilidades pedagógicas e interpessoais, bem como a reconhecer problemas potenciais de pesquisa e a conduzir investigações com o rigor científico. Objetiva, ainda, formar pesquisadores/cientistas na área da enfermagem e da saúde que busquem inovação tecnológica, melhor qualidade do cuidado, formação de recursos humanos e implementação de políticas públicas para o desenvolvimento social e econômico.

Com a transformação da FMTM em UFTM foram criados os Institutos. Assumi a Direção do Instituto no momento de sua criação, em 2010, na condição de Diretora Pró-tempore, por um período de um ano. Após, foram realizadas as eleições e fui eleita, em 2011, por um período de dois anos. Ao término deste mandato, fui reconduzida, por meio de processo eleitoral, por mais dois anos. O Instituto de Ciências da Saúde - ICS - iniciou suas atividades em 2010, por ocasião do novo organograma da Universidade Federal do Triângulo Mineiro.

Era composto por dez departamentos Didático-Científicos: Ciências do Esporte; Clínica Cirúrgica; Clínica Médica; Enfermagem na Assistência Hospitalar; Enfermagem em Educação e Saúde Comunitária; Fisioterapia Aplicada; Materno-Infantil; Nutrição; Saúde Coletiva; e Terapia Ocupacional. Oferece sete cursos de bacharelado: Biomedicina; Educação Física; Enfermagem; Fisioterapia; Medicina; Nutrição; e Terapia Ocupacional. Também oferece Programas de Pós-Graduação stricto sensu, sendo eles: Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde; Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical e Infectologia; Programa de Pós- Graduação em Atenção à Saúde; Programa de Pós-Graduação em Educação Física; e Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia. O ICS conta ainda com o curso de Especialização lato sensu em Atenção básica em Saúde da Família e com as Residências Médica e Residência Integrada Multiprofissional e Uniprofissional.

Deixei a Direção do ICS em agosto de 2014 para assumir a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PROPPG). A PROP PG é um órgão vinculado à Reitoria que tem por finalidade empreender a formação discente em nível de Pós-graduação (lato sensu e stricto sensu), além de orientar, coordenar e supervisionar as atividades de pesquisa científica e tecnológica no âmbito da Universidade, tendo como referência a qualidade e a relevância, para bem cumprir o papel de geradora de conhecimentos e de formação de recursos humanos. Está estruturada nas seguintes unidades: Departamento de Desenvolvimento da Pós-Graduação constituído por: Coordenadoria dos Programas de Pós-Graduação stricto sensu e Coordenadoria dos Programas de Pós-Graduação lato sensu; Departamento de Desenvolvimento, Pesquisa e Tecnologia constituído por: Coordenadoria do Programa Institucional de Iniciação Científica; Coordenadoria do Núcleo de Inovação Tecnológica; Coordenadoria dos Biotérios (Central e setoriais) e Coordenadoria do Núcleo de Empreendedorismo e Secretaria Administrativa.

Em julho de 2019 assumi a Vice-reitoria da UFTM.

J.S.: É um desafio estar à frente de uma universidade tão importante em Minas e no Brasil?
D.M.S.T.: É sempre um desafio assumir responsabilidades profissionais, mas considero que este cargo expressa o trabalho que desenvolvi ao longo de 25 anos na Universidade, sempre com responsabilidade, ética e dedicação. Penso que posso contribuir com a gestão considerando o tempo que trabalho na Instituição que me permite ter uma visão geral do seu funcionamento, assim como pelo conhecimento e experiência em gestão acumulados nos diversos cargos, desde o Departamento, a Pós-Graduação, o Instituto e a Pró-reitora de Pesquisa e Pós-graduação.

 

J.S.: O mercado de trabalho é desafiador para as mulheres. Você precisou superar barreiras para conquistar seu espaço?

