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Paulina de Souza: Enfermeira e Mestre em Enfermagem, coordenadora de imunização

"Aprendi muito nesses anos todos e tenho espaço para aprender muito mais"
Por: João Oliveira | Categoria: Entretenimento | 15-03-2020 16:27 | 2855
Paulina é coordenadora do serviço de imunização de São Sebastião do Paraíso
Paulina é coordenadora do serviço de imunização de São Sebastião do Paraíso Foto: João Gustavo

A enfermeira e mestre em enfermagem, Paulina de Souza, também coordenadora do programa de imunização do município, é uma profissional que, além de dedicar ao que faz, não esconde o amor que sente pelo trabalho e ressalta a seriedade e responsabilidade que é estar na coordenação de um dos processos mais importantes na vida do cidadão: a vacinação. Paulina percorreu um longo caminho para chegar hoje onde está, e é emocionada que ela ressalta o amor que sente pela profissão e pelo seu trabalho. Filha mais velha do casal Antônio de Souza e Maria Abadia de Souza, é casada com Francisco Tadeu de Assis, com quem formou sua família. É com carinho que ela recebe a reportagem do Jornal do Sudoeste e conta um pouco sobre sua vida e carreira.

Jornal do Sudoeste: Como foi a sua infância e o início da sua vida acadêmica?
P.S.: Minha família é daqui mesmo, somente meu pai que nasceu em Itamogi, mas veio muito jovem para Paraíso. Minha infância foi toda próxima à Santa Casa, no Jardim Independência onde morei até me casar há 19 anos.  Foi uma infância de muita liberdade, uma época em que as ruas não tinham calçamento e demorou muito tempo até que fossem calçadas. Íamos para a escola sozinhos, não tinha preocupação, ao contrário de hoje que os pais têm muito medo da violência urbana. Estudei no Noraldino Lima, ia e voltava sozinha.

Jornal do Sudoeste: Você era boa aluna? Qual matéria mais gostava na escola?
P.S.: Meus colegas de formação dizem que eu era excelente, mas não acredito nisto porque sou muito crítica comigo mesma. Tirava boas notas, sempre fui estudiosa, nunca repeti nenhuma série, mas nunca me considerei uma excelente aluna. Na época de escola não prestamos muita atenção no que se está vivenciando, mas depois de mais velha, na graduação e pós-graduação você olha para o passado e percebe o que gostava. Eu gostava muito de Língua Portuguesa, e tinha muita facilidade com Matemática, mas só fui perceber esse gostar pelo Português quando cheguei ao mestrado, foi quando vi a facilidade que tinha, e também tinha a matemática, nunca tive dificuldade com estatísticas, também gosto de História, Geografia, acho que não há nada que eu não goste. Quando vou viajar de férias, por exemplo, gosto de pesquisar a história, costumes, culinária e a geografia daquele lugar.

Jornal do Sudoeste: Como foi a fase escolar em Paraíso?
P.S.: O fundamental estudei no Noraldino Lima e no Clóvis Salgado, depois fiz o ensino médio na Escola Técnica de Comércio São Sebastião, que já foi extinta. Lá fiz o técnico em Contabilidade, nada a ver com a área que eu trabalho hoje. Quando terminei esse curso, até tentei trabalhar em um escritório de contabilidade, mas não me adaptei, era um serviço muito burocrático e eu também queria fazer um curso superior. No ano que terminei o ensino médio na “Escola do Padre”, no ano seguinte foi realizado vestibular para a formação da primeira turma de enfermagem da Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia de Passos (Feopa), hoje Faculdade de Enfermagem da Universidade Estadual de Minas Gerais. Tentei mesmo sabendo que não tinha conhecimento para aquela área. Na época, eu tinha saído do escritório de contabilidade e fui trabalhar na Santa Casa, onde tinha contato com os técnicos de enfermagem, os enfermeiros, e pensei que poderia ser aquilo que eu queria fazer. Passei no vestibular e o que me garantiu isso foi a redação, que já naquela época tinha um peso muito grande.

Jornal do Sudoeste: Sua faculdade era integral, como foi esse período?
P.S.: Durante um ano e meio eu ia e voltava, porque trabalhava na Santa Casa de Paraíso, mas o restante do curso tive que me mudar para Passos, porque começaram os estágios e, além disso, algumas aulas eu acabava perdendo quando estava morando aqui. Depois que me mudei, fiz um cadastro para conseguir um crédito educativo (muito parecido com o Fies), fui aprovada, pedi demissão da Santa Casa e me mudei para me dedicar à faculdade. Hoje lembramos com saudade, mas fui um período difícil dado as condições, mas era muito jovem e conheci muitas pessoas.

Jornal do Sudoeste: E depois de formada, como foi esse início?
P.S.: Depois de formada é que nos perguntamos o que fazer. Recordo-me que naquele ano abriu processo seletivo para residência para a área no Hospital Sarah Kubitschek, de Brasília, mas apenas uma colega nossa foi aprovada. Voltei para Paraíso e, naquela época, a Santa Casa não quis me contratar porque já tinha enfermeiro e eu compreendi, mas precisava dar um jeito, não podia ficar desempregada, então fui embora para Campinas onde meu pai tinha família. Lá distribuí diversos currículos nos hospitais da cidade. Eu tinha uma amiga lá, cuja irmã trabalhava no Hospital Irmãos Penteado, que trabalhava no setor de eletroencefalografia e precisava de mais alguém. Não era área da enfermagem, mas eu queria trabalhar e tive que aprender. Pouco tempo depois a Maternidade de Campinas me chamou para trabalhar na supervisão noturna, aí sim comecei de fato a minha carreira. Não tinha nenhuma experiência, deixei isso claro na entrevista, mas confiaram em mim.

Jornal do Sudoeste: Houve uma reviravolta nesse processo, como foi isso?
P.S.: Foi aberto novamente processo seletivo para o Sarah Kubitschek, estava determinada a ir para Brasília. Prestei e desta vez consegui passar e me mudei. Lá fiz a residência em ortopedia e neurologia, bem diferente da área de obstetrícia e ginecologia que eu trabalhava até então. Foi uma experiência muito interessante, aprendi muito, mas não fiquei muito tempo. Naquela época, em plena residência, tudo caminhando, recebendo um bom salário, tinha moradia, os funcionários do Hospital resolveram entrar em greve e nós, residentes, também aderimos à greve em apoio aos funcionários. Nesse meio tempo ficamos sabendo que teria concurso para a Fundação Hospitalar do Distrito Federal, que fica em frente ao Sarah. Todos nós, que estávamos em greve, prestamos e passamos, inclusive a coordenadora da residência que também estava em greve. Ela começou a coordenar uma ala desse Hospital e chamou todos nós. Foi uma festa. Desliguei-me da residência e fui trabalhar como funcionária efetiva da Fundação Hospitalar, onde trabalhei na área de clinica médica com neurologia, mas não sabia nada de clínica médica, embora tivesse uma noção de neurologia. Tive que estudar e aprender. Nunca vi tanta gente boa em um só lugar, aprendi muito naquela fase.

Jornal do Sudoeste: Como foi o seu retorno a Paraíso?
P.S.: Eu gostava muito do Hospital de Base, mas certo dia voltei a Paraíso para passar o Dia das Mães, em maio de 1986, e fiquei sabendo que havia inscrição para o concurso da Fundação Ezequiel Dias (Funed), que tinha que fazer em Passos. Assim, fiz minha inscrição e fui embora. Em Brasília, fui à Biblioteca do Ministério da Saúde com a relação do material que eu precisava, era Saúde Pública e não entendia muito, e estudei. Vim, fiz a prova em Passos. Só havia uma vaga para Paraíso e passei em primeiro lugar. Pedi demissão de onde eu estava, cumpri aviso, fiz tudo o que eu precisava, organizei minha mudança e em novembro de 1986 tomei posse e vim trabalhar com Saúde Pública, com vacinação. Aposentei neste cargo aqui.