D.M.S.T.: Vários desafios estiveram presentes, destaco aqueles relacionados à realização do mestrado e doutorado, pois trabalhava, tinha dois filhos pequenos e me deslocava duas a três vezes na semana para Ribeirão Preto. Sem contar as diversas atividades e estudos que precisam ser empreendidos. Contudo, a riqueza de toda a aprendizagem, a determinação que observei ao longo da minha vida em minha mãe, o apoio do meu marido Maciel, a compreensão dos meus filhos pequenos e a certeza que era este o caminho que queria trilhar me deram força para conseguir concluir com êxito esta etapa.

 

J.S.: Você debate muito sobre o tema idoso/diabete. Como foi realizar essa pesquisa ao longo dos anos e sua importância para a área da saúde?

D.M.S.T.:  Considero a pesquisa essencial no desenvolvimento da docência, pois é por meio dela que se avança no conhecimento científico e possibilita qualificar a formação profissional, além de contribuir com o desenvolvimento social. Desde o início da minha inserção na pesquisa científica, tive a preocupação de divulgar o conhecimento produzido. Tal fato está pautado no respeito e ética aos vários recursos (financeiro, capital intelectual, pessoas que participam, equipamentos, infra-estrutura, dentre outros) que são mobilizados para a condução das investigações. Ademais, considero que uma pesquisa somente estará concluída quando for divulgada e que os seus achados têm potencial para contribuir com o desenvolvimento social. Nesta perspectiva, ao longo da minha atividade acadêmica, tenho realizado esforços para que os resultados das investigações sejam publicados em revistas científicas de referência para a área.

Sou líder do Grupo de Pesquisa em Saúde Coletiva, cadastrado no DGP/CNPq em 2002. Seu objetivo é produzir conhecimentos através de pesquisas científicas na área de saúde coletiva e da saúde do idoso e preparar recursos humanos com capacidade de atuar de forma contextualizada, resolutiva e crítica nos agravos à saúde das populações, propiciando visão crítica e renovadora das relações interdisciplinares e intersetoriais no âmbito da saúde.

Desta forma, tive o primeiro projeto de pesquisa financiado em 2005, somando 11 ao longo do tempo. Tais projetos contribuíram para orientação de iniciação científica, trabalhos de conclusão de Curso, mestrados e doutorados, somando mais de 100 artigos publicados. Além disto, tenho Bolsa de Produtividade em Pesquisa ofertada pelo CNPq que é destinada a pesquisadores que se destacam entre seus pares, valorizando a produção científica.

J.S.: Falando em Educação Superior, como você avalia a atual situação das universidades federais atualmente?
D.M.S.T.:  As Universidades vêm enfrentando diversos desafios, dentre eles, a qualificação profissional, a produção do conhecimento que impacte positivamente para a sociedade, a contribuição com o desenvolvimento social, além da necessidade de recursos financeiros para atender a expansão ocorrida nos últimos anos. Acredito que a responsabilidade com o bem público, a preservação da autonomia universitária, os mecanismos de controle de gestão, o planejamento, a excelência na formação, dentre outras estratégias, poderão contribuir, ao longo do tempo, para a superação dos desafios.

J.S.: E da Saúde?
D.M.S.T.:  Acredito que Sistema Único de Saúde deve ser fortalecido, de forma que a população, efetivamente, tenha acesso aos serviços de saúde com qualidade.

J.S.: Qual mensagem você deixa para àqueles que pretendem construir uma carreira acadêmica ou estão nesse processo?
D.M.S.T.:  Minha mensagem é que se dediquem muito, sejam resilientes, busquem sempre as informações na fonte, façam análise crítica nas leituras, sejam propositivos, respeitem os colegas e se valorizem, pois todo ser humano é capaz.

J.S.: Qual o balanço que você faz dessa trajetória até agora?
D.M.S.T.:  Faço um balanço positivo da minha da minha vida profissional, pois com muito trabalho e dedicação galguei os espaços no ensino, na pesquisa, na extensão universitária e na gestão, cumprindo com a minha missão na docência e na carreira de servidora pública.