Jornal do Sudoeste: Você também é concursada pela Prefeitura?
P.S.: Sim, prestei três vezes e mesmo tendo sido aprovada nas duas primeiras vezes eu não podia assumir porque o mesmo funcionário não poderia ter vínculo com o estado e município. Com a reforma constitucional de 88 isso mudou. Prestei novamente em 2007, já não havia nenhum impedimento, e assumi. Porém, quando vim em 86 e comecei a trabalhar no Posto de Saúde, fui chamada pela Santa Casa, lá fui recebida de braços abertos. Conciliava o Posto com a Santa Casa.

Jornal do Sudoeste: Você também deu aulas?
P.S.: Sim. A Santa Casa tinha a escola de Enfermagem, que fechou em 2012. Os funcionários da Escola eram funcionários da Hospital. Na época fui convidada pelo diretor do Hospital para trabalhar na secretaria da Escola, passado um tempo comecei como funcionária até me tornar professora. Lá fiquei 27 anos. Nesse meio também trabalhei na Fundação Gedor Silveira e essa experiência também me ajudou muito nas aulas. Parei quando fechou a escola e os últimos sete anos de funcionamento estive à frente da Escola, na direção.

Jornal do Sudoeste: Você também fez pós-graduação e também é mestre. Como foi esse processo?
P.S.: Eu fiz pós-graduação em Saúde Pública em função da Sala de Vacinação, que era com o que eu trabalhava, pela Fundação São Camilo. Já minha segunda especialização foi voltada para a Didática e Ensino de Enfermagem, era à distância e foi a primeira fez que fiz um curso assim, foi muito difícil, é preciso um programa rígido de estudo. Esse curso foi oferecido pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Eu fiquei apaixonada. Depois fiz o mestrado, que era um sonho e queria fazer algo com relação à minha área de trabalho, e fiz em Saúde Pública. Fiz uma pesquisa e optei pelo mestrado em promoção da Saúde na Unifran. Foi uma experiência maravilhosa. Gostei muito de ter feito. Não é fácil, mas é muito gratificante.

Jornal do Sudoeste: como foi o seu processo de pesquisa?
P.S.: Minha pesquisa foi voltada para as Unidades de Saúde da Família, sobre o destino desse lixo gerado pelas unidades, para saber o que eles entendiam sobresse lixo, se sabia o que acontecia com esse material. Minha dissertação foi com base nesses questionamentos. Eu gostei muito de ter feito o mestrado.

Jornal do Sudoeste: Você está na coordenação da vacinação no município há quanto tempo?
P.S.: Eu sempre coordenei a vacinação em Paraíso, mas aqui no Posto de Puericultura estou, em definitivo,  desde 2011. Quando passei no concurso, em 2007, eu fui trabalhar na UPA no período noturno, porque naquela época estava na Ampara e não conseguia conciliar as duas coisas. Além disso, eu ainda precisava trabalhar as 4 horas do Estado, que fiz durante os finais de semana porque durante a semana trabalhava na prefeitura, na Ampara e ainda estava na Escola de Enfermagem.  Assim, aos finais de semana ficava de prontidão para investigar casos de dengue, fui a “menina da dengue” durante muito tempo e também dava palestras. Colaborava com a Endemia. Trabalhei muito tempo com o Gustavo Bernardino, já falecido. Fiquei fazendo isto até me aposentar em 2017 deste cargo que eu tinha no Estado.

Jornal do Sudoeste: qual o balanço que você faz dessa trajetória?
P.S.: Quando comecei era uma menina, tinha 21 anos quando me formei e aprendi muito nesses anos todos e tenho espaço para aprender muito mais. Gosto muito do que eu faço e, além da vacinação, o ensino também era outra grande paixão que eu tinha. Hoje me dedico totalmente ao Posto de Puericultura, mas sempre que sou convidada para ministrar alguma palestra, eu vou. Hoje estou na coordenação do serviço de imunização do município, mas não fico apenas na coordenação, gosto muito da prática também. Tenho uma equipe muito competente, e aqui não existe uma mão que faz tudo, é um serviço que é feito pela equipe. Muitas crianças que eu vacinei hoje são pais e trazem seus filhos. Eu sou apaixonada por isso.